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A poesia, dizem os estudiosos, é um dos gêneros mais difíceis da literatura. É difícil de ser feita, sorvida e consumida. A Câmara Brasileira do Livro (CBL) não disponibiliza dados sobre a comercialização de obras poéticas, mas o mercado livreiro tem informações. Na Livrarias Curitiba, que tem 18 lojas, e na Livraria Cultura, com 12 unidades, livros de poesia representam cerca de 1% das vendas. Para se ter uma ideia do que isso significa, na rede Livrarias Curitiba, entre os mais de 1 milhão de títulos comercializados no ano passado, apenas 10 mil foram de poesia.

O diretor comercial da Livrarias Curitiba, Marcos Pedri, acredita que livros de poesia não vendem mais porque a linguagem poética é difícil de ser compreendida, diferentemente do que acontece com os livros de prosa. "Poucas pessoas entendem poesia", afirma Pedri. Ricardo Schil, gestor de negócios da Livraria Cultura, comenta que, apesar da baixa vendagem, é necessário disponibilizar nas estantes livros de Homero, Charles Baudelaire, Mario Quintana e de outros poetas. "Não podemos abrir mão de oferecer ao público poesia, que é o que dá refinamento às lojas e atende o leitor que busca a alta literatura", diz Schil.

A falta de interesse do público por livros de poesia pode estar associada a uma outra questão, mais aguda: a qualidade da produção. O professor de Teoria Literária na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Alcir Pécora analisa que a poesia brasileira não passa por um momento "feliz". "A maior parte [da produção] é o velho modelo expressivo, intimista e kitsch", diz. Pécora, também crítico literário da Folha de S.Paulo, aponta para uma das origens do problema: o sistema educacional. "Sem a melhora do ensino fundamental e médio, sem melhorar a formação intelectual, e maior exigência em termos de repertório em humanidades, o que inclui naturalmente melhora no ensino de línguas, não há meio de a produção média se tornar de bom nível. Claro que sempre há espaço para exceções, mas a regra é a mesma. Educação ruim, literatura medíocre", argumenta Pécora.

A bossa da música

Se o professor da Unicamp afirma que a poesia brasileira vai mal, então, é sinal de que no passado a situação do gênero foi melhor. Os autores aplaudidos pela crítica e lidos pela população, entre os quais Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, remetem a um tempo em que as pessoas liam poesia em casa; muita gente memorizava e declamava poemas.

Carlos Eduardo de Magalhães, escritor e proprietário da editora Grua Livros, e Luís Augusto Fischer, escritor e professor de Literatura Brasileira da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), têm um ponto de vista em comum, que ajuda entender o que aconteceu com a poesia no Brasil. Para eles, a poesia deixou de ocupar espaço na vida dos brasileiros a partir da metade do século 20, quando a canção popular passou a seduzir autores de textos líricos de alta qualidade, como Vinicius de Moraes, Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil e Paulinho da Viola. "As pessoas passaram a matar a sua sede lírica na canção", diz Fischer. Magalhães completa que, em tempos recentes, também foram compositores, como Cazuza, Renato Russo, Herbert Vianna, entre outros, que passaram a dar as respostas que, antes, a poesia dava.

Poesia não vende?

Poetas, editores e livreiros não se cansam de repetir o bordão: poesia não vende. Pascoal Soto, o editor da Leya, discorda. "Toda obra literária de qualidade vende. A boa poesia, obviamente, também", afirma Soto. Para comprovar o que diz, Soto cita Manoel de Barros, poeta que ele edita desde a década de 1990.

Entre 1997 e 2002, Soto foi o editor da Salamandra e, durante o período, ele publicou O Fazedor de Amanhecer, de Barros, que venceu o Prêmio Jabuti, Livro do Ano em 2002, e foi um sucesso de vendas. Quando passou a atuar na Planeta, de 2002 a 2008, Soto editou três obras do poeta, e cada título registrava 10 mil exemplares comercializados por ano. Agora, na Leya, o editor comemora que Poesia Completa, de Manoel de Barros, ultrapassou a marca dos 13 mil livros vendidos.

Outro editor otimista em relação à poesia é Jorge Viveiros de Castro. Desde 1997, ele publicou 700 livros por meio de sua editora, a 7Letras. Metade do catálogo é de obras poéticas. Castro sabe que a realidade do mercado não é fácil para um estreante. Em média, um livro de poesia vende cem exemplares. Quando o autor consegue comercializar 500, é festa na certa. A esperança do editor são os livros digitais, que ele considera apropriados para a poesia, pela possibilidade de utilizar recursos gráficos e o registro de áudio com a voz dos autores. "No suporte digital, um livro de poesia tem mais chance de atrair a atenção do público. O futuro é promissor", prevê Castro.

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