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Gyllenhaal emagreceu 15kg para interpretar o papel | Allstar Entertainment/ Divulgação
Gyllenhaal emagreceu 15kg para interpretar o papel| Foto: Allstar Entertainment/ Divulgação

Cinema

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Há muito a se discutir sobre a ética jornalística na cobertura de crimes e acidentes – especialmente quando está em jogo a dignidade humana. Mas O Abutre, estreia do roteirista Dan Gilroy como diretor que entrou em cartaz esta semana nos cinemas brasileiros, vai direto ao ponto ao fazer o retrato mais perturbador possível do telejornalismo policial nos Estados Unidos.

Ele o faz a partir da história de Louis Bloom (Jake Gyllenhaal), um homem solitário e desempregado que vaga pela noite de Los Angeles procurando por oportunidades de ganhar dinheiro ou de começar uma carreira. Uma delas surge quando ele cruza com uma dupla de cinegrafistas freelancers que estão fazendo imagens de um resgate em um acidente de carro.

Um autodidata inteligente, sedutor e ousado, Bloom arranja uma câmera e um receptor de rádio da polícia e prospera ao ignorar completamente qualquer limite ético e senso de compaixão pelas pessoas em seu novo ofício. Sua empreitada é estimulada por Nina Romina (Rene Russo), uma editora de um canal de tevê com índices baixos de audiência que igualmente ignora quaisquer questionamentos éticos ao veicular o que seus espectadores querem ver – imagens "gráficas" de acidentes e crimes (sobretudo os "crimes urbanos" que chegam aos subúrbios, cometidos por "pobres ou uma minoria" contra vítimas "bem de vida").

A atuação de Gyllenhaal, que perdeu cerca de 15 quilos para ressaltar o rosto magro e os olhos esbugalhados do personagem, é bastante didática ao revelar, aos poucos, que se trata de nada menos que um psicopata. No fim das contas, o protagonista e a coadjuvante se tornam uma espécie de materialização do que o filme acaba definindo como a essência deste noticiário: um negócio totalmente desumanizado e ausente de solidariedade às pessoas ao transformar suas tragédias em vendas.

Com uma fotografia elegante e perturbadora, um roteiro bem-feito e cenas de ação arrebatadoras, o longa se desenrola, talvez, da única forma que poderia: uma escalada de atos cada vez mais bárbaros de Bloom em nome do sucesso de seu negócio, em uma espécie de exercício filosófico sobre um microcosmo em que não há ética.

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