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Ternos bacanas, gestos educados, nenhuma arma ou droga à vista e muito menos álcool do que seria de se esperar. Durante dois anos, um fotógrafo belga ganhou uma licença para explorar um submundo fechado a ocidentais: o dia a dia de um dos grupos que compõem a máfia japonesa, a Yakuza – nome sempre pronunciado aos sussurros no Japão, com uma mistura de temor e fascínio. Anton Kusters conquistou a confiança da gangue que controla Kabukicho, bairro de Tóquio conhecido pelos bares de strip, casas de massagem e sex shops, e abriu com sua câmera as portas de um universo contraditório e enigmático.

As fotos de Kusters viraram um livro independente, Odo Yakuza Tokyo, que se esgotou em um mês e está na segunda edição. São imagens documentais, sem iluminação especial, variando entre o belo e o triste. Para capturar a atmosfera esverdeada que reflete a luz fluorescente da noite de Tóquio ou o cinza de ambientes onde sujeitos normais não ousariam entrar, o fotógrafo presenciou shows eróticos, reuniões, treinamentos e até o funeral de um poderoso chefão. Para chegar lá, teve que aprender a se comportar num ambiente que gira em torno do crime, embora pautado por rígidos códigos de honra.

Há corpos tatuados e dedos decepados, retratos já conhecidos da máfia japonesa, mas também espaço para uma convivência com a sociedade. Nem tudo o que diz respeito à Yakuza acontece na escuridão. Acordos com a polícia garantem a manutenção da ordem e, em determinados casos, fica difícil dizer o que é ilegal e o que está dentro da lei.

"A Yakuza não é só o crime organizado, é também um estilo de vida, com regras que precisam ser seguidas. Às vezes parece mais um sindicato do que um grupo de criminosos", disse Kusters.

Como tudo no Japão, a Yakuza também é regida por um sistema hierárquico inflexível. Uma foto do bando sentado na praia, meditando contradiz a imagem propagada pelo cinema de uma tribo de selvagens arrancando cabeças pelas ruas de Tóquio com espadas de samurai. O fotógrafo não quis romantizar a máfia japonesa, movida a extorsão, contrabando, prostituição e tráfico de drogas, mas acredita que sua aventura revela uma subcultura mais complexa do que se imagina.

Serviço:

Odo Yakuza Tokyo de Anton Kusters. À venda no site www.antonkusters.com por 50 euros. Fotografia.

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