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Hoje deve chover muito. Amanhã também. A temperatura vai cair, lembrando todo mundo de que o inverno curitibano não terminou. Transforme essas frases em um poema de três versos e você terá um haicai. A forma clássica pede que o terceto tenha cinco, sete e cinco sílabas, trate de um tema ligado à natureza ou às estações do ano, e não é preciso rimar. Com o tempo, outras modalidades de haicai surgiram – houve até brasileiro que se tornou referência no Japão. Essas e outras curiosidades da forma de poema mais popular do mundo – ao menos é o que defendem seus adeptos – são abordadas pelo recém-criado Grêmio Haicai Manacá, que tem sua segunda reunião hoje, das 18 às 20 horas, na Biblioteca Pública do Paraná.

A idéia para o Manacá – o nome vem de um tipo de planta – partiu do psicoterapeuta José Marins e do professor de Eletrônica Sérgio Francisco Pichorim, ambos fãs de haicais. Durante três anos, se encontraram quinzenalmente para conversar sobre o tema e trocar haicais escritos por eles mesmos. Essas experiências renderam até livro a quatro mãos – Pinha Pinhão Pinhão Pinheiro, editado pela Araucária Cultural – e o grêmio.

O interesse de Marins pela forma poética japonesa – considerada uma prática zen-budista assim como a ikebana e o bonsai – começou nos anos 80, quando freqüentava a Feira do Poeta, no Largo da Ordem, e conversava com o escritor Paulo Leminski (1945 – 1989) sobre as pequenas descobertas que fazia – como o diário de Matsuo Basho (1644 – 1694), reeditado pela Iluminuras como Trilha Estreita ao Confim. Leminski era também autor de haicais e foi o principal responsável por apresentar ao leitor brasileiro o trabalho de Basho – de quem escreveu a biografia A Lágrima do Peixe –, que consolidou o haicai como forma poética.

Marins lembra que leu a obra de Leminski e se envolveu com os haicais. "Para usar um termo que os jovens falam, é o barato do haicai que me interessa", explica o psicoterapeuta para, em seguida, usar a palavra haimi, se referindo ao "sabor" que o haicai confere aos tercetos.

No grêmio, os participantes têm aulas ligadas ao universo da forma também conhecida como haiku (essa é a grafia utilizada em inglês), sabem mais sobre os principais autores do gênero e experimentam uma espécie de oficina em que temas são sugeridos para a criação de haicais.

O grêmio conta com 15 integrantes, é aberto a todos e absolutamente gratuito. Por meio dele, Marins espera transformar o Paraná no "estado do haicai". História para contar os paranaenses já têm. A escritora Helena Kolody (1912 – 2004) criou o formato de haicai que Marins chama de "kolodiano", modalidade que convive com o clássico, o livre (praticado por Leminski) e o guilhermino – de Guilherme de Almeida (1890 – 1969), considerado o "príncipe dos poetas" pela Academia Brasileira de Letras. Ele é o escritor brasileiro que ganhou o Japão ao desenvolver o haicai com rimas – algo inédito no mundo dos anos 1940.

* Serviço: Grêmio Haicai Manacá. Reuniões sempre às quartas-feiras, das 18 às 20 horas. Biblioteca Pública do Paraná (R. Cândido Lopes, 133 - Centro), (41) 3221-4900.

Curtas

* A revista Caqui é a principal divulgadora dos haicais no Brasil. Ela está na internet (www.kakinet.com).

* O haicai clássico é formado por um terceto – poema de três versos – com 17 sílabas e precisa ter ao menos uma palavra que remeta à idéia de sazonalidade (o que os japoneses chamam de kigo).

* O haicai é considerado uma prática zen-budista, assim como a ikebana e o bonsai.

* O primeiro grêmio de haicai do Brasil foi criado em São Paulo – chamado de Ipê.

* A antologia de haicais Quatro Estações, editada pelo grêmio Ipê, se tornou uma obra referencial no país.

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