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Para Chiris, “O individualismo não é bacana. As coisas só acontecem coletivamente” | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Para Chiris, “O individualismo não é bacana. As coisas só acontecem coletivamente”| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

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Sobre as origens de Chiris Gomes

Influências

Seu pai, Antonio Alpheu (já morto), era mato-grossense. Já a mãe, Sônia Maria, é curitibana. Hoje, aos 63 anos, ela cuida da biblioteca do Clube Curitibano. Foi pela influência da mãe – que sempre leu muito, escutou muita música e cantou em corais – que a filha se aproximou da arte. Até hoje, a mãe acompanha a programação cultural, sobretudo a de teatro, em Curitiba.

Cheiro de Saudades

Leia a seguir a letra da canção "Cheiro de Saudades", parceria de Chiris Gomes e Octávio Camargo

hoje as palavras estão corrompidas as mesmas palavras que um dia foram jóias guardadas num cofrepra não se perderem

de vez em quando precisamosdar uma volta ao passadoe somos vitimas de falsas lembranças

a memória tem suas alucinaçõesa sublime obscenidade dizque a morte temcheiro de saudades

Chiris Gomes já tem assunto para uma eventual dissertação de mestrado: analisar os pontos de contato entre os artistas curitibanos que transitam simultaneamente pela música e pelo teatro. Alexandre França, Antonio Thadeu Wojcie­chowski, Luiz Felipe Leprevost e Octávio Camargo são alguns dos sujeitos que inventam canções, escrevem (e, em certos casos, até dirigem) textos dramáticos e fazem soar violões.

A atriz, cantora e compositora fez essa constatação no final de 2008, quando voltou para Curitiba, depois de viver 17 anos em São Paulo. Novamente na cidade onde nasceu, ela encontrou um ambiente propício, com muitos interlocutores, para vivenciar o chamado "estado de arte".

A curitibana de 42 anos se considera tímida. "Mas disfarço bem", diz. Ela cita uma frase da atriz Bibi Ferreira para definir a atuação de um artista: "80% é cara-de-pau, e o resto (20%) é talento".

Chiris é talentosa.

O seu currículo endossa a afirmação. Ela participou da primeira parte da encenação de Os Sertões, sob a direção de Zé Celso Martinez Corrêa. Atuou em três peças de Gabriel Vilela: Morte e Vida Severina, Os Saltimbancos e Gota d’Água. E também esteve em cena numa montagem do diretor Cacá Rosset.

Mesmo durante a longa temporada paulistana, ela nunca deixou de circular por Curitiba. "Tenho o meu cordão umbilical enterrado aqui. Não tem como fugir", diz, entre uma tragada de cigarro e outra dose de vinho tinto.

Chiris concedeu entrevista à Gazeta do Povo na casa onde vive, com Octávio Camargo, no Alto da XV.

O bate-papo, em meio a trovoadas e muita precipitação atmosférica, começou depois das 21 horas e seguiu até às 2h30 da manhã da última quinta-feira. Chiris lamenta perder as ma­­nhãs, pois vai dormir por volta das 7h e acorda depois das 16h. Mas, acredita, a vida tem fases, e o tempo presente, para ela, é mais noturno do que solar.

Ano passado, Chiris participou de A Vida Como Ela É, peça dirigida por Edson Bueno, que teve sessões lotadas durante a temporada no Mini-Guaíra. A trilha sonora, outro destaque da montagem, contou com canções de Chiris e Octávio Camargo. O casal já produziu, em dupla, repertório suficiente para dois ou três álbuns. Durante as madrugadas, eles também compõem em parceria com poetas, atores, músicos e outros artistas.Não há televisão na casa em que ela e Camargo vivem e, por esse motivo, Chiris não assistiu à minissérie Dalva e Herivelto – Uma Canção de Amor, exibida no início deste ano pela RPC TV. Em 1999, Chiris gravou Dalvaneios, álbum que se traduziu em muitas apresentações e relacionou o seu nome ao da célebre cantora paulista. Mas ela também tem dois outros projetos autorais, os álbuns Hesitante Nostalgia e Na Régis Bittencourt.

Durante a década de 1990, Chiris formou, aqui em Curitiba, a banda Tuba Intimista, o "motivo" que a levou para São Paulo. O projeto musical acabou, mas ela permaneceu na maior metrópole brasileira por mais tempo do que poderia imaginar.

Chiris sorri, conta que não sabe dirigir e gosta de caminhar. Sorri e afirma que as coisas só acontecem por meio do coletivo, e não necessariamente a partir do senso individualista que ainda impera. Sorri outra vez e, por alguns instantes, permanece em silêncio.

O assunto morte entra na conversa. Ela senta em uma cadeira da sala, acende um cigarro e lembra que presenciou os últimos instantes de alguns amigos artistas, como Raul Cruz e Blasi Jr. Há não muito tempo, perdeu Domício, o irmão. Há seis meses, o seu pai, Antonio Alpheu, morreu.

Chiris respira fundo, se levanta. Avisa que vai cozinhar. Massa e carne. Caminha até a cozinha e conta que, por estímulo de seu (falecido) amigo Carlos Wagner, ela começou a ouvir e a se encantar com os sons de John Cage quando tinha apenas 11 anos. Então, estudou piano. Na peça Suíte 1, da Companhia Brasileira de Teatro, Chiris atua, canta e toca teclado.

No relógio da parede, 2h04 e a refeição fica pronta. Ela explica que o seu nome é Chris­­tiane Gomes, mas durante o curso de Artes Cênicas, no final da década de 1990, havia muitas outras Cristianas e Cris­­tia­­nes na turma. Jorge Sada e Cle­­on Ja­­cques sugeriram que ela passasse a "ser" Chiris. Em um primeiro momento, não gostou, mas acatou a sugestão e, há mais de duas décadas, vem construindo uma trajetória no teatro e na música com o inconfundível nome (e sobrenome) Chiris Gomes.

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