
A única formalidade que o norueguês Sebastian Uul se permite é fazer uma mesura, levantando o chapéu rapidamente, ao cumprimentar alguém. Endereço fixo, telefone ou horários marcados, nem pensar. Há cinco anos viajando "só por uma parte do mundo", como gosta de frisar, o homem-banda Mr. Orkester passou por Curitiba em janeiro e fez do calçadão da Rua XV de Novembro seu palco por uma semana. Postaram um vídeo de sua apresentação no YouTube e ele virou uma espécie de viral. Depois de se apresentar em São Paulo, ter um ataque de sinusite no Uruguai, voltar para Curitiba, se recuperar e passear mais um pouco pela América do Sul, ele volta à cidade para se apresentar amanhã, no Bar Wonka (veja o serviço completo do show no Guia Gazeta do Povo).
VÍDEO: Assista a uma performance de Mr. Orkester
Ele não dirá a sua idade, qual sua cidade de origem ou o próximo destino. Sebastian é o que costumam chamar de "espírito livre": suas regras, ritmo e vontades ditam seu estilo de vida. Nas ruas, aprendeu a falar inglês, espanhol, portunhol e alemão e que, tanto na Europa quanto na América, as pessoas sofrem de mau humor às segundas-feiras e não dão moedas. Diz ter deixado sua carroça sim, uma carroça, com rodas de madeira e calefação, "como as dos ciganos" estacionada em alguma rua de Oslo, capital da Noruega, e que nunca teve um emprego convencional. Com o cachê de um show na Noruega, começou a viagem. Gasta com comida e estadia o que ganha tocando nas ruas. Geralmente, o repertório é composto por três a cinco músicas e ele não define quantos shows fará por dia. Quando está doente, por exemplo, nem tira a palheta do bolso. Ter ficado famoso ainda que na internet não era um plano.
Destino
Sua performance tem ares de clown: a voz passa de rouca para aguda no mesmo verso, sem intervalo entre uma música e outra e ele toca simultaneamente pelo menos três instrumentos. Lá por 2008, descobriu "o instrumento mais fácil do mundo", ao qual dá o mérito de chamar tanta atenção. O kazoo é um instrumento de sopro com uma membrana vibratória. É o que faz aquele barulho esquisito que os Beatles usam em "Lovely Rita". Sebastian acredita que ele seja mais do que um chamariz para moedas: a palavra faz um trocadilho perfeito para "kazooalidade", outra coisa que o "encanta".
Saiu carregando bumbo e violão pela Europa porque desistiu da faculdade de Filosofia. "Eu queria saber como era ter fome. Nunca sabia [sic] como era ter que dormir fora. E essas coisas. E pensava: se não faço nenhuma moeda, não me importo."
Seu português escorrega no pretérito perfeito sem querer, talvez porque sua viagem ainda esteja no início e ele não considere que a aventura tenha um fim. A decisão do percurso ele deixa para as casualidades. Uma única regra o guia: sempre dizer sim aos convites feitos na rua, mesmo que ele não saiba o que o aguarda depois. É sua maneira de estar disponível para a serendipidade e chegar aonde quer, um lugar que nem ele sabe onde fica.



