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Para Fernanda Bruni, marchinha de carnaval lembra canção de ninar. "Minha mãe cantava ‘Lua, querem te passar para trás’ para eu dormir", comenta. Ela e a irmã Regina levaram os pais Carlos e Heloísa, já com 75 e 70 anos, para assistir à peça Sassaricando, que integrou a mostra oficial do Festival de Teatro de Curitiba. Eles trocaram o Rio de Janeiro pela capital paranaense há seis anos e durante quase duas horas puderam reviver o carioca way of life, com a brejeirice e a forma singular de levar a vida.

João de Barro, o Braguinha, que teria completado cem anos na semana que passou, é um dos músicos homenageados pelo espetáculo, uma costura cênica a partir de uma centena de marchinhas selecionadas. Soraya Ravenle, Eduardo Dussek, Sabrina Korgut, Juliana Diniz, Alfredo Del-Penho e Pedro Paulo Malta encarnam arlequins, pierrôs e outros personagens carnavalescos no musical.

Mas, além das pessoas que viajaram no tempo, houve quem prestasse atenção em questões técnicas. A musicista Rossana Cavallini ficou impressionada com o entrosamento entre os músicos da banda que acompanham os atores-cantores ao vivo. "É legal não ouvir só o que conhecemos, mas prestar atenção às músicas, que parecem novas. Acho que as marchinhas não são só cariocas, são brasileiras", avalia. "O espetáculo foi ótimo. E, de quebra, ainda deu para matar a saudade do Eduardo Dussek", arremata o professor Fábio Coelho.

A figura e a voz de Dussek personalizam o escracho das marchinhas – descompromissadas e que permitem rir dos outros e de si mesmo, licença especialmente concedida no carnaval. Em muitos casos, as letras viram esquetes de humor, como piadas prontas desconhecidas, que provocam gargalhadas e aplausos. A peça é praticamente interativa. O público se mexe, canta e conversa durante todo o espetáculo. Os comentários sempre giram sobre a ingenuidade inteligente das letras e a voz impressionante dos intérpretes e partem de espectadores que descobrem abandonadas em algum compartimento da memória as letras perdidas ou, então, que se concentram em prestar atenção ao que parecia novidade – mesmo se tratando de músicas que animaram salões entre os anos 20 e 70.

"É um estilo de peça que atinge a todos, porque é mais fácil se comunicar com o público através da música", acredita Regina Bruni. Sassaricando é um musical onde voz se sobressai à interpretação e à dança. Tanto que a certa altura Dussek até faz questão de mostrar que não leva o mínimo jeito para o sapateado, provocando risadas na platéia ao parecer uma lombriga se debatendo. "Os bailes que eu ia no interior de São Paulo, há uns 20 anos, eram bem assim. Até terminavam com a mesma música. Quando tocava 'Cidade Maravi-lhosa' a gente sabia que tinha acabado. Hoje eu não sei mais como é", comenta o engenheiro André Perrone.

Sucesso no Rio de Janeiro, onde estreou há dois meses, a peça também assanhou a platéia de Curitiba, não tão dado ao carnaval como o carioca. A certeza de que a peça mexeu com o público vem na saída do teatro, quando espectadores de todas as idades e afinações vão embora cantarolando. A parte boa é que é possível ter um pedaço da peça em casa. Está à venda um CD duplo com as músicas do espetáculo. E para quem não viu ou não vai perder mais uma chance, a produção deve retornar a Curitiba para uma temporada em abril.

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