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A nova adaptação de Shakespeare montada em Curitiba, Quero Falar Mas a Tempestade Não Deixa, baseada em A Tempestade, é um resumo das qualidades e dos defeitos do teatro contemporâneo da cidade.

Por um lado, todos os elementos aos quais os detentores dos palcos costumam prestar culto estão presentes. A desconstrução do texto clássico; uma história que permite várias interpretações, mas que ao mesmo tempo teoriza sobre a arte de fazer teatro; a mistura de gêneros; a fragmentação. Por outro, a peça esbarra em uma série de chavões da tal pós-modernidade. Na tentativa de ir a novas linguagens, muitas vezes perde em facilidade de compreensão.

O uso exagerado de caixas acústicas com eco na longa fala de abertura da atriz Pagu Leal, também autora do texto, torna difícil ouvi-la. Logo em seguida, exige-se do público que, pela segunda vez, faça um exercício de concentração. É que a sonoplastia – com barulhos de martelo e uma irritante repetição de violino – desvia o foco do que deveria ser o principal: as falas.

Na tentativa de ser moderno, o texto – que originalmente tem a nobre intenção de dialogar com Shakespeare e falar sobre o teatro e o nosso mundo – acaba também tendo defeitos típicos da época atual. Chega a ser de mau gosto nas incursões sexuais. Como na cena em que um personagem tem sangue na boca. Sangue de fluxo menstrual de outra personagem, explique-se.

Características como essas acabam tirando o mérito inicial do projeto, aprovado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura. Afinal, fazer Shakespeare e falar sobre teatro são duas propostas interessantes. Mas faltou algo para que o grupo chegasse lá.

Serviço: Quero Falar Mas a Tempestade não Deixa. Teatro José Maria Santos (R. Treze de Maio, 655), (41) 3322-7150. Texto de Pagu Leal. Direção de Sílvia Monteiro. Com Luiz Carlos Pazzello, Pagu Leal, Adriano Petermann e Carol Mammarella. De 4.ª a sáb., às 21 horas, e dom., às 19 horas. R$ 12 e R$ 6 (classe, estudante, Clube do Assinante, maiores de 60 anos). Até 12 de março.

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