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Família Vieira posa sobre montanha de grãos de café no Norte Pioneiro | Fotos: Arquivo Pessoal
Família Vieira posa sobre montanha de grãos de café no Norte Pioneiro| Foto: Fotos: Arquivo Pessoal

Publicações

Livros celebram datas especiais a custos variados

"O livro tem uma aura que legitima a história de uma vida", explica Antonia Schwinden, da editora Kairós. Ela conta que tem sido constantemente procurada por famílias e pessoas dispostas a publicar as memórias e biografias de seus membros. "Pelo menos uma vez por ano nós editamos livros assim. A última foi uma senhora que queria contar para as netas como era ser casada e viver no Brasil na década de 1940. Isto por que ela achou que os netos estavam se separando muito", conta Antonia. Ela disse que, em geral, são feitas edições de pequena tiragem, de no máximo 300 exemplares, que servem para marcar momentos, como bodas ou aniversários.

Finalidade

O preço varia entre R$ 2 mil e R$ 10 mil, de acordo com a qualidade e finalidade da publicação. Mas esse não é o único custo. "Há um envolvimento emocional que pode ser desgastante no processo de edição", afirma.

Em São Paulo, há uma editora especializada em fazer biografias de "pessoas comuns" a um preço inicial de R$ 600. O contato pode ser feito pelo site www.eraumavezasuahistoria.com.br.

"Nós Somos os açogueiros da alma"

O jornalista e escritor Felipe Pena, autor da "Seu Adolpho", biografia finalista do prêmio Jabuti em 2011, conversou com a Gazeta do Povo sobre a publicação de livros sobre "pessoas comuns." Veja os principais trechos da entrevista:

Toda vida vale um livro?

É o contrário. Todo livro vale uma vida, mas a recíproca não é verdadeira. A vida é uma narrativa e só merece ser tornada pública se ela tiver relevância para a sociedade. Do contrário, fica restrita a um memória de família.

Há uma diferença entre uma biografia e um memorial de família. Qual é?

Sim, é a diferença que mencionei na resposta anterior: a relevância para a sociedade. A narrativa biográfica é mais perigosa que a espada e mais inebriante que o ópio. O Biógrafo, então, deve ter consciência da falta de consciência, ou seja, ele deve saber que pode se cortar com a própria pena, um objeto sádico, incorrigível, incontrolável. Não se preocupe em desvendar as páginas da vida alheia. Contemple-as. O rastro de sangue na folha de papel é o que identifica a biografia e os biógrafos. Nós somos os açougueiros da alma.

  • Casal Boscardin em Santa Felicidade
  • Documento de imigração de Nicolau Boscardin
  • Capa da autobiografia de José Lázaro Dumont
  • Yolanda e José Lazáro Dumont no dia de suas núpcias
  • Foto antiga do casarão onde vivia a família Boscardin
  • Nona Carolina Boscardin posa atrás da cerca de madeira
  • Biografia do casal Andrade Viera

"Minha vida dá um romance", as pessoas costumam dizer, imodestamente, quando passam em revista as alegrias e desventuras da própria existência. Talvez, em caso da ficção, seja mesmo um exagero.

O mercado editorial, porém, acusa um aumento notável da publicação de livros biográficos registrando a trajetória de famílias e pessoas "como a gente".

São livros escritos de próprio punho ou por ghost writers [escritores profissionais] contratados, que servem para registrar a saga de famílias de imigrantes, de namoros que terminaram em bodas de ouro, de pessoas que fazem cem anos como referência profissional, afetiva e moral.

"Toda e qualquer vida vale um livro. A questão é como você vai escrevê-lo, algo que exige arte e engenho", diz a editora Antônia Schwinden. Ela conta que nos últimos cinco anos a editora Kairós, da qual é dona, publica pelo menos um livro destes por ano.

Exemplo recente é a obra João & Clara – A Travessia do Amor, escrito pela jornalista Regina Kracik Teixeira, que narra a trajetória do casal Clara e João Antonio Vieira. Foi lançado para celebrar o centenário da matriarca. "Começou como um trabalho despretensioso para a família, que ‘cresceu’ durante a edição. A intenção não é a venda, mas que todos os descendentes possam conhecer suas origens", afirma Regina.

"Esses livros também servem para registrar, além da trajetória da vida de alguém, um momento histórico e político", diz Marilena Wolf de Melo Braga, editora do livro Vidas que Vivi, biografia do fundador da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Paraná, Jozé Lázaro Dumont. O relato mostra não só a atuação política de Dumont, mas também se preocupa em esmiuçar a trajetória pessoal e afetiva da família.

Casa dos Gerânios

Algo que, em Curitiba, poucos clãs fazem com o capricho e o cuidado da família Boscardin – uma das 15 fundadoras do bairro italiano de Santa Felicidade. Toda a trajetória dos Boscardin desde a chegada ao Brasil até a luta em preservar das enchentes o moinho e o casarão em que a nona Carolina plantava gerânios nas janelas estão amplamente documentadas no site www.casadosgeraneos.com.br.

A saga dos Boscardin, também vai virar livro, já escrito por Ricardo Hubner, que já biografou a família Madalosso. A ideia do herdeiro Paulo Cezar Pereira é fazer coincidir o lançamento do livro com a reabertura do imóvel, que ainda aguarda uma solução oficial para o problema das enchentes. "O grande sonho da minha mãe, dona Bertilla, é voltar a colocar os gerânios na janela do casarão", conta.

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