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Música

O altar particular de Maria Gadú

Cantora estreante, mas já festejada, lança seu primeiro disco pela Som Livre, entoando um tema que criou aos 10 anos, “Shimbalaiê”

Paulista de 22 anos, Gadú foi apadrinhada pelo diretor Jayme Monjardim | Marcos Hermes/Divulgação
Paulista de 22 anos, Gadú foi apadrinhada pelo diretor Jayme Monjardim (Foto: Marcos Hermes/Divulgação)

Prestem atenção nesta moça: Maria Gadú. Antes mesmo que suas primeiras gravações tivessem aparecido, o nome da paulista de 22 anos já era ouvido em meio a elogios nos círculos de amantes da MPB. O talento se impôs: é a intérprete original, de timbre grave e macio que faltava na atual onda de vozes femininas agudas. E sabe compor. Prova disso é a melodia contagiante de "Shimbalaiê", te­­ma que emplacou na novela Viver a Vida e que impulsiona seu disco de estreia – batizado com seu nome e recém-lançado pela Som Livre como a grande aposta da gravadora. "Shimbalaiê" foi a primeira música que Gadú fez, ainda "pirralha". Tinha 10 anos, estava de férias com a família em Ilha Gran­de (RJ), brigou com o irmão e foi para o carro sozinha pensar na vi­­da. Criou a canção ao violão – que começou a carregar consigo a partir dos 9 anos, quando percebeu que precisava de um instrumento mais portátil do que o piano em que pressionava seus dedinhos sem muito jeito desde os 5 .

"Nunca fiz aula de nada, a vida inteira", diz ela. Cantava na igreja. Aos 12, gravou jingles. Com 13, precoce, fez seus primeiros shows em barzinhos. O circuito da noite, em que era a menos experiente, serviu-lhe de escola. Gadú cresceu ouvindo um pouco de tudo, sem preconceito: Chico e Caetano, Marisa Monte, Milton Nascimento, Luís Melodia e, ainda, Kelly Key, Sandy e Júnior e Backstreet Boys – influências que se emaranham em seu primeiro álbum.

O pulo da gata se deu por intermédio de dois amigos, os irmãos Rafael Almeida, ator, e Tânia Mara, cantora casada com o diretor Jayme Monjardim. Apre­­sen­­tada a ele, Gadú ganhou espaço na minissérie Maysa, na qual fez uma aparição como cantora de boate. Foi também o diretor quem convidou um representante da Som Livre para ver um pocket show dela. E as portas se abriram, facilitando um pouco o caminho sempre árduo de uma cantora estreante.

Hype

O disco só chegou, contudo, depois que o hype em torno de Gadú já estava armado. Muito por conta da divulgação pela internet e do boca-a-boca de quem ia aos seus shows – nos quais mais se destaca, segundo dizem os críticos que a viram ao vivo.

A cantora aproveitou para acomodar um resumo de toda sua trajetória no álbum de estreia. A começar, é claro, pela sua canção primogênita. "Fui por etapas", conta.

Resgatou da infância (em que ouvia O Grande Circo Místico, de Edu Lobo e Chico Buarque) uma suingada "A História de Lilly Braun", entre seus melhores momentos diante de obra alheia. À adolescência, retornou em uma releitura de "Ne me Quitte Pas" (que cantava em casa por ser filha de francês) e uma curiosa versão de "Baba" (Kel­­ly Key), canção que não está à altura da intérprete, mas recriou com charme.

Entre outras inéditas, como a boa "Tudo Diferente", de André Carvalho, são as composições da própria Gadú, carregadas de sensibilidade, que sustentam o restante do repertório: o triste samba "Altar Particular" e a comovente canção de despedida "Dona Cilu", em homenagem à avó (a quem dedica o disco), por exemplo.O conceito do disco, com o qual compactuou o produtor Rodrigo Vidal, era fazer "o mais cru possível", diz Gadú. "Gosto do barulhinho, da coisa pequenininha, do detalhe. Até porque não toco muito violão, não tenho como fazer as coisas com grandiosidade ou virtuose. Minhas coisas são minimalistas", diz.

É o suficiente. Com o visual meio Cássia Eller, mas um canto mais suave, que gerou comparações a Marisa Monte, Gadú conquista pelas melodias inspiradas e as interpretações levemente me­­lancólicas.

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