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A temporada cultural chegou ao fim e, bem ou mal, foi marcada por personagens que não saíram do noticiário. Alguns deles, inclusive, desfilaram pela imprensa internacional, provando que 2005 foi o ano em que, definitivamente, fizemos contato.

A começar pelo "ministrartista" Gilberto Gil, figura central do controvertido Ano do Brasil na França. Hábil em divulgar a cultura do país pelo mundo, em viagens que misturam cantoria e diplomacia, Gil foi a "cara" das comemorações. Mas recebeu uma saraivada de críticas por conta do clima de trem da alegria da viagem, cuja tripulação era formada basicamente pela panelinha da MPB (Lenine, Daniela Mercury, Gal Costa...). Para piorar, os próprios franceses sentiram falta de novidades na programação, indagando se a produção cultural brasileira se limitava a manifestações "folclorizadas" – para não dizer exóticas.

Mais bonito fez o cineasta Fernando Meirelles. Indicado ao Oscar de melhor diretor em 2004, por Cidade de Deus, Meirelles realizou este ano seu primeiro longa internacional. O Jardineiro Fiel, estrelado pelo ator britânico Ralph Fiennes, foi elogiado pela crítica e fez boa bilheteria ao redor do planeta. Não à toa, aparece em praticamente todas as listas de melhores filmes de 2005 e recebeu duas indicações ao Globo de Ouro (a prévia do Oscar). O conterrâneo Walter Salles, no entanto, não teve a mesma sorte. Seu Água Negra, remake de um terror japonês, apenas passou batido.

Ainda sobre cinema, o Brasil foi tomado pela febre de 2 Filhos de Francisco, o filme-evento inspirado na trajetória da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano. Os fãs adoraram, a crítica reconheceu o esforço do diretor Breno Silveira e até quem não pisava há anos em uma sala escura resolveu conferir. Resultado: mais de 5 milhões de espectadores, número que fez do longa o mais assistido desde a retomada da produção cinematográfica nacional.

Da telona para a telinha, o ano começou com a consagração dos humoristas do Pânico, alçados do trash ao cult em questão de meses. O problema é que, de tanto gozar da cara das celebridades, a turma passou a receber empurrões e safanões por aí. E por falar em trash, não é que América, a novela mais louca de Glória Perez, emplacou? Após um início morno, a trama trocou de diretor (por ordem da autora) e se tornou a telelágrimas de maior audiência de todos os tempos. De quebra, revelou o talento – não necessariamente dramático – da jovem atriz Cléo Pires, responsável por roubar a cena da outrora queridinha Deborah Secco.

Promessa por promessa, melhor ficar com Carolina Oliveira, de 11 anos, e Douglas Silva, de 17. Os dois protagonizaram os programas mais elogiados do ano – Hoje é Dia de Maria e Cidade dos Homens, respectivamente – e foram indicados ao Emmy Internacional, a maior premiação da televisão mundial.

Música

No ano em que até medalhões como Chico Buarque e Gal Costa se transferiram para gravadoras independentes, o cenário musical foi dominado por uma cantora de voz grave e nada econômica. Ana Carolina não só chamou a atenção pela quantidade de discos vendidos (sua coletânea Perfil já ultrapassou a marca de 500 mil cópias comercializadas) como também por uma declaração, no mínimo, corajosa. Em entrevista à revista Veja, a intérprete mineira se declarou bissexual, encerrando a temporada como a personalidade mais comentada do show biz.

Como se não bastasse, Ana Carolina lançou um álbum em dupla com o cantor e ator Seu Jorge. Este, aliás, não poderia ficar de fora da retrospectiva. Revelado para o mundo no já mencionado Cidade de Deus, o artista é cada vez mais solicitado para atuar em produções estrangeiras e realizar shows fora do país. Com o sucesso do CD Ana e Jorge Ao Vivo, Jorge tem tudo para fazer o caminho inverso e ser reconhecido também pelo grande público tupiniquim.

Mas o Brasil é a terra das cantoras, e uma delas ganhou destaque negativo graças à estratégia de marketing de sua gravadora. Para divulgar o novo álbum de Maria Rita, a Warner Music brindou uma dezena de críticos cariocas e paulistanos com tocadores de MP3 da marca iPod, uma espécie de walkman de música digital. Pegou mal. Alguns jornalistas devolveram o presente (carregado com as faixas do CD), enquanto outros fizeram barulho na mídia acusando a companhia de praticar "jabá". Propina ou não, a traquitana acabou ofuscando o lançamento do disco – que, diga-se de passagem, é apenas regular.

Ainda há de se destacar nomes como as cantoras baianas Ivete Sangalo e Pitty, a diva Fernanda Montenegro (de volta às novelas em Belíssima) e o trio de atores do filme Cidade Baixa (Wagner Moura, Lázaro Ramos e Alice Braga). Sem contar o batalhão de artistas independentes que alimentou a cena cultural longe dos holofotes – com o falastrão Lobão como porta-voz. Que 2006 lhes ofereça um lugar melhor ao sol.

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