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Em outubro de 1997, um grupo de quadrinhistas deu um novo herói a Curitiba. Era um jovem estudante que descobria sua vocação para combater o mal. Dotado de um bico longo e fino e uma capa azul, o personagem satirizava o universo dos super-heróis de quadrinhos e combatia as forças nefastas dos vilões locais, como Café Expresso, Biscuí do Mato e Doutor Botânico, entre outros. Os personagens ganharam páginas de gibis e dos jornais, inclusive da Gazeta do Povo, e foram transpostos para o cinema em 2001, por iniciativa do cartunista Tako X e da turma de entusiastas de um curso de extensão de cinema da Faculdade de Artes do Paraná (FAP), ministrado pela cineasta Tizuka Yamasaki (que atualmente finaliza o longa Gaijin – Ama-Me como Sou).

A produção aproximou cerca de 20 pessoas que, após a experiência bem-sucedida, levou o projeto adiante, abrindo a Cooperativa Cinematográfica Photon Filmes. A idéia era buscar novos mecanismos de produção de audiovisual no Paraná, a partir de uma visão "mais empresarial". "Um dos benefícios foi a possibilidade dos cooperados emitirem nota fiscal para aqueles que investissem nas produções", explica o atual presidente da entidade, Guilherme Glück Camargo.

Outro benefício permite que os integrantes inscrevam os projetos nas leis de incentivo à cultura em nome da pessoa jurídica da cooperativa. "Quando se trata de pessoa física, as comissões da lei analisam o currículo dos inscritos, mas, no Paraná, a atividade audiovisual é lenta e, por isso, torna-se difícil montar um currículo forte. Se você inscreve uma cooperativa, o que conta é todo o histórico de trabalho agregado a ela, o que melhora as chances", explica Camargo.

Dificuldades

Em 2004, dois projetos da Photon – para o curta-metragem Logo ao Lado e o média Veraz – foram aprovados para receber os benefícios da lei federal de incentivo à cultura (Lei Rouanet). O dispositivo permite que as empresas invistam em projetos culturais por meio de renúncia fiscal, ou seja, a parte aplicada em um projeto é descontada do imposto de renda. Porém, até o fim do ano passado, a cooperativa não conseguiu encontrar empresas interessadas. "Pedimos a prorrogação do prazo de captação, previsto pela lei, e agora temos até o fim de 2005 ano para captar esses dois projetos", declara o presidente da Photon.

A principal dificuldade é contornar a resistência do empresariado local, que, segundo Camargo, desconhece ou teme apoiar esse tipo de iniciativa. "Há a figura do contador, que evita os projetos, porque acha o processo difícil e burocrático demais. Também tem o lado das presidências das empresas, que têm medo de abrir as contas e assumir a quantia que estão aplicando, com medo de que o governo federal fique em cima de suas receitas. As empresas têm desconfiança, têm medo", conta o cooperado.

Para Guilherme Greca Marchesi, que dirigiu pela Photon os curtas-metragens O Rebelde a Caráter e Num Milésimo de Segundo, "é mais fácil fazer um trabalho independente, como O Gralha – Ovo ou a Galinha, do que fazer o trabalho por meio de leis de incentivo", que exige, segundo o cineasta, muita estrutura administrativa e trabalho burocrático.

A outra ponta do processo são as limitações enfrentadas para a distribuição. Além da renúncia fiscal, a Lei Rouanet também prevê a divulgação da marca do investidor no filme apoiado. "A gente é obrigado a colocar no filme o logo da empresa. No entanto, a marca vai ser vista se o filme for exibido. Mas exibir onde?", indaga Greca.

Quase a totalidade das salas do Paraná está vinculada às grandes redes distribuidoras, à exceção dos cinemas da Fundação Cultural de Curitiba. "Nos estamos criando um sistema de venda direta pela internet. Também doamos DVDs para algumas locadoras locais para aluguel, mas não temos nenhuma participação no lucro", afirma o cooperado.

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