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Marino Prieto/ Divulgação |
Marino Prieto/ Divulgação| Foto:

Faixa a Faixa

Saiba mais sobre as canções de O Novo Tentamento:

1 – "Entranhas"

Piano em clima de pregação no deserto.

2 – "Observo Mutantes"

Suíte lisérgica e grandiloquente. George Martin encontra Arnaldo Baptista.

3– "Cidade dos Normais"

Rock setentista com melodia chiclete.

4 – "Atos de Uma Anti-hepática"

Bossa nova. Letra genial sobre a ressaca e suas circunstâncias.

5 – "Apocalipse Segundo um Deus Bêbado"

Ponto alto. Guarânia sobre a vocação para manada das sociedades.

6 – "Epístola de um Homem a Si Próprio"

Roberto Carlos assinaria, tivesse lido mais sobre religiões orientais.

7 – "Proibida a Execução Pública pela Censura Federal"

Incidente com sons medievais.

8 – "Acho Que Tu Faz Amor com Esse Computador"

Rock sobre as relações na era digital.

9 – "Parábolas dos Errantes"

Som da Swinging London, letra profana.

10 – "Novas Cabeças Rolando"

O menestrel profético mistura Villa-Lobos e Belchior.

11 – "Meu Melhores Amigos Jamais Me Deixam Só"

Synthpop que descamba para a música nordestina.

12 – "Comunhão dos Infiéis"

Cantochão com mantra: "Nunca foi visto, não aconteceu".

13 – "Conspiração"

Balada chave de ouro. Lembra os Carpenters e as trilhas de Burt Bacharach para o cinema.

Serviço

O Novo Tentamento

Cine Guarani – Portão Cultural (Av. República Argentina, 3.430 – Portão), (41) 3229-4484. Sexta-feira, às 20 horas. Pré-venda e audição pública do álbum, além de lançamento do clipe "Cidade dos Normais". Entrada franca.

Temas religiosos e da filosofia universal. Boemia, crítica social e lirismo. Música paraguaia, rock retrô, orquestrações grandiosas, psicodelismo e MPB. O álbum O Novo Tentamento, da banda Giovanni Caruso e o Escambau é tão difícil de definir quanto a sua produção, que durou um ano inteiro, e foi calculada em detalhes.

"Nossa proposta sempre foi dificultar o rótulo e preservar a liberdade de não seguir nenhuma linha", afirma o compositor da banda, Giovanni Caruso.

Concebido para ser um LP – a versão em vinil deve ficar pronta até o final do ano – o disco terá a primeira audição pública na próxima sexta-feira no Cine Guarani (leia mais no serviço). Para a ocasião, não está programado show da banda.

"O lançamento é do disco, que é a estrela da noite", explica o produtor Sanjai Cardoso, o Siri, enquanto vertia a versão estéreo da gravação para o sistema 5.1, que vai permitir aproveitar o surround da sala de cinema.

Quarto disco da banda que atualmente é composta por Giovanni (voz, guitarra, baixo e piano), Maria Paraguaya (voz, percussão e acordeão), Yan Lemos (voz e violão), Zo (voz e guitarras) e Ivan Rodrigues (bateria), o álbum é uma fusão de gêneros diversos, com sonoridade analógica e letras surpreendentes. Soa muito diferente dos outros álbuns de estúdio da banda, Acontece nas Melhores Famílias (2009), e Ordem e Progresso Via Pão & Circo (2011).

"Para mim tudo é rock", resume Giovanni. "Não quero ficar a vida inteira fazendo o mesmo som. Cada disco tem que ser diferente", prega.

Ele conta que a ideia inicial era uma espécie de ópera-rock profana que "acabou sendo desmontada". "Achamos que poderia ficar chato e mudamos o rumo a tempo", conta.

A maior parte das canções foi composta e pré-produzida no Paraguai, na cidade de San Bernardino, um balneário de verão, 50 quilômetros a oeste da capital Assunção. "Minha família é de lá e me concentro para compor na cidade, pois ela fica abandonada, quase fantasma no inverno", revela o compositor.

Foi lá que Giovanni misturou conceitos de diversas religiões à observação social para compor letras como a da intrigante balada "Apocalipse Segundo Um Deus Bêbado". "Esta música me assusta. Fiz a melodia e quando fui trabalhar na letra, a escrevi inteira, sem parar. Não sei explicar o que aconteceu", revela.

Produção

Giovanni acredita que o projeto do disco mudou de rumo quando ele mostrou o material gravado nas sessões paraguaias e nos primeiros ensaios com a banda para Siri, que manifestou interesse imediato em coproduzir o álbum.

"Ele sugeriu regravar com equipamento melhor e com acabamento profissional. Temos muitas afinidades musicais e acabamos entrando em sintonia. A banda viu que o melhor a fazer era entregar na mão dele", afirma.

Produtor experiente na área audiovisual da cidade, Siri nunca tinha produzido um álbum inteiro, e diz que tomou a iniciativa para que o repertório de grandes músicas não fosse perdido por problemas de produção.

"Não quis deixar que acontecesse o que rolou com os outros discos do Escambau, em que as produções não foram tão boas quanto as músicas", avalia.

Siri conta que trabalhou em cima das canções "preenchendo os espaços, dando acabamento com orquestrações e efeitos, mas respeitando a identidade estética da banda".

Para tanto, a concepção de sonoridade foi feita em ambiente analógico ou que simulava o processo. "Assim, a mixagem do disco tem uma textura homogênea, uma coerência, mesmo com músicas tão diferentes", esclarece.

Opinião

O "disco perdido" de uma banda que encontrou sua voz

Se me dissessem que este O Novo Tentamento era um disco obscuro gravado em 1973 que ficou na gaveta por algum motivo, eu acreditaria. Mas ele foi feito nos últimos 12 meses, o tempo das selfies e do funk ostentação.

O álbum tem a sonoridade analógica, a produção meticulosa e o traço "conceitual" da era fundadora do pop brasileiro.

Não é um disco de rock, nem parece com nada que o Escambau fez em álbuns anteriores. Aqui, há sambas, guarânias, synthpop, baladas folk e sonoridades incomuns em que a ótima banda e a produção de Sanjai Cardoso criam o ambiente para que as letras de Giovanni Caruso se destaquem. Ouve-se um compositor que achou sua voz.

Os textos misturam conceitos de todas as religiões, filosofia e cotidiano boêmio, cantados, em grande parte, na prosa profética que lembra cantores menestréis, como Sérgio Sampaio, Sixto Rodriguez e Bob Dylan.

Concebido para ser uma ópera-rock profana, o álbum foi salvo a tempo; o clima de pregação poderia ser cansativo. O conjunto, porém, manteve unidade, e deve ser ouvida de uma sentada só, lendo o encarte, como só com os LPs.

Uma leitura possível da narrativa poética é um fluxo de consciência – de um usuário de drogas ou um religioso – que caminha da euforia à verdade absoluta, até a libertação final. Temas para grandes canções em um disco invulgar.

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