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Qualquer aspecto da vida cultural, econômica e política dos Estados Unidos foi modificado pelo fatídico 11 de setembro de 2001. Antes, as despesas com a defesa do país estavam abaixo de US$ 300 bilhões anuais, o número de agressões às minorias islâmicas não alcançava 50 casos por ano, Osama Bin Laden era um desconhecido, e o país não estava em guerra. Depois, os gastos com a defesa subiram para cima de U$ 500 bilhões, os incidentes contra os muçulmanos triplicaram, o Afeganistão foi bombardeado em apenas 26 dias e o nome de Osama Bin Laden foi mencionado 33 mil vezes nos 50 jornais de maior circulação dos Estados Unidos até o final de 2001.

Logo se percebeu que o impacto do atentado não representava somente a demolição de dois arranha-céus e a perda colossal de vidas humanas. Era também a destruição de um símbolo. Se um símbolo é o visível que representa algo invisível, as torres gêmeas eram dois prédios que expressavam os valores, as crenças e os modos de vida de uma cultura. Mais que causar prejuízo financeiro (na casa de centenas de bilhões), o terrorismo soube destruir um símbolo e criar um evento midiático.

Captado em câmeras amadoras nas mãos de turistas e passantes espalhados por Nova Iorque, o desabamento do World Trade Center representou um choque de realismo. Curiosamente, cinco anos depois, é justamente na câmera tremida apoiada na mão que o filme Vôo 93 busca sua representação de realismo. Dirigido por Paul Greengrass, que já mostrou gostar de imagem bagunçada na franquia Supremacia Bourne, o filme busca narrar os acontecimentos transcorridos no vôo 93 da United Airlines, a única das quatro aeronaves a não alcançar o alvo previsto pelos terroristas.

Para conferir verossimilhança à sua abordagem, o cineasta conversou com familiares e até usou os operadores de tráfego que trabalharam naquele dia acompanhando o vôo. Mas, por mais que queira aparentar realismo, trata-se da primeira tentativa de tratar o episódio como uma história de ficção. Ninguém sabe o que aconteceu dentro do avião e o que vemos no filme empresta muito do gênero terror, com os passageiros ganhando contornos heróicos, inclusive. Talvez o aspecto mais co-rajoso do filme seja dispensar considerável parte do tempo construindo um retrato humanizado dos terroristas.

Até o final do mês, deverá chegar aos cinemas outro filme situado naquele traumático dia. As Tores Gêmeas promete narrar o desabamento do World Trade Center a partir da perspectiva de dois sobreviventes, John McLoughlin e William Jimeno, policiais que trabalhavam na estação de ônibus de Port Authority, em Manhattan. O roteiro foi escrito a partir do depoimento dos oficiais, interpretados respectivamente por Nicolas Cage e Michael Peña. A narrativa apresenta os acontecimentos segundo o ponto de vista dos envolvidos, o que também inclui as famílias, com Maria Bello e Maggie Gyllenhaal nos papéis de esposas. A julgar pelas reações da crítica americana, o filme entrega aquilo que o público quer ver: uma história sobre as vítimas e sem os terroristas. O resultado tem sido descrito como visualmente impressionante, emotivo, patriótico e politicamente despretensioso.

No entanto, a ficção foi antecipada pelo documentário. Ou, pelo menos, aquilo que quer parecer como documentário. É o caso de Encontro Fatal: September Tapes, de Christian Johnson, uma mescla de ficção e documentário que mostra a caçada a Osama Bin Laden. Realizado à moda de A Bruxa de Blair, o filme simula oito fitas deixadas por uma equipe de documentaristas. Não passou pelo cinemas brasileiros e foi lançado diretamente no mercado de DVD.

Talvez o mais famoso filme relacionado ao caso seja Fahrenheit 11 de Setembro, dirigido e estrelado por Michael Moore. O filme venceu a Palma de Ouro em Cannes e investiga as ligações da família Bush com Osama Bin Laden. O diretor é o centro do filme e atira para todos os lados colhendo informações e fazendo barulho. Há um ditado grego que diz que todas as coisas radicalmente opostas são, no fundo, sempre iguais, e há quem aplique a máxima para Moore e Bush. Seja como for, foi o filme o documentário de maior bilheteria de todos os tempos.

Uma filmoteca sobre os assunto não poderia deixar de contar com Alerta Vermelho: 11 de Setembro, um longa-metragem composto de 11 curtas-metragens realizados por cineastas respeitados como Shoei Imamura, Claude Lelouch e Amos Gitai, entre outros. Mal ou bem-sucedidos, todos lidam com terrorismo, compilando uma perspectiva multicultural sobre o tema.

Talvez o melhor longa a incorporar o atentado terrorista tenha sido A Última Hora, de Spike Lee (O Plano Perfeito). Mesmo não endereçado ao assunto diretamente, a presença do ocorrido é significativa no desenvolvimento da trama, que lida com um traficante de classe média interpretado por Edward Norton e prestes a ir para a prisão.

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