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Devo: de volta às atividades, banda lança novo disco de músicas inéditas após 20 anos | Divulgação
Devo: de volta às atividades, banda lança novo disco de músicas inéditas após 20 anos| Foto: Divulgação

Quando surgiu, nos anos 70, o Devo defendia uma visão de futuro tão interessante quanto a discussão homem-máquina proposta pelos alemães do Kraftwerk: a teoria de que, ao invés de se desenvolver, a raça humana estava, na verdade, regredindo, movimento inspirado em um panfleto antidarwinista e batizado pela banda de "De-Evolution". Talvez devido às letras irônicas e aos figurinos – macacões amarelos e icônicos chapéus vermelhos – nunca foram levados tão a sério quanto o grupo germânico.

No entanto, viraram objeto de culto. Mesclando punk e eletrônica, alcançaram a admiração de gente como David Bowie e Iggy Pop, tiveram seu álbum de estreia Q: Are We Not Men? A: We Are Devo! (1978) produzido por Brian Eno e chegaram ao 14.º lugar da Billboard com o hit "Whip It", em 1980. Nas décadas seguintes, mesmo diante da produção irregular e das aparições esporádicas, continuaram sendo referência. De Kurt Cobain a Lady Gaga, todos gostam de Devo.

Em 2007, três dos fundadores do grupo – Gerald Casale (baixo, sintetizador e vocais), Mark Mothersbaugh (sintetizador, vocais e guitarra) e Bob Casale (guitarras, teclados, sintetizadores e vocais) –, acompanhados de Bob Mothersbaugh (guitarra) e John Freese (bateria), voltaram a excursionar e, desde então, viraram atrações carimbadas de grandes festivais, como Benicàssim (Espanha), South by Southwest (EUA) e Coachella (EUA). Continuando a fazer a alegria dos mais nostálgicos, chegou às lojas estrangeiras na semana passada Something for Everybody, nono disco de estúdio do Devo e primeiro de inéditas em 20 anos.

O princípio básico é o mesmo: narrar o declínio da civilização norte-americana em canções eletrônicas breves, dançantes e animadas. Basta ouvir a faixa de abertura, "Fresh", primeira música de trabalho do disco, para perceber que os instintos sonoros continuam intactos – sintetizadores marcantes, guitarras afiadas e refrões feitos sob medida para as pistas de dança (até o chicotinho de "Whip It" dá as caras em alguns trechos).

A grande diferença reside justamente no desenvolvimento da tecnologia, que eles tanto insistem em negar. Foi-se a charmosa sonoridade eletrônica tosca dos primeiros discos, dando lugar a uma certa "limpeza", que quase esbarra no genérico.

É o que se ouve em "What We Do", uma das poucas que poderiam ser confundidas com as canções de qualquer outra banda de música eletrônica engraçadinha que pipocam por aí, por mais que o refrão afirme o contrário ("O que fazemos/ É o que fazemos/ É tudo igual/ Não há nada novo"). A acelerada "Human Rocket", apesar da boa melodia, parece saída de um disco da banda britânica de new wave Sigue Sigue Sputnik em seus piores dias.

Entre os bons momentos, destacam-se "Sumthin’", "Later Is Now" e "March On", que apesar de superproduzidas para o padrão Devo ao qual estamos familiarizados, são bem construídas e pop na medida certa. Something for Everybody parece uma tentativa de reafirmar o pioneirismo do Devo num cenário em que fundir rock e eletrônica não é mais sinônimo de vanguarda, e sim, quase uma regra. Acaba provando apenas que eles ainda o fazem muito bem. GGG

Serviço

Something for Everybody, Devo. Warner. Importado. Preço médio: US$ 14.

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