
"Minha vida dá um romance", as pessoas costumam dizer, imodestamente, quando passam em revista as alegrias e desventuras da própria existência. Talvez, em caso da ficção, seja mesmo um exagero.
O mercado editorial, porém, acusa um aumento notável da publicação de livros biográficos registrando a trajetória de famílias e pessoas "como a gente".
São livros escritos de próprio punho ou por ghost writers [escritores profissionais] contratados, que servem para registrar a saga de famílias de imigrantes, de namoros que terminaram em bodas de ouro, de pessoas que fazem cem anos como referência profissional, afetiva e moral.
"Toda e qualquer vida vale um livro. A questão é como você vai escrevê-lo, algo que exige arte e engenho", diz a editora Antônia Schwinden. Ela conta que nos últimos cinco anos a editora Kairós, da qual é dona, publica pelo menos um livro destes por ano.
Exemplo recente é a obra João & Clara A Travessia do Amor, escrito pela jornalista Regina Kracik Teixeira, que narra a trajetória do casal Clara e João Antonio Vieira. Foi lançado para celebrar o centenário da matriarca. "Começou como um trabalho despretensioso para a família, que cresceu durante a edição. A intenção não é a venda, mas que todos os descendentes possam conhecer suas origens", afirma Regina.
"Esses livros também servem para registrar, além da trajetória da vida de alguém, um momento histórico e político", diz Marilena Wolf de Melo Braga, editora do livro Vidas que Vivi, biografia do fundador da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Paraná, Jozé Lázaro Dumont. O relato mostra não só a atuação política de Dumont, mas também se preocupa em esmiuçar a trajetória pessoal e afetiva da família.
Casa dos Gerânios
Algo que, em Curitiba, poucos clãs fazem com o capricho e o cuidado da família Boscardin uma das 15 fundadoras do bairro italiano de Santa Felicidade. Toda a trajetória dos Boscardin desde a chegada ao Brasil até a luta em preservar das enchentes o moinho e o casarão em que a nona Carolina plantava gerânios nas janelas estão amplamente documentadas no site www.casadosgeraneos.com.br.
A saga dos Boscardin, também vai virar livro, já escrito por Ricardo Hubner, que já biografou a família Madalosso. A ideia do herdeiro Paulo Cezar Pereira é fazer coincidir o lançamento do livro com a reabertura do imóvel, que ainda aguarda uma solução oficial para o problema das enchentes. "O grande sonho da minha mãe, dona Bertilla, é voltar a colocar os gerânios na janela do casarão", conta.










