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Dora de Paula Soares, professora e proprietária do Studio D1, ensina alunas de todas as idades e tipos físicos: “Elas estão aqui pelo prazer de dançar” | Walter Alves / Gazeta do Povo
Dora de Paula Soares, professora e proprietária do Studio D1, ensina alunas de todas as idades e tipos físicos: “Elas estão aqui pelo prazer de dançar”| Foto: Walter Alves / Gazeta do Povo

Sangue, suor e lágrimas

Com um pouco de sacrifício, Dora de Paula Soares pode trazer um bailarino de renome internacional para dançar em um espetáculo do Studio D1, que criou há 33 anos. Mas ela não teria recursos para fazer o mesmo convite a uma celebridade qualquer de capa de revista. Não que pretenda fazer isso.

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Se antes toda menina se imaginava de coque, saiote e sapatilhas de ponta, dançando diafanamente como Ana Botafogo, hoje muitas preferem imitar o rebolado sexy e frenético de Shakira ou Beyoncé. Isso significa que ser bailarina clássica já não é mais um sonho feminino?

Não. É a opinião unânime dos bailarinos e professores entrevistados. "A dança clássica não morreu, é um estilo e vai perdurar, assim como a música erudita. O que é bom fica", diz Eleonora Greca, primeira bailarina do Balé Teatro Guaíra e coordenadora de dança da Fundação Cultural de Curitiba (FCC).

"O balé é uma arte viva! Está em constante evolução. Mantém-se a tradição sem deixar de olhar para o presente e, principalmente, para o futuro", diz Cesar Lima, que ensina balé clássico na Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, com sede em Joinville.

Isso significa que o ensino da dança clássica já não é tão purista e vem se adaptando à demanda das próprias companhias por bailarinos familiarizados com vertentes contemporâneas. "O bailarino hoje tem de ser múltiplo, conhecer técnicas de improvisação teatrais, jazz, dança contemporânea, hip-hop. As companhias hoje querem saber se ele rebola também", diz Eleonora Greca.

Por outro lado, ela lembra que companhias de dança contemporânea, como o Grupo Corpo e Cia. de Dança Deborah Colker, exigem que seus membros tenham uma base clássica. "O balé clássico é mãe, mas os filhotinhos são necessários", concorda Dora de Paula Soares, proprietária e professora da academia Studio D1.

O contato com outras linguagens é estimulado entre os mais de 300 alunos matriculados na Escola de Dança Teatro Guaíra, já nas turmas de iniciação à dança, nas quais as crianças de 5 a 7 anos são apresentadas ao balé de forma lúdica e experimental. "Trabalhamos, além da dança clássica, a improvisação e o contemporâneo", diz a coordenadora Sylvia Andrzejewski Massuchin.

Ela explica que a própria maneira de ensinar a dança clássica vem se modificando. "A ideia da repetição já não existe mais. Pensamos no corpo, no movimento, como ele surge e acontece até a finalização. A compreensão e a intenção do que está sendo executado devem fazer parte da formação. Hoje fala-se de ossos, músculos, do processo, e estimula-se a criação e expressão", diz.

A introdução de conceitos contemporâneos ao ensino nem sempre é bem aceita. "Isso dá uma volta na cabeça de muitos professores. Na Europa, as companhias vêm se modificando, os bailarinos são mais altos, têm outra estrutura física. Então, é preciso equilibrar a aula para de adaptar a esses corpos novos", considera Jair Morais, que recentemente passou um período como professor convidado da São Paulo Companhia de Dança e, agora, ensaia o elenco da Cia. de Dança Deborah Colker, que apresenta o espetáculo Tathyana nos dias 9 e 10, no Guairão.

"A São Paulo Companhia de Dança é uma companhia contemporânea, mas com uma qualidade só adquirida porque tem bailarinos que dominam o balé clássico. O clássico como trabalho diário é essencial em uma companhia, dá disciplina. É a base, a mãe de tudo", diz Morais.

Precocidade

Hoje, o bailarino clássico "abriu a cabeça" com as inúmeras referências que chegam pela internet e, por isso, as crianças estão mais precoces. "O trabalho precisa ser mais acelerado porque uma menina de 13 anos faz o que, no passado, só uma de 20 faria. Antigamente, uma bailarina só faria ponta depois dos 12 anos e, atualmente, com 10 ela já está fazendo loucuras. É preciso preparar esse corpo para não machucá-lo, fortificar suas articulações", diz Moraes, que diz aprender muito com as inúmeras informações trazidas pelos alunos e assistindo a festivais.

Tanta precocidade precisa ser direcionada, aponta Jair, para que não haja futuros problemas. Sylvia concorda: "Hoje em dia, cada vez mais cedo os jovens estão chegando a níveis mais elevados de performance. Na Escola de Dança do Teatro Guaíra, muitos alunos antes de chegarem à conclusão do curso são colocados no mercado de trabalho. Idade depende das escolhas, devemos considerar o foco pretendido e estar conscientes de que é um trabalho de corpo e existe todo um tempo para desenvolvê-lo", diz.

Eleonora Greca aponta três elementos que devem guiar os currículos de formação em dança, em qualquer tempo: informação, formação e observação. "O artista não pode se fechar no mundo em que vive", diz ela, que nunca vai se esquecer do dia em que, ainda adolescente, foi levada pelas professoras, "com dinheiro de vaquinha", para assistir no Rio de Janeiro aos espetáculos da Royal Academy of Dance, a prestigiada companhia londrina.

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