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O pagode com Arlindo Cruz acontece na quinta | Reprodução www.tcvultura.com.br/bembrasil
O pagode com Arlindo Cruz acontece na quinta| Foto: Reprodução www.tcvultura.com.br/bembrasil

Linha do tempo

1927 – Em 16 de junho, nasce Ariano Vilar Suassuna, na cidade de Nossa Senhora das Neves, atual João Pessoa, capital do Estado da Paraíba, filho de João Urbano Pessoa de Vasconcelos Suassuna e Rita de Cássia Dantas Villar. Ariano Suassuna é o oitavo de uma família de nove.

1928 – A família volta a viver no sertão paraibano, na Fazenda Acauhan, depois que João Suassuna deixa o governo.

1930 – Nos dias 3 e 4 de outubro, estoura na Paraíba a Revolução. No dia 9, João Suassuna é assassinado no Rio de Janeiro, como conseqüência das divisões e lutas políticas da Paraíba.

1933 – Chefiada agora por Dona Rita Villar Suassuna, a família muda-se para Taperoá.

1934/37 – Ariano estuda as primeiras letras em Taperoá. Rita Suassuna, em dificuldades, vende a fazenda Acauhan para educar os filhos.

1942 – A família Suassuna muda-se para Recife.

1943 – Aluno do Ginásio Pernambucano (Colégio Estadual de Pernambuco) torna-se amigo de Carlos Alberto de Buarque Borges, que exerce grande influência em sua formação, iniciando-o na música erudita e na pintura.

1945 – Publica seu primeiro poema.

1946 – Entra para a Faculdade de Direito e encontra um grupo de escritores, atores, poetas e pintores. Esse grupo, principalmente através de Hermilo Borba Filho e de Laurênio de Melo, tem profunda influência na formação de Suassuna. Com ele, sob a liderança de Borba Filho, funda-se o Teatro do Estudante de Pernambuco.

1947 – Escreve sua primeira peça de teatro: Uma Mulher Vestida de Sol, baseando-se no romanceiro popular nordestino. Escreve a peça Cantam as Harpas de Sião, reescrita depois como O Desertor de Princesa.

1950 – Escreve o Auto de João Cruz. Recebe o Prêmio Martins Pena. Forma-se em Direito pela UFPE. Vai para Taperoá se curar de doença no pulmão.

1951 – Ainda em Taperoá, Ariano escreve uma peça para mamulengos, Torturas de um Coração ou Em Boca Fechada não Entra Mosquito.

1955 – Escreve o Auto da Compadecida.

1956 – Escreve o romance A História do Amor de Fernando e Isaura. Torna-se professor de Estética da UFPE, deixando a advocacia.

1957 – A 19 de janeiro casa-se com Zélia de Andrade Lima. O casal tem seis filhos: Joaquim, Maria, Manuel, Isabel, Mariana e Ana. Escreve O Santo e a Porca.

1959 – Escreve a peça em três atos A Pena e a Lei a partir de Torturas de um Coração. Funda com Hermilo Borba Filho o Teatro Popular do Nordeste, que monta a peça.

1960 – Escreve a peça em três atos Farsa da Boa Preguiça. Forma-se em Filosofia pela Universidade Católica de Pernambuco.

1967 – Torna-se membro fundador do Conselho Federal de Cultura, que integra até 1973. No ano seguinte, torna-se membro fundador do Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco, que integra até 1972.

1970 – Dia 18 de outubro, com o concerto Três Séculos de Música Nordestina – Do Barroco ao Armorial e com uma exposição de artes, lança-se no Recife o Movimento Armorial. Reúne poesias inéditas no livro O Pasto Incendiado.

1971 – Publica o Romance d’A Pedra do Reino pela editora José Olympio. Edita A Pena e a Lei pela Agir.

1974 – Publica a Farsa da Boa Preguiça e Seleta em Prosa e Verso (José Olympio); e em Recife, pela Editora Guariba, Ferros do Cariri, Uma Eráldica Sertaneja.

1975 – É nomeado secretário de Educação e Cultura de Recife, cargo que exerce de 1975 a 1978.

1987 – Depois de 30 anos, deixa de ensinar História da Cultura Brasileira no mestrado de História da UFPE, aposentando-se.

1989 – É eleito para a cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras. Toma posse em agosto de 1990.

1992 – Eleito membro da Academia Pernambucana de Letras. Em 2000 entra na Academia Paraibana de Letras.

1993 – É criada a Associação Cultural da Pedra do Reino, em São José do Belmonte, que realiza a primeira Cavalgada à Pedra do Reino.

1994 – TV Globo exibe o especial Uma Mulher Vestida de Sol, dirigido por Luiz Fernando Carvalho.

1995 – Nomeado secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, função que exerce até 1998. O especial A Farsa da Boa Preguiça, dirigido por Luiz Fernando Carvalho, vai ao ar na TV Globo.

1999 – Auto da Compadecida, dirigido por Guel Arraes, é exibido na Globo.

2007 – Torna-se secretário de Cultura de Pernambuco. Recebe uma série de homenagens pelos seus 80 anos.

"Eu não tenho feito mais nada, a não ser comemorar 80 anos", diz Ariano Suassuna, com seu característico senso de humor e a voz rouca durante uma entrevista coletiva que deu na última segunda-feira em Curitiba. O escritor paraibano torna-se octogenário no próximo sábado, dia 16, e esteve na cidade para dar uma aula-espetáculo na 3.ª Semana de Letras da Unibrasil.

