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Dahmer, criador do Rei Emir, soberano do fictício Ziniguistão: “ditadores como o personagem surgem a todo instante” | Divulgação
Dahmer, criador do Rei Emir, soberano do fictício Ziniguistão: “ditadores como o personagem surgem a todo instante”| Foto: Divulgação

Resistindo ao Ocidente e suas manias democráticas, escravizando seus súditos e massacrando opositores de seu vitalício e brutal regime, o Rei Emir poderia ser um personagem real escondido em algum país do leste europeu, Indochina ou Oriente Médio, mas é a tirinha mais crítica do quadrinista e pintor carioca André Dahmer, criador da webcomics Os Malvados, que se popularizou na internet no começo da década passada.

Publicada no portal G1, no jornal O Globo e no site do quadrinista, as 250 tiras do Rei Emir Saad, O Monstro de Zazanov, que exploram os limites entre o humor e a crueldade no cotidiano excêntrico do ditador do fictício Ziniguistão, foram reunidas em um livro publicado pela editora LeYa/Barba Negra. Em uma entrevista por telefone concedida à Gazeta do Povo, Dahmer fala sobre a história do personagem, seu processo criativo e o estilo de seu humor. Confira a seguir trechos da conversa:

Diferentemente de suas outras tiras, o Rei Emir é inserido em todo um universo criado especificamente para ele, com países e coadjuvantes. Como surgiu o Ziniguistão e suas fronteiras?

Criei o Emir quando estava sentindo um esgotamento da tira dos Malvados, que não deixei de fazer. Sempre gostei do processo de criar mundos, mapas, nomes de cidades, e acho que o quadrinho tem essa vantagem em relação ao cinema ou ao teatro, já que o único gasto que você tem para inventar um universo novo é a imaginação. Olhando para países como Paquistão e Uzbequistão, quis fazer o Ziniguistão e seu ditador. Ditadores como o Emir surgem aos montes pelo mundo, e pouco importa se ele é de direita ou esquerda. O Pol Pot não devia em nada em sua desumanidade a Hitler ou Stalin.

Emir também tem uma história cronológica, com a infância do personagem, guerras, golpes de estado...

O meu editor [Sandro Lobo, da Barba Negra] foi quem organizou a bagunça que era minha produção. Ele descobriu que tinha uma ordem, a infância do Emir, a época dele na prisão, as invasões... Tinha ordem, mas estava fora de ordem. Propositalmente, porque eu não queria fazer algo no estilo "novelinha". Quando eu vi a cronologia, a única exigência que eu fiz foi colocar as tiras nessa disposição.

O humor do Rei Emir, como na maioria das suas tiras, sempre foi muito duro e triste mas, nos últimos tempos, o ditador deixou de explorar a miséria de seus súditos para criticar costumes da sociedade moderna. Você diria que está menos contundente na sua crítica?

As pessoas dizem que meu humor é muito politizado, mas a verdade é que eu gosto de todos os tipos de humor: de costumes sociais, cartuns, até o de torta na cara, desde que seja benfeito. Acho que abandonei um pouco o humor mundo cão sim, talvez seja a idade, mas para mim o importante é não forçar estilo. Se o leitor percebe que o quadrinho foi feito de má vontade, ele não lê mais, por isso prefiro abandonar temas e tipos de humor quando estou cansado deles. Mas é muito difícil eu dizer que tomei qualquer decisão baseada na lógica. Eu sou uma pessoa do caos, ter controle sobre as coisas é uma fantasia.

A figura do monstro de Zazanov ficou em evidência no ano passado pela Primavera Árabe e pela morte de ditadores como Kadafi e Kim Jong-il. O Rei Emir pode ter o mesmo destino?

O Emir já sofreu algumas tentativas de assassinato e alguns golpes de Estado, e se safou de todas. Mas pode ser que sim, que ele chegue ao fim, como todas as coisas. Não gosto da ideia de fórmula, o time que está ganhando pode ser um conforto para muitos artistas, mas não para mim. Eu gosto de criar e, para mim, é nisso que a arte se diferencia do artesanato, que trabalha com a repetição. Não é que eu seja destemido, é que eu não trabalho bem com segurança.

Serviço:Rei Emir Saad, O Monstro de Zazanov, de André Dahmer. LeYa/Barba Negra, 128 págs. Preço médio: R$ 34,90. HQ.

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