O canto que faz um destino

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José Rodrigo da Rocha, de 38 anos, não joga na Mega-Sena. Ele contou isso, e muito mais, para a reportagem da Gazeta do Povo, dentro de uma lotérica, onde também funciona uma lanchonete, no Centro de Curitiba. Zé Rodrigo, como ele é mais conhecido, não espera pelo bilhete premiado. Antes, acredita no fazer. Hoje, a partir das 21 horas, ele e mais 29 músicos apresentam-se no Grande Auditório do Teatro Positivo. É um show com 22 clássicos do repertório de Frank Sinatra. "Uma homenagem às mães", afirma o vocalista e líder da Soulution Orchestra.

A infância do hoje vocalista teve como trilha sonora canções, justamente de Sinatra e de Big Bands. O pai, advogado, colocava vinis para soar e o menino, ao invés de futebol, jogo de bafo e bolinha de gude, solfejava algumas das melodias que hoje são entoadas profissionalmente. Dia 21 de junho, a Soulution comemora uma década. Em maio, realizarão o milésimo show. Já se apresentaram nos principais palcos brasileiros, do Mistura Fina ao Bourbon Street (incluindo a abertura do show do B.B. King no Guairão, em 2004). Gravaram cinco álbuns e um DVD. Foram atração do Programa do Jô e do Faustão.

"Meu sonho é ser reconhecido." A frase foi repetida, continuamente, durante o bate-papo. E ele tem o seu trabalho endossado pelo mercado. A Soulution realiza, pelo menos, dez apresentações todo mês, oito delas para grandes empresas. "É proibida a entrada e o consumo de bebida alcoólica no camarim", observa o vocalista que, de pronto, cita os três pecados mortais para quem está no mundo artístico: drogas, bebidas e mulheres. Não que seja abstêmio. Até bebe um, dois copos de uísque de vez em quando. Mas para cantar, e mesmo fora do palco, vive de "cara limpa". Tem uma namorada fixa, a também cantora Rafaela Braga. E confessa que, toda semana, cogita abandonar a profissão.

"Estou muito cansado. É que não ‘vivo’ aquele ‘romantismo’ de apenas fazer um som ou de ‘sexo, drogas e rock-and-roll’." Hoje, ele mantém um escritório, onde mais três profissionais o auxiliam a manter em pé a estrutura profissional, que cuida da imagem à expansão dos negócios. Zé Rodrigo também gravou dois álbuns com a Electric Soul, o seu projeto-solo, que flerta com o pop-rock, ao lado de outros seis músicos, menos da metade da formação da Soulution – o que amplia as possibilidades de subir aos palcos (sem dúvida, uma nova frente de trabalho). Dorme de dez a 12 horas, para preservar a voz, não pratica esportes e tem uma outra vida se comparada com a que tinha há cinco anos.

Em 2004, deitou na mesa de cirurgia com 120 quilos. Meses mais tarde tinha 50 quilos a menos, peso que mantém até hoje. A redução do estômago e do intestino transformou a sua visão de mundo. "Eu era um doente. Só pensava em comida. Mal saía da mesa e já imaginava como seria a próxima refeição." Agora, ao invés de dois quilos de carne em churrascarias, tem prazer em "degustar" uma conversa ao redor de pratos finos. "Não sou mais o gordinho que deseja agradar a todos. Hoje, penso mais em mim." Zé Rodrigo bebeu duas xícaras de café com leite nas duas horas e meia de entrevista. Contou que em sua empresa não tem café. "Caso contrário, eu beberia (café) o dia inteiro."

Diogo Portugal. Alexandre Nero. Denorex 80. Maurício Vogue. Gustavo Guerra. Relespública. Eis alguns dos artistas curitibanos que Zé Rodrigo admira e faz questão de elogiar. "Quando falo que gostaria de ser reconhecido, é também para figurar ao lado desses talentos de Curitiba, que fazem toda a diferença para a vida cultural da cidade." No mês que vem, ele vai gravar um DVD, que terá a direção de Maurício Vogue, com a presença de Marjorie Estiano, entre os vários convidados.

Zé Rodrigo acredita que cumpre uma missão. "Que é divulgar esse respertório de Big Bands, Sinatra e outros grandes artistas." Ele não tem vontade de compor. "Pois, como eu iria competir com esses gigantes?" O sujeito que vive de música há mais de uma década, apesar de reclamar da rotina "pesada", por ter de atuar mais nos bastidores do que propriamente no palco, de repente, confessa que tem a vida que sempre sonhou. "Há quem diga: eu queria ter uma banda! Também fui assim. Até fiz análise. E, graças a Deus, consegui ter a vida ‘dos sonhos’. Acordo feliz todos os dias."

Serviço

Sinatra Songs. Teatro Positivo – Grande Auditório (R. Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300 – Campo Comprido), (41) 3317-3107. Soulution Orchestra interpreta 22 canções de Frank Sinatra. Hoje, às 21 horas. Ingressos a confirmar.