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“Não tenho interesse em contar histórias. Não acho que o teatro seja para isso[...] A ideia é debater, abrir uma conversa. Não contar a biografia de Darwin, que sempre me pareceu apetitoso.” Fabio Salvatti, diretor teatral. | Allan Raffo/Divulgação
“Não tenho interesse em contar histórias. Não acho que o teatro seja para isso[...] A ideia é debater, abrir uma conversa. Não contar a biografia de Darwin, que sempre me pareceu apetitoso.” Fabio Salvatti, diretor teatral.| Foto: Allan Raffo/Divulgação

Serviço:

Veja as informações desta e de outras peças teatrais no Guia Gazeta do Povo

  • Coreografias e máscaras são alguns dos recursos cênicos utilizados em Darwin: mais perguntas do que respostas

Numa época em que a simples menção da teoria da evolução das espécies divide interlocutores entre entusiastas, desconfiados e detratores, faz bem assistir a um espetáculo com essa inspiração científica guiado pelo senso de humor. Darwin, que estreia hoje, coloca no palco cenas criadas coletivamente pelo elenco (Andrew Knoll, Alan Raffo, Carolina Fauquemont, Chiris Gomes e Marisia Bruning) selecionado pela produtora Processo Multiartes, que convidou para a direção Fabio Salvatti (Veja o serviço completo do espetáculo no Guia Gazeta do Povo).

Em uma hora e vinte minutos, a peça encenada no Teatro Experimental Universitário constrói esquetes visualmente interessantes e com tiradas que alternam o tom cômico e a investigação existencial.

Os pressupostos estão baseados em A Origem das Espécies, obra do naturalista britânico Charles Darwin (1809-1882) publicada em 1859 e que demarcou um novo território na Ciência, colocando as bases sobre as quais a pesquisa genética se desenvolveria. Mas o trabalho vai além, pincelando metáforas que sugerem o quanto a vida e a morte continuam imensas e incompreensíveis.

O cientificismo é só uma das abordagens do trabalho. A seleção natural aparece difundida para outros campos além da vida, como a economia e o livre mercado. O misticismo e sua penetração no meio evangélico não poderiam faltar, e surgem ao abordar seja a existência de um dragão ou a manipulação do texto bíblico.

Shakespeare

A peça rompe com qualquer previsibilidade quando apela para o Rei Lear, de Shakespeare, peça em que um soberano propõe a divisão de seu reino entre suas três filhas, para falar de herança – mas também sobre verdade e mentira, autenticidade e simulacro. O poema "O Novo Homem", de Carlos Drummond de Andrade, também é utilizado na encenação.

Outro recurso cênico da peça são coreografias – algumas muito bem coordenadas, como no ótimo momento em que a evolução da humanidade é representada (foto acima) para concorrer a uma faixa de miss. Em algumas ocasiões, há movimentações mais livres pelo palco, como na brincadeira "siga o líder", que alude às mutações que "carregam" consigo o restante da espécie.

O tom lúdico predomina, com "picos", como na canção infantil que lembra as reações em cadeia e os efeitos de causa e consequência na natureza. A música que embala cada cena é assinada por Octavio Camargo.

"A ideia é debater, abrir uma conversa. Não contar a biografia de Darwin, que sempre me pareceu apetitoso", conta Salvatti. Ele se apaixonou pela ideia de um espetáculo com essa temática quando morou na Inglaterra, justamente na época da comemoração dos 200 anos do cientista, quando presenciou exposições e homenagens à obra de Darwin.

Salvatti, que atuou por cerca de uma década em Curitiba, como assistente de Fernando Kinas e depois em carreira solo (quando montou Modesta Proposta, O Ex-Mágico e A Falsa Suicida, entre outros), agora é professor na Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis. O convite do produtor Adriano Esturilho o trouxe de volta – nas férias.

Serviço:

Darwin. Teuni – Teatro Experimental Universitário (Travessa Alfredo Bufren, 140), (41) 3310-2736. De quinta a domingo, às 20 horas. Entrada franca. Até 25 de março.

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