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Bastardo!, solo de Duda Paiva que passou por Curitiba | Jaka Ivanc/Divulgação
Bastardo!, solo de Duda Paiva que passou por Curitiba| Foto: Jaka Ivanc/Divulgação

No conjunto das obras cênicas produzidas em Curitiba ou trazidas à cidade ao longo do ano, poucas se encaixam no conceito de dança-teatro tão bem quanto a pequena mostra de repertório trazida pelo goiano Duda Paiva no último fim de semana ao Teatro da Caixa. Com três apresentações cada, ele encenou sua Maldição (Malediction) e Bastardo! (Bastard!), ambas criadas na Holanda, onde mora desde 1996.

Maldição é inspirado em Wicked, paródia de Winnie Holzman sobre O Mágico de Oz que também já virou musical da Broadway. Ao lado do também brasileiro Ederson Rodrigues Xavier, Paiva realiza uma série de cenas em que interpreta vários personagens. Em todas, a manipulação de bonecos de espuma numa quase simbiose com o corpo humano rouba a cena, deixando a narrativa em segundo plano. Sim, os artistas costuram o que é sugerido no início com as resoluções finais, mas não há reviravolta, clímax ou grande acontecimento que torne a história memorável.

O ponto forte e o clima reinante é o de uma grande brincadeira seriada. Dorothy surge de barba e deslumbre forçado num sorriso bobo, numa sátira condizente com o ponto de vista da bruxa má, que, no livro, é a protagonista. Aqui, ela é virada do avesso e desmembrada até conseguir um coração, do qual sentia falta.

Os bonecos, feitos de uma flexível espuma, parecem vivos no manuseio dos dois performers, que também demonstram sua persona de bailarinos em vários números bem executados.

Tanto neste Maldição quanto em Bastardo!, que Paiva executa sozinho, a perfeita sincronia com a sonoplastia e a luz são admiráveis. Neste último, mais pesado, o artista preenche o palco com quilos de lixo, criando a sensação de se estar num gueto sujo que, com auxílio de projeções ao fundo e ao lado, logo se transmuta em algum lugar escondido do subconsciente do protagonista: um artista perdido, que encontra nos decrépitos Clê e Bastard (bonecos manuseados por ele) chaves para fora – ou mais para dentro – de seu próprio caos.

Aqui a história é mais bem amarrada entre início e fim, e a habilidade de Paiva no relacionamento com suas criações de espuma se mantém. O destaque é a cena em que ele empresta suas pernas, nuas, ao bailado de Clê, uma ex-bailarina ("Guaíra", ela diz) que já não tem os membros inferiores. A interação com Bastard por trás de uma tela de adesivos, em que é sobreposta a projeção em vídeo do próprio artista (na foto), também cria um momento de destaque.

Nas duas peças, o artista assina o trabalho com um aftertaste, um gostinho prolongado de sujeira, como numa música em que o ruído encobre a melodia.

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