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Samuel Rosa, vocalista e guitarrista do Skank, contou com a parceria de Negra Li e Nando Reis para compor duas faixas do novo disco | Divulgação Sony BMG
Samuel Rosa, vocalista e guitarrista do Skank, contou com a parceria de Negra Li e Nando Reis para compor duas faixas do novo disco| Foto: Divulgação Sony BMG

Opinião

Receita nova e a guinada esperada

Mudar é bom. Principalmente para o Skank, banda que esgotou as fórmulas adotadas desde Maquinarama (2000). Cosmotron (2003) e Carrossel (2006), discos que abusaram do pop-rock formatado, dando a impressão de estar não há 17, mas há 27 anos na estrada. Estandarte vem dar novo fôlego à discografia dos mineiros. Sua vertente para o eletro-rock, ainda que não escancarada, moderniza o grupo e o distancia do que foi marca identificadora dos primeiros trabalhos e do que foi exaurido nos três últimos.

As músicas passeiam pela Jovem Guarda, como acena a primeira faixa, e terminam em um rock pesado e vigoroso, que demonstram vontade de renovar. As letras continuam as mesmas: sem profundidade, mas sem pieguice. Há um tom sensual em "Chão" (Não vacila/ vem aqui mostrar sua arte/ groove na medida/ seu prazer é o meu estandarte) e de cotidiano, em "Saturação" (A manhã aparece nos jornais/ editada e branca/ páginas de assuntos culturais/ e o trânsito estanca). Embora "Escravo" e "Ainda Gosto Dela" (música presente em Negócio da China, nova novela das 18 horas da Rede Globo) tenham potencial para hits radiofônicos, o Skank fugiu do apelo da indústria e ousou, ao gravar um álbum improvisado e eclético, ainda que isso não pareça incoerente. (CC) GGG

Cristiano Castilho, jornalista do Caderno G

Entre janeiro e agosto deste ano, no estúdio Máquina, em Belo Horizonte, o Skank propôs um desafio a si mesmo. Fazer um disco que partisse "do nada", do zero, baseado apenas em jam sessions dos seus quatro integrantes. Era tocar, discutir e gravar. A resposta foi a mais natural possível: Estandarte (Sony &BMG), oitavo álbum de canções inéditas dos mineiros – lançado nacionalmente no último dia 1º de outubro – interrompe a trilogia calcada no rock britânico iniciada com Maquinarama (2000) e nos traz um Skank solto, dançante e, enfim, diferente.

"Ao contrário dos outros álbuns, não tínhamos nenhuma música preparada. A idéia era fazer algo espontâneo, mais urgente e solto, o que foi bom porque temos um entrosamento total, já que nosso time joga junto há muito tempo", disse Samuel Rosa, vocalista e guitarrista do grupo há 17 anos.

O disco começa com "Pára-Raio", música que poderia ser de Roberto Carlos na melhor fase da Jovem Guarda. Em Ainda Gosto Dela, segunda faixa e primeiro single, encontramos a parceria com Negra Li, "cantora não muito conhecida, mas admirada", segundo Samuel. "Ela colocou a assinatura dela. Ficou mais black music, com uma levada pulsante", disse o mineiro.

Apesar da parceria com Nando Reis em "Sutilmente" – balada adornada por violão e cordas que quebra o ritmo sugerido pela primeira parte do CD –, a principal marca de Estandarte, que surgiu do improviso, foi romper com a fórmula pronta e engessada do rock-balada, excessivamente presente em Carrossel (2006), e apontar para as pistas.

Pitadas de eletro-rock em "Chão", terceira faixa, mostram que, ainda que um pouco atrasado, o Skank está em sintonia com o que vem acontecendo por aí. "Talvez tivéssemos uma certa preocupação anterior em não entrarmos nessa onda de música festiva, de pista. Mas, ao mesmo tempo, procuramos formas que não estão desgastadas, tentamos fazer novas descobertas", explicou Samuel.

A guinada na carreira do Skank deu-se primeiro na teoria. Antes de entrar nos estúdios e improvisar, Samuel Rosa, Henrique Portugal, Lelo Zaneti e Haroldo Ferretti já discutiam o que pretendiam com o novo disco. "Já tínhamos conversado a respeito, porque é normal que o grupo, com todo esse tempo de carreira, busque coisas diferentes", comentou Rosa.

Parte da guinada foi devida ao produtor Dudu Marote, responsável também pelos álbuns Calango (1994) e O Samba Poconé (1996), discos que ultrapassam um milhão de cópias vendidas. Dudu virou DJ e imergiu na música eletrônica, o que em parte contrastou com a posição mais tradicional dos mineiros.

"Ele (Dudu) mergulhou de vez na cena. Esse choque foi muito interessante e acabou contribuindo para o resultado do trabalho. No último álbum, ficamos no folk e algumas músicas tinham até cara de rock progressivo. E agora temos essa estranheza interessante do Estandarte", diz Samuel.

O que não mudou foi o cantar típico do mineiro, que faz de sons incompreensíveis refrões cantaroláveis. O que já acontecia nos hits "Balada do Amor Inabalável" e "Garota Nacional" repete-se com muita freqüência em Estandarte. "Isso é sobra de melodia em que não coube letra. Acho que nesse último disco atingi o máximo de mim enquanto letrista", explica.

O álbum, cuja capa foi desenhada pelo paranaense Rafael Silveira, termina com "Renascença", um rock mais agressivo e pesado, dando possíveis indicações do que pode ser o próximo passo do Skank. Ou não. "Com essa retomada, já resolvemos. Agora nós podemos ser tudo o que já fomos um dia", completou o simpático Samuel, que pretende fazer com que a turnê do novo disco passe por Curitiba no ano que vem.

Serviço

Estandarte, Skank. Sony BMG. Preço médio: R$ 29,90.

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