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Carla Bruni tem dotes vocais limitados, mas um timbre envolvente, e escreve boas canções | Divulgação/ Gravadora Naive
Carla Bruni tem dotes vocais limitados, mas um timbre envolvente, e escreve boas canções| Foto: Divulgação/ Gravadora Naive
  • Carla Bruni e Nicolas Sarkozy: casal está sempre na mira da mídia internacional
  • Confira trechos de uma entrevista de Carla Bruni à revista francesa Le Point

Costuma ser um erro tentar explicar a obra de um artista a partir de sua vida pessoal. É um caminho fácil e redutor. Mas, no caso da cantora e compositora Carla Bruni, esquecer que ela é a atual primeira-dama da França na hora de falar de seu trabalho musical talvez seja impossível. A segunda esposa do presidente Nicolas Sarkozy lançou em julho passado na Europa o álbum Comme Si de Rien N'Etait, o terceiro de sua carreira, sob intenso escrutínio da mídia, sobretudo no país governado por seu marido. Foi cobrada por, de alguma forma, fazer uso de sua atual posição, que a tornou uma das mulheres mais fotografadas do planeta, para divulgar seu trabalho. Acusação justa? Talvez.

Para início de conversa, Comme Si de Rien N'Etait, que acaba de ser lançado no Brasil, é um disco de canções que falam, sobretudo, de amor, da relação homem– mulher, de sentimentos íntimos e pessoais. Embora Carla garanta que grande parte das músicas foi composta antes de se envolver romanticamente com Sarkozy, não há como fugir da tentação de ler nas entrelinhas de suas letras pistas de como seria a vida íntima da bela ex-modelo italiana de olhos azuis com o estadista mais badalado do momento na Europa (senão no mundo).

Já que Carla não descartou a hipótese de alguma das canções do novo álbum ter algo a ver com seu marido poderoso, todas as atenções se voltaram para "Tu Es Ma Came" ("Você é Minha Droga", em português). Na letra, a cantora canta, com sua voz sussurrada e sensual: "Você é minha droga/ Mais mortal do que a heroína afegã/ Mais perigosa do que a 'branca' colombiana/ Você é a solução para meu doce problema."

Como esses não são normalmente versos que costumam brotar da boca de primeiras-damas, é inevitável o frisson em torno do disco, que uma semana depois do lançamento chegou ao topo da parada francesa – atualmente, está em nono lugar.

A mais confessional de todas as faixas, no entanto, é mesmo "Ta Tienne", que se inicia ao som envolvente de uma flauta que conduz ao primeiro verso da canção: "Eu, que costumava fazer os homens dançar, entrego-me inteiramente a você." Entenda como quiser.

Mas é preciso dizer que Comme Si de Rien N'Etait é um bom disco, por mais irrelevante que esse "detalhe" possa parecer diante da monumental exposição mediática de sua criadora. É o trabalho de uma cantora de dotes vocais limitados, mas bem utilizados, e de uma compositora capaz de surpreender o ouvinte, citando, já no título de uma de suas melhores canções, a sinuosa e hipnótica "La Possibilité d'une Île", o cultuado escritor Michel Houellebecq e seu romance A Possibilidade de uma Ilha. No arranjo da melodia chama atenção a semelhança com o tema central da série Twin Peaks, composto por Angelo Badalamenti para o diretor David Lynch.

Referências como essas, mostram que Carla, que confessa ser fã de Pier Paolo Pasolini, Emily Dickinson e Baudelaire, não é apenas uma bela mulher. É um segredo de Estado. GGG1/2

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