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São Paulo – Quem esteve na segunda-feira no estádio do Morumbi ou viu pela televisão vai confirmar: a primeira apresentação do U2 no Brasil em 2006 foi impecável, daquelas que entram para a história dos shows internacionais no país. Junto com o apoteótico evento do Rolling Stones na praia de Copacabana no sábado, os espetáculos do quarteto irlandês – que ainda faria um segundo show ontem à noite na capital paulista – completam uma semana de sonho para quem aprecia o bom e ainda vivo rock-and-roll.

Bono (voz), The Edge (guitarra), Adam Clayton (baixo) e Larry Muellen (bateria) trouxeram ao Brasil a turnê Vertigo, baseada no álbum How to Dismantle an Atomic Bomb, lançado em 2004. Mesclando algumas músicas novas a grandes sucessos da carreira, o U2 levantou a platéia no estádio (de mais de 70 mil pessoas) desde o início do show com "City of Blinding Lights" e "Vertigo" (ambas do último álbum) e "Elevation" (de All That You Can’t Leave Behind, de 2000). Na seqüência, foram poucos momentos em que a banda deixou alguém ficar sentado e parado.

O som estava límpido e perfeito (ao contrário do show de abertura do Franz Ferdinand, leia matéria abaixo) e o telão gigante no meio da grande estrutura montada impressionava com desenhos e animações, além de imagens dos integrantes da banda – só os quatro estavam no palco, não havia músicos de apoio. Outros dois telões menores (mas com definição de imagem muito superior ao telão maior), localizados bem no alto, à direita e à esquerda da estrutura, focalizam individualmente Bono, The Edge, Adam e Larry. A passarela em frente ao palco, menor do que de costume, foi pouco utilizada, ao contrário de outros shows da turnê.

Fica difícil escolher a parte mais emocionante da apresentação, que teve vários momentos especiais para o público brasileiro. A lista começa com Bono falando várias frases em português depois de "New Year’s Day (do álbum War, de 1983). "Copa do Mundo. Mas será hexa? O U2 é irlandês, mas Deus é brasileiro", disse o vocalista, que em seguida emendou uma saudação aos estados brasileiros, citando Amapá, Santa Catarina e a Amazônia.

Ele cantou logo depois "I Still Haven’t Found (What I’m Looking For)" (de The Joshua Tree, de 1987), canção que tem aparecido poucas vezes no set list recente da banda. Ao final, puxou um coro de "Ai, ai, ai, tá chegando a hora", que foi respondido em uníssono pela audiência.

Em "Sunday Bloody Sunday" (War), Bono colocou uma faixa na cabeça em que estavam pintados os símbolos das três grandes religiões (católica, judaica e muçulmana). Mas, ao contrário do show registrado no mais recente DVD da banda, o vocalista não fica fazendo discursos políticos. A mensagem fica clara no telão, com a palavra COEXISTA escrita com o "c" fazendo referência aos muçulmanos, o "X" em forma da estrela de Davi (símbolo dos judeus) e o "t" em forma de cruz.

Em "Miss Sarajevo", outra tocada poucas vezes na turnê, Bono levanta o público ao também interpretar a parte da música que originalmente é cantada pelo tenor Luciano Pavarotti – e não faz feio nas partes mais difíceis. Em seguida, apareceram no telão alguns itens da Declaração Universal dos Direitos Humanos, escritos em português.

A segunda parte do show faz uma referência à Zoo TV, turnê realizada no início da década de 90 (dos CDs Achtung Baby e Zooropa), cheia de conceitos e ironias, fase que consolidou a imagem de poderosa instituição que a banda mantém até hoje.

Mini Zoo TV

Os telões mostram imagens do bonequinho da Zoo TV, de um grande Z e da sombra de Bono (pequena em um enorme fundo branco). Nesse momento, foram veiculadas imagens do jogador Ronaldo (o fenônemo) e um 6 seguido de interrogação (Copa do Mundo). Depois, apareceu a foto do presidente Lula (com quem Bono fez questão de se encontrar no domingo passado, em Brasília), o que resultou na segunda grande vaia no estádio – a primeira havia acontecido anteriormente, durante "Where the Streets Have no Name" (The Joshua Tree), quando o cantor falou Argentina, enquanto citava vários países latinos-americanos.

"Zoo Station", ‘The Fly" e "Mysterious Ways" foram interpretadas com uma profusão de imagens e palavras nos telões, assim como era na Zoo TV. Como sempre acontece nos shows desde aquela época, Bono puxou uma menina da platéia (leia quadro) para acompanhá-lo durante o hit "With or Without You".

No bis, a banda retomou How to Dismantle na Atomic Bomb, cantando "All Because of You" e "Original of the Species". Para finalizar, o grupo emendou "40", que tradicionalmente tem fechado as apresentações – a música é a mesma que fechou o último show da turnê Pop Mart no Brasil, em 1998, também no estádio do Morumbi, mas na época foi uma surpresa, pois não era interpretada há muito tempo.

O show de segunda-feira foi muito superior aos apresentados na Pop Mart. The Edge, Adam e Larry tocaram com a competência de sempre, abrindo espaço para Bono brilhar. O vocalista, que continua sendo o centro das atenções do grupo, estava perfeito. Não perdeu a voz em qualquer momento (como às vezes acontece em alguns shows recentes) e não se excedeu em seu discurso mais político. Hoje em dia, ele também se destaca na vida pública com ações sociais de alcance mundial, liderando um movimento que pede o perdão da dívida externa dos países pobres e tendo sido até indicado ao Prêmio Nobel da Paz. Um espetáculo para ficar guardado por muito tempo na lembrança, tanto para os mais fanáticos como para aqueles que não são grandes admiradores dos irlandeses.

O repórter viajou a convite da Claro, uma das patrocinadoras do evento.

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