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Comédia e drama

Noite de Reis se passa em Illyria, ilha inventada por Shakespeare. Lá, vive o duque Orsino, apaixonado pela condessa Olívia. Mas ele não tem coragem de se declarar para a jovem e contrata uma moça que se faz passar por homem para fazer a corte em seu lugar. O problema é que Olívia se apaixona pelo "mensageiro", que na verdade é mulher e ama Orsino.

Na atualização de Verissimo em A Décima Segunda Noite (título mais próximo do original, Twelfth Night), Illyria vira um salão de beleza em Paris e Orsino é seu dono. Apaixonado pela cliente Olívia, Orsino pede que César, seu empregado, fale bem dele para a mulher. Mas César é na verdade a brasileira Violeta, que imigrou para Paris e precisava de emprego. Sem muitas opções, ela decidiu se travestir porque Orsino só contratava homens em seu salão.

Quem conta toda essa história, que mistura drama, comédia e tragédia, é o papagaio Henri, apaixonado por Violeta, a quem foi dado de presente por Negra, outra brasileira.

Um dos escritores mais adorados pelos brasileiros, Luis Fernando Verissimo está com um livro na praça. Em A Décima Segunda Noite (152 págs., R$ 28,90), segundo título da coleção Devorando Shakespeare da Objetiva, o escritor gaúcho apresenta uma história inspirada na peça Noite de Reis. A tragicomédia do bardo inglês foi transposta para os dias de hoje, em Paris, tendo como protagonista um espirituoso e divertido papagaio, que cita com facilidade de John Lennon a Kierkegaard.

Verissimo escreve o livro de forma pouco convencional, com os capítulos sem parágrafos, para representar a prosa de fôlego longo do papagaio Henri, que divaga sobre diversos assuntos enquanto conta toda a trama envolvendo os personagens Orsino, Olívia e Violeta (veja quadro ao lado) para estudantes que o estão entrevistando.

Em entrevista por e-mail ao Caderno G, Verissimo conversa sobre diferentes temas, de Shakespeare ao Internacional, time de coração e campeão do mundo, passando também por sua paixão por Paris, a banda Jazz 6 e o presidente Lula.

Caderno G – Você é fã de Shakespeare? Qual de suas obras gosta mais? Tinha outras opções de texto para adaptar para coleção, fora Noite de Reis?

Luis Fernando Verissimo – Sou um fã meio relapso. Li trechos de Shakespeare. Peças completas, que eu me lembre, só Hamlet, Rei Lear, Julio Cesar e A Tempestade. A opção desde o começo foi Noite de Reis.

A legenda de uma foto sua no livro fala de sua fascinação por Paris? Quando e por que ela começou? Viaja sempre para a cidade-luz? De que outras cidades do mundo também gosta?

Conheci Paris em 1959, junto com meus pais, e tenho voltado sempre que posso. Em 1990 passei um ano lá, com a família. Já fui muito nova-iorqueiro, e gosto muito de Roma e de Londres, mas Paris é a preferida.

Como surgiu a idéia do papagaio como narrador do livro?

A idéia de um bicho narrando a história não é nova. Tem até um romance em que o narrador é uma samambaia. No caso, gostei de brincar com a idéia de um papagaio, símbolo tropical, afrancesado.

Você já participou de diversas coleções temáticas, como a dos cinco dedos. É mais fácil ou difícil escrever por encomenda, com um tema já definido? Concorda em seguir algum parâmetro definido pelas editoras para o tema, ou trabalha com total independência?

Acho que a origem do livro não tem muita importância, interessa se ele é bom ou não. O tema dado representa um desafio. Mas a editora só propõe o tema, o resto é com o autor, cuja independência é total.

Um texto do jornal O Globo, publicado com uma entrevista sua pouco antes de completar 70 anos, dizia que você estava um tanto apavorado por chegar a essa idade. Como foi o aniversário? Está mais tranqüilo com a idéia de ter chegado aos 70 anos? Alguma coisa mudou?

Só há uma maneira de evitar a velhice, e não gosto da alternativa. Na verdade, nada mudou muito. Ainda faço tudo que fazia aos 35, só que pela metade.

Está trabalhando em um novo livro atualmente?

No momento, não. Está para sair um livro das histórias do Analista de Bagé em quadrinhos que eram publicados pela Playboy com texto meu e desenhos do Edgar Vasques.

Ed Mort já chegou ao cinema. Acha que algum outro personagem seu ou outras histórias suas poderiam chegar à tela grande? Recebe muitos pedidos de adaptação de suas obras para o cinema?

Tem um brasileiro em Roma interessado em filmar O Clube dos Anjos. Os pedidos de adaptação são geralmente para curta-metragens, e já foram feitos alguns.

O que espera de mais um governo Lula? E do Rio Grande, que pela primeira vez será governado por uma mulher? Gostou da administração do Gil no Ministério da Cultura? Apóia sua continuidade na pasta?

O Lula decepcionou a esquerda e a direita. A esquerda porque não foi suficientemente revolucionário e a direita porque não foi um fracasso total. Acho que vai continuar sendo isto. O Rio Grande do Sul tem uma tradição de ser anticonvencional: elegeu o Olívio Dutra quando ninguém esperava um governo do PT, elegeu um governador negro, agora uma mulher, só para contrariar a fama de machismo. Quanto ao Gil, só posso dar uma opinião impressionista. Minha impressão é que está indo bem.

Como está o trabalho com o Jazz 6? Alguma novidade, shows?

O Jazz 6 continua firme. Perdeu um dos seus componentes e agora se apresenta como o menor sexteto do mundo. Em fevereiro vamos participar de um festival de Jazz em Fortaleza, e estamos aceitando convites

Não há como não falar do Internacional. Como foi a emoção de ver o time conquistando o mundial? Está pensando no bi da Libertadores e do Mundial? E se houver um Gre-Nal na Libertadores?

Para um torcedor antigo como eu, do tempo em que as nossas glórias eram só estaduais, ser campeão do mundo é um sonho do qual eu estou tentando não acordar. Tenho muitos amigos gremistas e respeito a mágoa deles. Acho que seremos bi-mundiais. E o primeiro Gre-Nal deste ano será uma espécie de campeonato mundial particular.

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