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Manoela Sawitzki, depois do romance Nuvens de Magalhães, entra para o elenco da editora Record | Divulgação
Manoela Sawitzki, depois do romance Nuvens de Magalhães, entra para o elenco da editora Record| Foto: Divulgação

A existência, recriada literariamente pela escritora Manoela Sawitzki, é uma comédia de desencontros. Ou a tragédia das impossibilidades. É como se todo minuto seguinte trouxesse apenas o indesejado. Tem guarda-chuvas? Então, tudo é ensolarado. O avião sairia sempre alguns segundos antes de o passageiro pisar no aeroporto.

É sobre fracasso que as páginas de Suíte Dama da Noite tratam, ininterruptamente. Mas é um tipo de falência específica. O romance foi estruturado para colocar em evidência a personagem Júlia Capovilla. Ela amou, ou supôs ter amado, desde pequena, apenas um único homem, Leo­nardo. Os trilhos da vida, e outros obstáculos, separaram os dois. O tempo passa, ela casa-se com Klaus, que é irmão de Ariana, que será a esposa de Leonardo.

A narração oscila, e sobrepõe passado, futuro e presente. Há várias vozes, interrupções e longos fluxos narrativos. Toda essa experimentação (que dialoga com o ritmo frenético do que pode ser a realidade ou os ziguezagues de uma mente humana) é costurada com maestria, e funciona: se, no início, pode haver alguma confusão, poucas páginas de leitura são suficientes para instigar e conduzir o leitor rumo ao universo melancólico dessa ficção.

A surpresa é quase uma constante no texto, e ser surpreendido não se torna monótono por que a narrativa não-linear realmente não segue nenhum padrão (é, de fato, surpreendente). O título do romance poderia sugerir uma música ou peça de teatro, por exemplo. Mas Suíte Dama da Noite é o nome do quarto de um hotel, ou motel, onde Júlia e Leonardo se encontravam, clandestinamente, para tentar dar forma carnal ao que poderia ser chamado de amor.

A suíte, que tem o nome Dama da Noite, é a Pasárgada, o Éden, o refúgio, enfim, onde Júlia (casada com Klaus) transa com Leo­nardo (o marido de Ariana). O quarto, redoma distante do cotidiano, é o espaço em que os concunhados tentam esboçar, por meio de palavras, um futuro em comum.

Leonardo, apesar de conhecer Júlia há décadas, não desconfiava que ela sentia algo por ele. Foi necessário que ela verbalizasse, dizendo com todas letras, e muita clareza: eu te amo. A partir disso, tornaram-se amantes. Ambos sabiam que os seus casamentos eram uma farsa, uma relação sem sentido.

Mas, como a autora é Manoela Sawitzki, haveria de ter algum problema sem solução no caminho da personagem Júlia Ca­­povilla. Ela se separa do marido. Leonardo, por mais que ensaie e tenha vontade, não será dela. Nem de ninguém. Leonardo morrerá. E a ausência dele jamais será preenchida.

Apesar de tudo, de toda a dor que a personagem vivencia, há um final em aberto, e a narração, em seus momentos derradeiros, insinua que a protagonista pode encontrar uma "terceira margem do rio": "Estava sendo e tinha curiosidade. Uma curiosidade infinita. Finalmente Júlia Ca­­povilla vivia, e apenas, em profundidade, como nunca, desejava viver".

Serviço:

Suíte Dama da Noite, de Manoela Sawitzki. Record, 224 págs., R$ 34.

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