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Jane Austen está mais viva do que nunca. Embora a escritora inglesa tenha partido deste mundo em 1816, sua obra, principalmente graças a sucessivas e bem-sucedidas adaptações para cinema, tem se mantido no imaginário e nas prateleiras ao redor do mundo. Vale, no entanto, indagar por que, entre tantos autores de valor literário, Austen sustenta-se no topo da lista dos favoritos entre os diretores contemporâneos.

Duas características na escritura da autora de clássicos como Emma e Razão e Sensibilidade são fundamentais para justificar a perenidade de sua obra: o foco nas intrincadas e nem sempre pacíficas relações entre classes sociais na Inglaterra do início do século 19; e o olhar feminino diante desse mundo em mutação. Esses dois elementos são essenciais e ricamente explorados em Orgulho e Preconceito, filme de estréia do britânico Joe Wright, que chega ao Brasil embalado por quatro indicações ao Oscar 2006: melhor atriz (Keira Knightley), direção de arte, figurino e trilha sonora.

A trama, como de hábito na obra de Austen, é, na superfície, uma história de amor, mas vai muito além do romântico. Discute, principalmente, os limites que separavam os extratos sociais da classista sociedade britânica da época. No centro da história está a heroína Elizabeth Bennett, vivida com graça e bravura por Keira Knightley.

A personagem é uma das cinco irmãs Bennett, filhas de um casal da burguesia rural inglesa, vivido pelos excelentes Brenda Blethyn (de Segredos e Mentiras) e Donald Sutherland (de Gente como a Gente). Diante da constatação de que apenas bons casamentos as salvarão de inevitáveis dificuldades financeiras futuras – pela lei do país, a propriedade da família será herdada por um primo distante –, a mãe da menina tem como missão de vida encontrar-lhes maridos prósperos e respeitáveis. E sua prioridade é encaminhar a filha mais velha, a bela e doce Jane.

Nesse jogo de probabilidades, Elizabeth, jovem inteligente e algo voluntariosa, está em desvantagem. Tem de esperar o noivado da primogênita para receber a atenção dos intentos casamenteiros da mãe. Acontece que, a exemplo de outras heroínas de Jane Austen, a moça apenas aceita a idéia de se relacionar com um homem por quem nutra amor sincero e verdadeiro. Nada de enlaces por conveniência. É quando entra em cena Mr. Darcy (Matthew McFadyen), elegante cavalheiro da nobreza que nutre pelos Bennett um discreto mas claro desprezo, mas que, para a própria surpresa, acaba por sucumbir a uma paixão fulminante por Elizabeth.

Se Darcy considera a família da amada vulgar, a jovem também não nutre simpatia pelo mundo de preconceitos, salamaleques e protocolos de seu pretendente, resistindo enquanto pode aos apelos de seu coração.

Considerada uma das adaptações mais fiéis de uma obra de Austen, Orgulho e Preconceito, grande sucesso de bilheteria internacional, tem a decisiva sacada de trazer nos papéis principais atores muito jovens – Keira Knightley tem apenas 20 anos –, com idades próximas às dos personagens do livro. Embora conte com uma produção suntuosa, de encher os olhos, o novato Wright acerta ao focar sobretudo a trajetória emocional e psicológica de Elizabeth e Darcy, cujos valores são testados e modificados sob o efeito bombástico da paixão. Não deixa de ser uma revolução. GGGG

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