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Uma pintura, ao contrário de um filme, não possui na reprodutividade técnica uma de suas características centrais. Ou seja, King Kong é tanto um filme aqui quanto na China. É um só, independentemente do número de cópias. Basta ver uma delas para conhecer a obra em questão. Com a Mona Lisa, é mais complicado. Ela tem endereço e lugar certo: no caso, o Museu do Louvre, em Paris. Em se tratando de gravuras, desenhos, instalações e outras esferas do que se convencionou chamar de artes visuais, a questão é igualmente difícil.

"Um filme pode ser trazido aqui e eu posso me influenciar por ele. Mas é pouca gente que pode pagar para viajar e se influenciar com obras de artes visuais lá de fora", exemplifica a artista plástica curitibana Juliana Burigo. Ela conta que o espaço é um um de seus principais interesses no fazer artístico. Isso quer dizer que as instalações que tem desenvolvido – a última delas na exposição Preâmbulo, em parceria com Fernando Rosenbaum e Bruno Tomé – se relacionam diretamente com o espaço escolhido (no caso, o Memorial de Curitiba). Produzir e experimentar aquele trabalho não seria possível fora daquele lugar.

Não é só com Juliana que isso acontece. Cleverson Salvaro trabalha há um ano em parceria com Rodrigo Dúlcio, em uma construção abandonada na Rua Nilo Peçanha, número 3.650. Lá, eles fazem todo tipo de experimentações. Cleverson conta que suas escolhas de meios e linguagens atendem ao seu interesse pela arte, não a uma vinculação redutora a gêneros ou regras específicas. "Eu faço gravuras, mas nem por isso sou necessariamente um gravador", comenta. Um das suas gravuras, feita em metal, imprime a inscrição "Lazarotto está morto" em alto relevo em um papel. A escolha para o meio é diretamente ligada à atuação do artista paranaense Poty Lazarrotto, um dos orgulhos de Curitiba. "Eu poderia desenhar a frase e colocá-la em um muro, mas não é a mesma coisa. Funciona somente se for gravura, nesse espaço, em Curitiba", diz.

Além de Juliana e Cleverson, a reportagem conversou com mais três artistas para descobrir como pensam e atuam alguns dos mais novos talentos das artes visuais da cidade. Todos eles transitam entre diferentes linguagens e gêneros, tentando revelar elementos novos com suas pesquisas, mais ou menos bem-sucedidas. Criticam o sistema das artes e tentam encontrar maneiras de se opor a ele ou mudá-lo, ao mesmo tempo em que dependem dele para obter reconhecimento, visibilidade e sustento.

Luiz Rodolfo Annes formou-se em 2001 pela Escola de Belas Artes do Paraná, quando começou a trabalhar com desenhos. Teve um trabalho seu selecionado para 61.º Salão Paranaense, mostra atualmente aberta no Museu de Arte Contemporânea de Curitiba (MAC). A obra é uma animação feita a partir de desenhos, acompanhada de música. "Tenho influências do desenho animado, mas esse é um desenho em movimento. Ele não produz exatamente a linguagem do desenho animado", comenta Annes. O trabalho é uma evolução direta da pesquisa que Annes vinha desenvolvendo com o desenho, e mais um exemplo de artista que atua em diferentes meios para produzir seu trabalho.

Maikel da Maia, 22 anos, é o mais novo deles. Estuda na Escola de Belas Artes do Paraná e fez sua primeira exposição, Claríces, em 2005. "É uma questão ligada à obra de Clarice Lispector, que eu estava lendo. Eu estava desenhando, tinha contato com a obra e vi que a maneira com que ela descrevia o personagem batia com o que eu desenhava", comenta.

Ande Rigatti é outro que partiu do desenho para expandir sua pesquisa visual para outros meios. Conta que uma de seus primeiros interesses era a relação entre a folha em branco e aquilo que será inserido nela.

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