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O curador Paulo Reis selecionou 47 artistas e grupos que realizaram ou realizam performances em Curitiba | Fotos: Jonathan Campos
O curador Paulo Reis selecionou 47 artistas e grupos que realizaram ou realizam performances em Curitiba| Foto: Fotos: Jonathan Campos

Solar do Barão abriga mais quatro mostras

Além de O Corpo na Cidade – Performance em Curitiba, o Solar do Barão reúne mais quatro exposições em suas salas.

A retrospectiva Denise Roman – 30 Anos na Fundação Cultural de Curitiba é uma homenagem da FCC à gravurista que completa 30 anos como artista e professora do Ateliê de Gravura do Solar do Barão. Há desde mandalas, onde "giram" seres que parecem saídos de contos de fadas, até meninas e bailarinas gravadas ao longo de tiras de papel, compondo pequenas narrativas que recebem títulos como "Cinco Gurias Girando e Olhando para Você" e "Vaga para uma Menina Girar".

Eliane Prolik é a artista contemporânea convidada para expor sua produção recente nas exposições Defórmicas e Pra Quê. Na primeira, exibe uma série de obras formadas pela união de réguas de fórmica de tamanhos e cores variadas. Mais de duzentas placas de veículos brancas com palavras prensadas em relevo formam a intalação Pra Quê.

Há ainda duas mostras de acervo, sob curadoria de Nilza Pro­­copiak. Formas e Arquitetura exibe fotografias de Améris Paolini, Gustavo Moura, João Urban, Luis Humberto, Orlando Azevedo e Vilma Slomp, pertencentes ao acervo do Museu de Fotografia. Preservação da Natureza – O Desafio Con­­tem­­porâneo revela rincões intocados da mata brasileiras em imagens de Araquém de Al­­cân­­tara, Claus Meyer e Manuel da Costa.

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  • Os Encontros de Arte Moderna na Escola de Música e Belas Artes do Paraná: primeiras ações performáticas de Curitiba

O pesquisador Paulo Reis nunca pretendeu contar em detalhes a história da performance em Cu­­ritiba ao propor a exposição Cor­­po na Cidade – A Performance em Cu­­ritiba, um dos projetos aprovados no edital de ocupação de espaços da Fundação Cultural de Cu­­ri­­tiba, em cartaz no Solar do Barão. Ao iniciar a pesquisa sobre o tema, em 2006, mais do que tentar descobrir detalhes como, por exemplo, qual foi a primeira performance realizada na capital paranaense, ele desejava conhecer o contexto que levaria à realização de ações desse gênero artístico por aqui. O resultado culminou numa exposição que, mesmo dividida por décadas, não oferece um panorama completo, mas exem­­plos significativos de performances realizadas por 47 artistas ou grupos locais. "É uma radiografia parcial, que pode ser continuada", explica o curador.Vestígios do efêmero Como realizar uma exposição so­­bre uma ação artística tão efêmera? Obviamente, não há qualquer performance sendo apresentada ali, ao vivo, nas salas do Solar do Ba­­rão. "Esta é uma exposição de vestígios, em que o público vai tentando dar sentido ao que já se realizou e agora está somente documentado", conta Reis. Ele conseguiu reunir, com a colaboração dos artistas, inúmeros vídeos e fotografias que documentam performances realizadas na cidade desde a década de 70, além de documentos variados como convites, cartazes e catálogos.

Mas não há apenas registros do que já se foi. "As performances não são feitas só ao vivo, na rua, podem ser feitas das mais variadas maneiras, como para o vídeo ou para a fotografia", conta Reis. Um exemplo disso é uma obra do artista e publicitário Rettamozo, em que ele é retratado dentro do quadro de uma fotografia, do­­brando as pontas do papel até se fechar ali dentro (veja foto acima). "Pela forma/ ou pela forma/ o ho­­mem/ re-trans/ f-torna", escreve co­­mo uma espécie de legenda. O ar­­tista é um dos pioneiros da performance na cidade, na década de 70, ao lado de Sergio Moura e Lauro Andrade.

Ali ao lado, na mesma sala, um registro fotográfico de Key Imaguire registra um momento de um dos Encontros de Arte Mo­­derna da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, entre 1969 a 1974, onde se dariam as primeiras ações relacionadas à performance em Curitiba. "Eram encontros que trouxeram informações absolutamente novas e discussões de vanguarda para a cidade", conta Reis.

As imagens mostram cenas de performances improvisadas pelos artistas em uma visita ao canteiro de obras da rodoferroviária, organizada pelo crítico Frederico Mo­­rais. "Ele colocou os artistas no mundo, em contato com as coisas, produzindo arte com o efêmero. Afinal, em breve as pedras se tornariam cimento; e os ferros, estrutura", conta o curador.

Nos anos 80, em plena abertura política, as performances ganham as ruas. "Os artistas retomam o espaço público", conta Reis. Al­­guns trabalhos estão mais ligados "a injunções de caráter subjetivo ou de ficções pessoais", produzidos por Rossana Guimarães e Raul Cruz. Outros são mais experimentais e com veia pop-anárquica, co­­mo os de autoria do Grupo PH4, de Edílson Viriato e de César Al­­meida. Há, ainda, pesquisas sobre o corpo e o movimento feitos por Eliane Prolik, Denise Bandeira e Laura Miranda, além de performances de caráter coletivo mais político e crítico, como as do Grupo Sensibilizar.

Conceito ampliado

Alguns trabalhos selecionados por Reis foram escolhidos a partir de um conceito ampliado de arte. Paulo Reis gosta de dizer que "pôs os óculos" da performance em algumas obras como, por exemplo, um ensaio fotográfico de Raul Cruz. O curador encarou como performance o que fez Yiftah Peled, em 1992, em uma ação artística que se confunde com a própria vida. O artista construiu uma escultura, vendeu-a e, com o dinheiro, comprou tênis para catadores de papel. Em se­­guida, colou cartazes pela cidade com os dizeres "pense sobre seus pensamentos".

A performance é mesmo uma arte complexa, que flerta com a dança, o teatro, as artes plásticas, como os diversos registros de performances produzidas nas décadas de 1990 e 2000 permitem entrever. A artista Carla Ven­­dra­­mi, que morreu em julho deste ano, instalou uma espécie de tenda no Aeroporto Afonso Pena para servir como um espaço onde se "sentar, pensar, discutir". Fer­­nando Ribeiro enrolou-se em filme de PVC e provocou reações inesperadas do público.

Uma fotografia de Marga Puntel exibe uma mulher com uma viseira feita de plantas (procure, junto com os documentos expostos nas vitrines, o catálogo em que a artista dá instruções sobre como fabricar viseiras). Bernadete Amorim e Eliane Prolik marcam uma parede branca com impressões do corpo e poeira. Otávio Camargo determinou que um grupo de pessoas se deitassem em fila em plena Rua XV de Novembro, unindo pés com cabeças.

Memória urbana

Rua XV, Rodoferroviária, Praça Zacarias, Relógio das Flores. Paulo Reis "viajou pela cidade" ao selecionar as performances que fariam parte da exposição. "São trabalhos que dão acesso a outras camadas de Curitiba", diz. O curador diz que, nas performances que pesquisou, percebe um fluxo pela cidade, atravessado pelo que acontece no mundo e sem que se busque uma identidade local. "Vejo muita qualidade e sintonia com o que se realiza no restante do país nas performances realizadas aqui", diz o curador.

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