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José Vasconcelos subiu ao palco pela primeira vez em 1947 | Divulgação
José Vasconcelos subiu ao palco pela primeira vez em 1947| Foto: Divulgação

Em 1947, a expressão stand-up comedy não significava muita coisa no Brasil. Mas, nesse mesmo ano, um jovem de 21 anos subiu em um palco no Rio de Janeiro para enfrentar sozinho uma platéia ansiosa por risos e uma multidão que sintonizava a rádio Nacional. Era José Vasconcelos, que com um microfone à frente e um violão nos braços dava toques verdes e amarelos ao gênero de humor nascido nos Estados Unidos.

Vasconcelos foi responsável por criar um tipo original. O humorista encarnava um personagem simples e ingênuo. Seus óculos exagerados e seu semblante quase catatônico contrastavam com o bem cortado terno que vestia, criando um personagem único que fez muito sucesso por décadas também em programas televisivos como A Praça É Nossa e A Escolinha do Professor Raimundo. É dele também o crédito pelo primeiro programa humorístico da tevê brasileira: Vasconcelos produziu e atuou em A Toca do Zé, exibido pela extinta Tupi em 1952. Com 82 anos – 60 deles dedicados ao humor –, o nosso Jerry Lewis nasceu no Acre e hoje descansa em sua casa em Itatiba, interior de São Paulo. Foi de lá que conversou, munido do esperado bom-humor, com a reportagem da Gazeta do Povo.

"Comecei a fazer humor quando era moleque. Tinha um programa diário na rádio Nacional em que imitava todo mundo que fosse imitável e contava piadas que tinham a ver com o Brasil daquela época: políticos, a vida no Rio, com tudo. Eu botava as idéias na cabeça e mandava o pirão", disse Vasconcelos, que quando jovem se espelhou no comediante norte-americano Danny Kaye (1913-1987), famoso humorista da Broadway. "Tudo o que ele fazia era bom. Ele imitava, cantava e contava piadas. Eu fazia igual aqui no Brasil. Tinha outros que eu também gostava, mas minha cabeça não se lembra mais deles", revelou.

Era munido dessas referências e de informações do cotidiano da vida dos brasileiros que protagonizou a gênese da stand-up comedy no país. "O que eu fazia era novidade naquela época. Por isso o público gostava de me assistir. Media isso pela força dos aplausos e pela duração dos risos que vinham da platéia", comentou o comediante.

Estar sozinho no palco, tendo um microfone e a expectativa da platéia como companheiros. Desafio? Motivo para medo? Não para Vasconcelos. "Nunca tinha e nunca tive medo na minha vida. Eu me bastava no palco", confessou. O sucesso do gênero – que continua a povoar teatros e a revelar novos humoristas pelo Brasil (veja matéria ao lado) – é creditado, por Vasconcelos, à veracidade do que era dito por quem subia ao palco.

"Tudo o que a gente fazia era baseado na verdade e no cotidiano das pessoas. Quase nada ali era inventado ou imaginado. Por isso o público se identificava tanto", comentou o também músico e poeta. Em 1960 Vasconcelos gravou Eu Sou o Espetáculo, LP que vendeu mais de 100 mil cópias no Brasil. Em 2004, lançou Um Novo Dia, livro de poesias. "Todo humorista é um pouco triste também. Essa foi a minha maneira de expressar um pouco meu outro lado", explicou.

E como está o humor brasileiro hoje, José? "Está bom. Há comediantes regulares por aí, escondidos. Eu admiro todo mundo que faz bons espetáculos, porque quem consegue fazer humor é inteligente."

Vasconcelos não soube citar nomes de sua preferência, mas deixou claro que os que aparecem na tevê não são os que mais lhe agradam hoje. "Não tem nada de bom. Do jeito que está, não tem mais chance", disse o comediante, que não aparece nas telinhas há um bom tempo e dedica a maior parte do seu tempo à escrita.E daquele tempos idos e bem-humorados, do que ele sente mais saudade? "Das meninas, rapaz... das meninas."

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