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DVD Tudo por Justiça (Out of Furnace, EUA/Reino Unido, 2013). Direção de Scott Cooper. Com Christian Bale, Casey Affleck e Woody Harrelson. Imagem Filmes. 116 min. Classificação indicativa: 16 anos. Apenas para locação. Drama.

Há uma qualidade no cinema do cineasta norte-americano Scott Cooper. Tanto em seu filme de estreia, Coração Louco (2009), que deu o Oscar de melhor ator a Jeff Bridges, quanto em Tudo por Justiça, que acaba de ser lançado em DVD e Blu-ray no Brasil, o diretor consegue dar às histórias que conta um genuíno senso de realidade. O personagem central é o metalúrgico Russell Baze (Christian Bale), que parece conformado com as limitações de seu cotidiano. O ponto de desestabilização em sua vida é o irmão, Rodney (Casey Affleck), recém-chegado da guerra do Iraque. O rapaz se recusa a seguir os passos do irmão e do pai, operários de uma fábrica local. Instável emocionalmente, Rodney se mete com um agiota local, John Petty (Willem Dafoe), que lhe empresta dinheiro, e acaba perdendo tudo em corridas de cavalos e outras tentativas infrutíferas de encher os bolsos. Para cobrir suas dívidas, Rodney aceita participar de lutas clandestinas, que ele deve perder de propósito, depois de violentas sovas. Em um desses embates, ele e Petty acabam se envolvendo com um líder do tráfico local, o sociopata Harlan DeGroat (Woody Harrelson, do seriado True Detective), e Rodney desaparece. Russell fará de tudo para resgatá-lo, até mesmo passar por cima de seus princípios éticos.

Por que assistir? Retrato desglamourizado da vida operária no interior dos Estados Unidos, Tudo por Justiça é envolvente, tenso e as ótimas atuações de todo o elenco, com destaque para Bale, Affleck e Harrelson. (PC)

HQ Tungstênio Marcello Quintanilha. Veneta, 184 págs., R$ 54,90. Quadrinhos.

Um policial bebe cerveja com amigos em uma praia de Salvador. Ao fundo da cena, um militar aposentado e um jovem traficante começam a se desentender em um forte depois de verem pescadores usarem explosivos para matar peixes. Esse cenário é o ponto de partida da graphic novelTungstênio, do quadrinista Marcello Quintanilha.

A partir dali, a trama se desenrola amarrando vários personagens, conectados pela pescaria ilegal. Cada um apresenta sua perspectiva do fato, que surge sem um clímax ou um desfecho. Por isso, a história funciona como um recorte seco e sem emoções do cotidiano da periferia baiana. A opção por retratar pessoas ordinárias, aliás, é uma das marcas do artista fluminense, que cria crônicas do dia a dia em suas narrativas.

Por que ler? Em Tungstênio, Quintanilha brinca com a linguagem dos quadrinhos. Ao não respeitar a linearidade de um quadro ao outro, ele intercala a ação com a memória de seus personagens. O autor também serve como um antropólogo, interessado em registrar expressões e comportamentos típicos de Salvador. Seus traços em preto e branco reforçam a ideia de que estamos diante de um universo novo, que poucas vezes foi radiografado por uma HQ. (RS)

Livro 1Final do Jogo Julio Cortázar. Tradução de Paulina Wacht e Ari Roitman. Civilização Brasileira, 224 págs., R$ 30. Contos/Crônicas.

O escritor argentino Julio Cortázar (1914-1984) é conhecido por suas "brincadeiras" com o leitor, além de ser mestre do conto curto e da prosa poética. Em Final do Jogo, que após tempos fora de catálogo no mercado nacional foi lançado recentemente pela Civilização Brasileira, o leitor consegue claramente assimilar essas características que viraram marca do autor argentino. No total, a obra reúne 18 de contos, divididos em três partes: cada uma delas tem um nível de dificuldade, do "fácil" para o "difícil". Nesse jogo, Cortázar, de certa forma, consegue medir o nível de compreensão que cada um deve ter para assimilar e acreditar em cada um dos textos. O lançamento faz parte das comemorações do centenário de nascimento do escritor, que completaria 100 anos em 26 de agosto. Além de Final do Jogo, também retornou ao catálogo da editora a obra Um Tal Lucas.

Preste atenção: nos contos "Ninguém Seja Culpado" e "Continuidade dos Parques" – esse último, que fala sobre um homem que lê o final do romance, é um dos mais aclamados de toda a obra de Cortázar. (IR) 

Livro 2Como Ficar Podre de Rico na Ásia Emergente Mohsin Hamid. Tradução de Sonia Moreira. Companhia das Letras, 176 págs., R$ 37. Romance.

"Mude-se para uma grande cidade". "Consiga em algum lugar um diploma". "Não se apaixone". "Evite os idealistas". "Aprenda com um mestre". "Trabalhe para si mesmo". "Saiba usar a violência". Estes são alguns dos títulos dos capítulos deste livro. Remetem aos mais tolos livros de autoajuda, mas, na verdade, são golpes de ironia mordaz sobre temas cruciais da atualidade.

O autor paquistanês convidado da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) de 2014, conta a história de um garoto que sai da zona rural para o centro da cidade de um país fictício e começa a ganhar a vida vendendo alimentos com a data de validade adulterada. Depois, dedica-se a diversas picaretagens cujos relatos se tornam crônicas divertidas sobre as estratégias de ascensão social e enriquecimento em países emergentes.

Por que ler? Os personagens criados por Hamid, especialmente para nós, leitores de "países emergentes", são construídos de tão hábil maneira que é impossível não reconhecê-los a nossa volta, o tempo todo. Com um humor figadal, Hamid reafirma sua voz como um dos escritores mais inventivos de sua geração. (SM)

Livro 3O Louco de Palestra e Outras Crônicas Urbanas Vanessa Barbara. Companhia das Letras, 193 págs., R$ 37. Crônicas.

Desde Livro Amarelo do Terminal, seu trabalho de conclusão de curso em jornalismo que virou um celebrado livro-reportagem vencedor do Prêmio Jabuti, Vanessa Barbara causa espanto. Primeiro porque é jovem e escreve como os imortais. Depois, porque consegue unir humor e delicadeza, graça e até certa dose de escárnio.

Em O Louco de Palestra... título de um celebrado texto publicado na revista piauí, temos todas essas Vanessas, em crônicas e textos publicados nos jornais O Estado de S.Paulo, Folha de S.Paulo e no blog da editora Companhia das Letras. Seus temas são diversos: os nomes pitorescos de redes wi-fi, o Dia do Número Pi, as pessoas que fazem pilates e os mistérios por trás dos letreiros de ônibus de São Paulo.

No conjunto, o livro forma um apanhado de textos que representam bem a nova (e boa) literatura brasileira. Há humor, observação sensível e certa efemeridade, sinais dos tempos. (CC)

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