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Thom Pain – Lady Grey estreia em São Paulo, na temporada de comemoração dos 15 anos da Sutil Companhia. |
Thom Pain – Lady Grey estreia em São Paulo, na temporada de comemoração dos 15 anos da Sutil Companhia.| Foto:

"Quando é que vocês vêm a Curitiba?" é a pergunta que o diretor Felipe Hirsch ouve insistentemente. E com motivo. Há algum tempo a Sutil Companhia não se descortina diante dos curitibanos. Mais precisamente, desde que Thom Pain – Lady Grey estreou no Festival de Curitiba de 2007.

Daquele mês de março para cá, o grupo estabelecido em São Paulo vem colecionando aplausos e elogios da crítica. Fez uma temporada bem-sucedida de A Educação Sentimental do Vampiro, sobre o universo do contista Dalton Trevisan, e foi aclamado pela plasticidade – entre outros atributos – de Não sobre o Amor. Nenhuma chegou a descer a BR-116.

Agora, ao comemorar uma trajetória sólida de 15 anos de sucesso, com 24 espetáculos concebidos, 20 indicações ao Prêmio Shell, a conquista recente do Prêmio Bravo!, e, mais importante, o respeito do público e dos artistas, a Sutil adota o Teatro do Sesi, na Avenida Paulista, como palco. Sobre o qual realiza uma mostra de repertório de longa duração(até 5 de abril), iniciada na última quarta-feira (3).

Em São Paulo, repita-se. Seguindo para Brasília, Rio de Janeiro, Espanha, Portugal e Alemanha. Receberam até mesmo um convite de João Pessoa. E para Curitiba, quando vêm?

"Ninguém me convida para vir a Curitiba", queixa-se Hirsch, aparentando desesperança. Ele que, ao lado do amigo Guilherme Weber, nunca se esquece de exaltar a cidade. Em cada entrevista que dão à imprensa nacional, os dois reafirmam suas raízes sulistas e a necessidade "criativa" de voltar ao berço, para alimentar o que chamam de "estética do frio". Mas não conseguem mostrar o produto da inspiração aos habitantes do lugar de onde ela surge.

O entrave é a falta de apoio – já que é difícil um espetáculo se sustentar só de bilheteria. "Nunca recebemos nada da prefeitura ou do governo do Paraná. Nem de nenhuma empresa local. Em Minas Gerais, o Galpão e o Corpo têm apoio. Mas o programa de cultura em Curitiba distribui [a verba] entre todos os grupos medíocres da cidade e não privilegia quem faz um trabalho de qualidade há 15 anos – e mesmo esses grupos locais não recebem tanto dinheiro. Cada vez que abro a Gazeta do Povo, a programação de teatro é mais medíocre."

E alerta: "Ninguém aguenta ser tão ignorado".

Sem som nem fúria

A atual temporada prolongada em São Paulo é encarada como uma grande conquista, rara. Três dos maiores sucessos da história da Sutil haviam sido eleitos para compor a grade: as cenas urbanas inspirada nas HQs de Will Eisner, de Avenida Dropsie; a supracitada Não sobre o Amor; e A Vida É Cheia de Som e Fúria, montagem que projetou nacionalmente o grupo, em 2000.

No fim das contas, foi impossível manter os planos. Esbarraram em problemas relacionados a direitos autoriais. Os de Alta Fidelidade, o popular livro de Nick Hornby (estrelado no cinema por John Cusack) do qual a peça é uma adaptação, foram vendidos em 2006 para um fracassado musical da Broadway, cancelado após 14 apresentações.

A Sutil e o grupo norte-americano não conseguiram entrar em acordo a tempo, mas Hirsch acredita que no futuro as negociações permitirão que A Vida... volte ao cartaz.

No lugar de Rob Flemming e suas listas, entraram em cena no Sesi Lady Grey e Thom Pain, em sua estreia paulista – além de Curitiba, a peça só havia sido mostrada no Porto Alegre Em Cena.

Fernanda Montenegro

Ainda em fase de ensaios, o próximo projeto da Sutil deve estrear em abril no Rio de Janeiro. E será mais uma comprovação do prestígio desfrutado: um monólogo estrelado por Fernanda Montenegro. "A Fernanda assiste à Sutil desde 2000, é fã", diz o diretor. Pouco delineada até o momento, a montagem se baseia em cartas enviadas por Simone de Beauvoir a Jean-Paul Sartre. Um tema eleito pensando na atriz. "Queria que fosse ligado à história emocional dela."

Enquanto parece remota a chance de ver essa ou qualquer outra obra da Sutil por aqui, o consolo será assistir ao trabalho de Felipe Hirsch nas telas de cinema, em Insolação.

Com roteiro escrito em parceria com Daniela Thomas e Will Eno, a obra retrata o despertar da paixão em uma cidade esquecida, onde algumas histórias de pessoas que vivem o ápice do sentimento se cruzam. Foi filmado em Brasília, com os atores Leonardo Medeiros, seu filho Antônio Medeiros, Simone Spoladore, André Frateschi e Paulo José no elenco principal.

Há ainda um "véu" sobre o filme. Jornais foram proibidos de acompanhar as filmagens, imagens de cenas não são liberadas, tudo a pedido da produção. "O acordo foi de não ter imprensa, porque as filmagens são complexas", diz o diretor.

Insolação começa a ser editado em março e Hirsch acredita que em maio estará pronto para os ajustes de som. Trata-se de uma corrida contra o tempo. O prazo final almejado é agosto, a tempo de lançar o longa-metragem no Festival de Veneza. Nada confirmado ainda.

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