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Casal no Barigüi: acesso rápido a informações deixa jovens cada vez mais confiantes para falar de assuntos diversos | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Casal no Barigüi: acesso rápido a informações deixa jovens cada vez mais confiantes para falar de assuntos diversos| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Se a internet trouxe o acesso instantâneo a artigos científicos, vídeos, fotografias e a caixa postal de pessoas interessantes ao redor do mundo, também está transformando a maneira como aprendemos e registramos o saber. "Tem conhecimento enciclopédico", dizia-se de alguém "sabido"até há pouco tempo. Para a maioria dos jovens, um clique na Wikipédia, com todos os erros que possam estar embutidos no site de edição coletiva, seria o suficiente para elucidar as mais profundas dúvidas. "Sabido" passou a ser aquele atualizado com os memes das redes sociais.

Preocupado com o rumo que a transformação está tomando, o diretor de teatro e professor da Faculdade de Artes do Paraná (FAP) Paulo Biscaia Filho lamenta que o interesse por conhecimentos gerais seja cada vez menor entre seus alunos.

"Eu falo para os alunos de direção que algum dia vamos debater sobre qualquer coisa, menos teatro. Porque teatro não se faz de teatro e sim de todo o resto que está fora", promete. "Se não começarem a falar sobre o conflito da Síria e a Câmara de Vereadores, não vão conseguir comunicar nada para o público."

Assustado quando ouviu "1950" ao questionar a data da independência brasileira, ele relaciona o desinteresse por informações básicas à cultura da internet. "A informação hoje entra e sai como num filme visto por streaming, sem se ter feito o download."

Vestibular

A percepção de que o nível dos alunos saídos do ensino médio baixou levou professores da FAP a dificultar as provas de acesso aos cursos da instituição, conforme conta a professora de interpretação e improvisação no teatro Ana Fabrício.

"Existe um despreparo para entender textos e entabular discussões. Então, fizemos alterações no vestibular para trazer pessoas mais qualificadas."

A medida tem relação com uma mudança no foco de formação da FAP, que caminha da profissionalização para o estímulo à pesquisa entre artistas.

Com esse enfoque, muitos pesquisadores acreditam que a educação pode ser mais completa. O professor inglês Stefan Collini, que ensina História Intelectual e Literatura Inglesa na Universidade de Cambridge, enfatiza a importância de as universidades mirarem na educação global do aluno. "O treinamento apenas instala um bloco de informações no ‘disco rígido’ do cérebro. A educação modifica a inteligência e o caráter do estudante, tornando-o mais capaz de absorver e usar a informação."

E aqui a internet volta a ser a "mocinha" da história. Paulo Biscaia Filho, por exemplo, considera seus alunos de cinema muito bem informados sobre estilos de diretores e filmografias – um benefício da facilidade de pesquisa na rede.

De qualquer forma, a professora do curso de Letras da Universidade Federal do Paraná Sandra Stroparo pontua o quanto é difícil avaliar a quantidade de conhecimento que os alunos estão absorvendo e em qual profundidade. "Acredito que há uma medida de streaming e outra de download, dependendo do aluno, dependendo da disciplina."

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