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Muitos, pelo menos em um primeiro momento, podem acreditar que a grande força do musical Dreamgirls – Em Busca de um Sonho seja a presença no elenco da popstar Beyoncé. Afinal, trata-se de uma artista que, aos 25 anos, vende milhões de discos em todo o mundo e é cortejada pela mídia internacional como uma das mulheres mais desejadas do planeta. Mas não é esse o caso, não.

Inspirado na história do trio Supremes, divas da lendária gravadora Motown, o filme, indicado a oito Oscars e que estréia hoje no Brasil, mostra a trajetória do grupo formado por Deena Jones (Beyoncé Knowles), Effie White (Jennifer Hudson) e Lorrell Robinson (Anika Noni Rose), dos concursos de calouros à consagração nos palcos. E quem brilha mesmo, ao ponto ofuscar a ex-integrante do grupo vocal Destiny’s Child e o resto do elenco, é a novata (e Jennifer Hudson, favorita ao Oscar de melhor atriz coadjuvante. A atuação como Effie, dona de uma voz superior aos dotes de Deena, porém gorda e com um timbre considerado pouco comercial, é o ponto alto do filme. Trata-se de uma personagem complexo, mais bem delineado e que, de quebra, tem canções melhores na ponta da língua.

Origens

A história de Dreamgirls é antiga. O musical de Tom Eyen e Harry Krieger sobre as Dreamettes (depois The Dreams), que deu origem ao filme, estreou na Broadway nos anos 80 e fez uma longa carreira de sucesso, ganhando vários Tonys, Oscar do teatro nova-iorquino. Por quase duas décadas, houve tentativas infrutíferas de levar o espetáculo dos palcos para as telas – a cantora Whitney Houston chegou a ser cotada para a personagem principal, Deena Jones. Depois, ficou velha demais para o papel.

Coube ao competente cineasta Bill Condon, roteirista oscarizado de Deuses e Monstros e do musical Chicago, tirar o projeto do papel. E o fez bastante bem: Dreamgirls é um bom filme, com inúmeros méritos, que vão da reconstituição de época espetacular à atuação do elenco, muito afinado. Como todo musical contemporâneo, a produção pode incomodar o público mais jovem, desacostumado a ouvir diálogos cantados, achando o recurso anacrônico e inverossímil. Vale, no entanto, insistir e encarar a empreitada.

Também é preciso ressaltar, no entanto, que Dreamgirls perde um pouco do seu ritmo na segunda metade do filme, depois que Effie deixa o grupo com um arrepiante monólogo musical, a canção "And I’m Telling You I’m Not Going". É, justamente, o momento do filme em que a personagem de Beyoncé deveria assumir o centro da narrativa, o que acaba não acontecendo. Tudo o que o público deseja, a essa altura, é ver e ouvir Effie.

Deena, mesmo sem querer, vira uma espécie de vilã em uma narrativa um tanto acelerada, para conter pelo menos uma década de acontecimentos. O filme perde parte de seu impacto inicial. Das oito indicações de Dreamgirls ao Oscar, três se devem a canções originais ("Listen", "Love You I Do e"Patience"), escritas para o filme. Essas músicas, mais as faixas que já integravam a peça, compõem um trabalho primoroso, à altura do melhor da música negra americana.

Em tempo: um destaque à parte no filme é a atuação de Eddie Murphy no papel de Curtis, clone de James Brown (com pitadas de Marvin Gaye). Ele está indicado como melhor ator e tem grandes chances de vencer – e com merecimento. Ele e Jennifer Hudson fazem de um filme irregular um programa quase obrigatório. GGG1/2

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