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Personagens e locações de O Som ao Redor retratam com naturalidade a classe média pernambucana, algo destacado pela mídia internacional | Divulgação
Personagens e locações de O Som ao Redor retratam com naturalidade a classe média pernambucana, algo destacado pela mídia internacional| Foto: Divulgação

Para assistir

O Som ao Redor

(Brasil/2012). Direção de Kleber Mendonça Filho. Com Irandhir Santos e Waldemar José Solha. Vitrine Filmes. 131 min. Classificação indicativa: 16 anos. Locação e venda. Preço médio: R$ 39,90 (DVD) e R$ 59,90 (Blu-ray). Drama.

Em reportagem publicada na última semana pelo site/revista Variety, referência nos Estados Unidos quando se trata do mundo da indústria do entretenimento e cultural, o crítico Peter Debruge escreve que O Som ao Redor, representante do Brasil na corrida pelo Oscar de melhor filme estrangeiro, difere da imagem que os norte-americanos têm do cinema nacional contemporâneo.

O longa-metragem do cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho fugiria, diz o crítico, do padrão "favela-marginalidade-violência", estabelecido por Cidade de Deus e pelos dois títulos da franquia Tropa de Elite, filmes de grande repercussão internacional e que colocaram os seus respectivos diretores, Fernando Meirelles e José Padilha, no mapa de Hollywood.

Debruge escreve que O Som ao Redor, cujo lançamento em DVD e Blu-ray no mercado brasileiro está previsto para esta semana, com sete horas de extras, "se passa em um mundo que brasileiros urbanos [da classe média] podem reconhecer". O crítico acrescenta que o filme "revela o medo velado dos mais abastados em relação a seus vizinhos, o que os força a morar em condomínios longe das ruas, para fugir da ameaça ambígua representada pelas classes mais baixas".

Racismo

Na matéria da Variety, intitulada "Candidato do Brasil ao Oscar Sussurra Racismo", Debruge escreve: "O que faz O Som ao Redor tão potente é a forma com que ousa examinar esses preconceitos sem os identificá-los de forma explícita, confiando na capacidade do público de identificá-los".

Em entrevista a Debruge, Mendonça afirma existir uma forma não assumida de racismo na sociedade brasileira, e conta ter recomendado aos atores e colegas de equipe a jamais usarem a palavra "racismo" no filme, "de forma a reproduzir o mesmo padrão comportamental da sociedade brasileira, que não se enxerga como racista, mas tem práticas preconceituosas o tempo todo".

Ao falar sobre suas influências à publicação norte-americana, Mendonça surpreende. Diz ter buscado inspiração para O Som ao Redor em blockbusters como Poltergeist, E.T. – O Extraterrestre e Halloween, de forma a construir uma história em que coisas fantásticas acontecem nos ambientes aparentemente normais da vida suburbana de grandes cidades.

Premiado

Vencedor dos prêmios de melhor direção e melhor filme, pelos júris popular e da crítica, no Festival de Gramado de 2012, O Som ao Redor, também citado como um dos melhores longas de 2012 pelo crítico A. O. Scott, do The New York Times, foi rodado na rua onde Mendonça vive, situada no bairro Setúbal, de classe média abastada, na zona sul de Recife.

A região, no filme, é quase toda controlada por Francisco (Waldemar José Solha), um senhor de engenho que agora vive na cidade grande, cercado de filhos e netos, mas de certa forma ainda defensor de uma ordem social patriarcal e autoritária apenas disfarçada por uma fachada de modernidade – ele é o dono de quase todos os imóveis do local.

Embora reine uma aparente tranquilidade na vizinhança, a calmaria não convence: há uma tensão, de início apenas sugerida, que sobretudo se apresenta por meio de sons – daí o título do filme. Latidos de cães, barulhos de aspiradores de pó, carros freando, vozes, apitos, sirenes.

Todos têm significados e servem de costura para a trama, que ganha novo rumo quando Francisco permite que Clodoaldo (Irandhir Santos, de Tatuagem) se instale na rua com um serviço particular de segurança. A presença dessa espécie de milícia (um dos segredos do filme), além de revelar o sentimento de insegurança da classe média, também denuncia o esvaziamento do público em detrimento da defesa a qualquer custo do privado – outra discussão entre as muitas que O Som ao Redor pode suscitar.

As indicações ao Oscar 2014 serão divulgadas no dia 16 de janeiro. GGGGG

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