"Olhe, evidentemente que fico contente. Imagine quando eu fizer 160 anos, se, completando 80, é esse chamego todo...". E não se atreva a dizer que o ocupante da cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras faz "aula-show". "‘Xou’, na minha terra, é uma interjeição para espantar galinha", brinca. Suassuna admite ser um radical quando o tema é língua portuguesa e confessa uma "antipatia visceral" a palavras em inglês.

Ele lembra de um evento na Universidade Federal de Pernambuco em que o cartaz dizia "depois da fala do professor Suassuna, haverá um coffee break". Ele não teve dúvida. Chamou o responsável e disse "Tira! Ou eu ou ele. Bota ‘pausa para o café’, senão eu não entro".

Essa disposição incomum de defender o seu ponto de vista e sua obra parece não caber no físico franzino do homem com idade para ser bisavô, e marca toda a sua carreira, parte dela dedicada à militância em favor da cultura brasileira. Tal preocupação virou uma espécie de manifesto artístico e cultural batizado de Movimento Armorial (leia texto na página 4), anunciado em 18 de outubro de 1970.

A idéia era e é "criar uma arte brasileira erudita baseada nas raízes populares da nossa cultura", de acordo com definição apresentada no livro Ariano Suassuna – Um Perfil Biográfico, de Adriana Victor e Juliana Lins, lançado pela Jorge Zahar Editor para marcar o aniversário do autor do Romance D’a Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta. Este, em sua 5.ª edição pela José Olympio, é tido como um clássico da literatura brasileira – condição que ocupa, detalhe, desde o seu lançamento em 1971. O romance deve ser bastante comentado nos próximos dias, pois a Rede Globo estréia, no dia 12 (terça-feira que vem), a microssérie A Pedra do Reino, com cinco episódios.

A adaptação é dirigida por Luiz Fernando Carvalho (Lavoura Arcaica), uma exigência de Suassuna, e inspira dois lançamentos que a editora Globo coloca no mercado a partir da próxima semana – A Pedra do Reino, livro de fotos da série, feitas por Renato Rocha Miranda, e um estojo com os Cadernos de Filmagem, que inclui um diário do elenco e da equipe.

Aqui, alguém pode pensar como é que um autor tão rigoroso, preocupado com a cultura brasileira e "invocado" (nas palavras dele mesmo) aceitou ver a obra que considera a mais importante de sua vida ser transformada em uma série global?

Suassuna conta que pesou os prós e os contras da televisão há mais de 30 anos, época em que foi procurado por um diretor (ele não cita o nome). O escritor recebeu uma proposta para colaborar em alguma produção – também da Globo.

"O público da televisão é infinitamente maior do que o da literatura e o do teatro, mas eu não faço isso (ter sua obra adaptada) em troco de concessão nenhuma", determinou.

Na conversa com o homem da tevê, Suassuna disse que acompanhava a programação dos canais brasileiros e, de início, determinou que alguém teria de "mudar o passo". "E vou logo lhe avisar que não vou ser eu. Vai ser ela (a tevê)", disse.

Entre as exigências do autor, estava a de evitar a qualquer custo a caricatura que se costuma fazer do sotaque nordestino. "Numa obra minha, eu não admito." Para provar o seu ponto de vista, o escritor paraibano disse para o diretor do Rio de Janeiro que, aos seus ouvidos, o sotaque carioca também era fácil de ser ridicularizado, colocando personagens para falar "alhêvio" no lugar de alívio, "polhêtica" no de política.

Ah, Suassuna não tolera "música de guitarra" em uma obra sua. Ele mandou o carioca – agora boquiaberto e um pouco irritado – ligar para a emissora e perguntar se era possível usar as músicas do Quinteto Armorial, ligado ao autor, em uma eventual adaptação. Não, não dava. Política interna, devido a acordos com multinacionais etc.

Não teve conversa. O homem da tevê foi embora para nunca mais voltar. Suassuna ficou na sua. "Eu, que tenho uma paciência enorme, não me abalei. Esperei 30 anos e estava disposto a esperar até o fim da vida", afirma.

Até o dia em que apareceu Luiz Fernando Carvalho e o entendimento entre eles foi imediato. Juntos, fizeram no teatro A Mulher Vestida de Sol, primeira peça de Suassuna, escrita em 1947, e A Farsa da Boa Preguiça, de 1960. Depois dessas duas colaborações, o escritor disse que nunca deixaria de confiar no trabalho do diretor.

Abordado sobre a possibilidade de ter o Romance d’A Pedra do Reino... levado ao cinema, ele respondeu: "Eu só faço se o Luiz Fernando Carvalho dirigir". Não demorou para criarem um projeto semelhante ao que Guel Arraes fez para O Auto da Compadecida. Cria-se uma série para a tela pequena e, dela, se faz um longa-metragem para a tela grande.

Suassuna ainda não viu o resultado final de A Pedra do Reino, a série, porque espera assistir a ela como qualquer outra pessoa do público. "Quero ter o impacto total", afirma.

O homem que diz ter, dentro de si, duas pessoas – "eu mesmo e esse tal de Ariano Suassuna, que me dá um trabalho horroroso" –, se interessa por literatura, música, pintura, cerâmica e teatro. É uma lenda-viva das letras brasileiras que não hesita em dizer, cara-a-cara com seus 80 anos, "Eu não melhorei muito, não".

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