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“Music Complete” alia a tristeza à Joy Division às batidas modernas. | Reprodução
“Music Complete” alia a tristeza à Joy Division às batidas modernas.| Foto: Reprodução

O New Order sempre foi uma banda meio paradoxal. Para começar, nasceu de uma morte – o suicídio de Ian Curtis (1980), vocalista do Joy Division, expoente do pós-punk britânico. Remanescentes, Bernard Sumner (guitarra, teclados e, a partir de então, voz), Peter Hook (baixo) e Stephen Morris (bateria) recrutaram a namorada deste último, Gillian Gilbert (teclados), e estabeleceram a nova ordem: paulatinamente, a sonoridade soturna foi cedendo espaço a uma mistura de rock e eletrônica. Sob influência de Kraftwerk e Giorgio Moroder, o grupo da cidade de Manchester trocou as sombras pelas luzes das boates. Mas, enquanto as batidas de “Everything’s Gone Green” e “Blue Monday” convidavam para a dança, as letras exprimiam angústia.

O novo paradoxo é que, no seu primeiro disco sem Hook (ele e Sumner brigaram em 2007), o cara que dava a assinatura musical da banda – o baixo melódico e agudo, empunhado na altura dos joelhos –, o New Order realizou seu melhor e mais dançante trabalho desde Technique (1989).

“Music Complete”, o título, tem um sentido quantitativo – fazia 10 anos que o grupo não entrava em estúdio, desde “Waiting for the Siren’s Call”, que originou o disco de sobras”Lost Sirens” (2013) – e outro qualitativo: as músicas estão, de fato, completas, bem trabalhadas, extensas (nove das 11 faixas têm duração superior a cinco minutos), cheias de texturas, mudanças no ritmo, com uma variedade de instrumentos e efeitos. Essa riqueza joga para o devido segundo plano os versos de Sumner, que nunca foi um grande letrista, mas ainda capaz de oferecer alguns refrões memoráveis – vide “Superheated”, dueto apoteótico e açucarado com Brandon Flowers, um dos convidados especiais.

O baixista Tom Chapman emula seu antecessor em canções como “Restless”, mas, sem Hook, o New Order se permitiu experimentar. “People on the High Line”, por exemplo, funde baixo e guitarra do funk dos anos 1970 com o piano matador da house italiana dos anos 90. A Itália, mais precisamente Giorgio Moroder, é forte influência, como se ouve em “Tutti Frutti” e na arrasadora Plastic, cuja harmonia hipnótica evoca “I Feel Love”, parceria do produtor italiano com Donna Summer.

Timidez e transe triste contrastam com beats “sacolejantes”

“Music Complete”, o novo disco do New Order, é como se Sumner, Morris e Gilbert retomassem as raízes da banda, porém com roupagem contemporânea.

O New Order primitivo – de “Ecstasy’ e “Video 586” – viaja ao futuro em “Unlearn this Hatred”. Singularity constrói uma ponte mais longa em direção ao passado.

Sua introdução sinistra caberia perfeitamente em um disco do Joy Division, com baixo e bateria em um transe triste.

Mas aí, como a lembrar que eles se chamam New Order, entram os beats sacolejantes, os sintetizadores pulsantes, a voz suave e um pouco desafinada de Sumner.

Dança

A propósito: a tibiez e timidez de Sumner emprestam aos versos uma espécie de verdade. Dançar parece ser mesmo o jeito de reverenciar “todas as almas perdidas que não conseguiram voltar para casa” citadas no refrão.

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