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É improvável imaginar que uma exposição composta por mais de cem obras pudesse ser exibida em uma única sala. Mas, graças ao inusitado projeto idealizado pelo grupo D.O.C., do Rio de Janeiro, formado pelos artistas Marco Antonio Portela, Isabel Lögfren, Patrícia Gouvêa e Mauro Bandeira, essa façanha pôde ser realizada.

Baseados na metáfora da escala nanométrica, eles tiveram a idéia de realizar uma mostra de peças de tamanhos minúsculos. As obras não podem ser literalmente criadas em nanômetros, que são usados para medir partículas de átomos, impossíveis de ser identificados até mesmo por microscópicos de última geração. Mas um dos principais objetivos do coletivo é trabalhar com o conceito da invisibilidade.

O grupo também conseguiu enfrentar, de maneira criativa, a burocracia das grandes galerias e museus. "A proposta é ir na contramão do poder das artes plásticas. Hoje em dia, nada se faz sem o aval de um curador ou o apoio de uma instituição, mas esta exposição está sendo realizada através da ação dos próprios artistas", explica Marco Antônio Portela.

Grande parte das obras precisa ser apreciada através de lupas, e outras estão anexadas a lentes de aumento. O espectador precisa se aproximar, investigar e, em alguns casos, manusear a peça para que ela possa ser entendida. Os movimentos acabam criando uma relação muito mais íntima com o público. A intenção dos artistas é justamente se opor ao caráter monumental e imponente das exposições tradicionais.

Em Curitiba, a mostra, batizada de NanoIntervenção, está sendo coordenada pela artista plástica Eliane Prolik, que pela primeira vez abriu o seu ateliê para um evento público. Ela também foi responsável pela escolha dos artistas locais que participam da intervenção.

Para Eliane, a idéia promove a integração e a aproximação dos artistas, pois eles se envolvem em todo o processo. As peças são transportáveis e garantem um caráter itinerante ao projeto. "O tamanho dos objetos faz uma crítica à inserção da arte no mundo. Eles são pequenos, mas nem por isso deixam de ter importância", acredita.

Apesar do tamanho, às vezes irrelevante, as peças não deixam de ter impacto e força. As texturas, traçados e detalhes ocultos surpreendem e intrigam a quem os observa com mais atenção. Os artistas tiveram liberdade para produzie esculturas, desenhos e fotografias, mas foram desafiados a criar elementos em dimensões que o olho, muitas vezes, não consegue captar. Mesmo assim, é possível identificar as principais características de estilo e linguagem de cada um.

A jovem artista Juliana Burigo, por exemplo, trabalhou com a imaginação ao escrever, em uma das paredes do ateliê, a frase "Trouxe pulgas". Por outro lado, o pequeno bloco de animação de Mainês Olivetti incentiva a interação e o manuseio.

Entre as obras dos idealizadores cariocas, destaca-se o trabalho de Portela, um anel solitário que apresenta no lugar do brilhante a fotografia de uma mulher; e o trabalho de Bandeira, formado por finas lâminas sobrepostas.

As próximas mostras do projeto nano, que já recebeu o nome de NanoExposição e NanoOcupação, no Rio e em São Paulo, acontecem na Galeria Murilo Castro, em Belo Horizonte, e no Espírito Santo, no início do ano que vem. Uma série de obras de artistas paranaenses será incluída. Ainda em novembro, o D.O.C. participa da Feira de Artes de Bogotá, na Colômbia.

Serviço: Exposição coletiva NanoIntervenção. Ateliê de Eliane Prolik (R. Fernando Amaro, 342 – Alto da XV), Hoje e amanhã. das 13 às 19 horas.

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