• Carregando...

São Paulo (Folhapress) – Olhando agora, de surpresa, em Ritmo Louco, e vendo Fred Astaire de chapéu coco e sem jeito, ele lembra Stan Laurel, o magro da dupla O Gordo e o Magro.

Não é uma semelhança que o desabone. Astaire era um ator impecável e um comediante de talento que não tinha vergonha de parecer ridículo. Dois minutos depois, no entanto, podia recompor-se, e o veríamos na pele do galã sofisticado, antes de se converter no bailarino elegante, capaz de encher a tela, conduzindo Ginger Rogers.

Ginger que, a bem da verdade, era também uma comediante muito boa. Nos anos 30, essa dupla foi tão célebre que, à parte sustentar a sempre periclitante RKO, serviu de inspiração para o filme que Fellini faria nos anos 70 sobre os bailarinos que viviam de imitá-los (Ginger e Fred).

O mundo dá voltas, assim como os direitos autorais, de maneira que a caixa com cinco comédias musicais reunindo Ginger e Fred tem quatro produções da RKO e uma da MGM, mas é distribuída pela Warner, que, cuidadosa, insere extras bem informativos em todos os cinco discos.

O tom é laudatório (quase somos soterrados pelas quase infinitas virtudes de Astaire) e, no final, temos a impressão de que nesses extras se fala muito mais do que seria necessário. Mas esquadrinha-se a produção de cada filme, de maneira que o fã terá a seu dispor, além do filme, um quadro interessante sobre o modo de trabalho na Hollywood clássica.

Dos cinco filmes, quatro são da década de 30 e em preto-e-branco. O mais célebre é possivelmente O Picolino, com a música esfuziante de Irving Berlin, "Cheek-to-Cheek" à frente. Mas o resultado é irregular, e parece faltar ao filme uma seqüência definitiva.

Se o mais fraco da série RKO é Nas Águas da Esquadra, Vamos Dançar? aproveita bem os dotes de sua equipe: a música de George e Ira Gershwin, a coreografia de Hermes Pan (que domina a série), um coadjuvante de peso como Edward Everett Horton. E há seqüências musicais ambiciosas. A vantagem de Ritmo Louco vem sobretudo de George Stevens, talentoso diretor de comédias (embora mais conhecido pelos seus épicos), que certamente pôs seu dedo no roteiro bem trabalhado.

Resta, para terminar, Ciúme, Sinal de Amor, de 1949. Fred havia anos antes encerrado sua carreira. Voltara para a Metro meio que por acidente. O filme foi projetado para ele e Judy Garland. Como Judy não pôde fazer o papel, recompôs-se a velha dupla com Ginger Rogers.

Uma Ginger já um tanto passada, é verdade. Como, no entanto, estamos na Metro, numa produção de Arthur Freed, e mesmo se Charles Walters não era o melhor dos diretores do gênero na companhia (vinha atrás de Minnelli, Stanley Donen, Gene Kelly, George Sidney, pelo menos), o que não falta são aqueles momentos que deixarão os fãs de musicais ligadíssimos. São esses, no mais, o público-alvo desta série cujo interesse principal consiste em fixar a arte de Fred Astaire nos anos 30. Uma arte que, sozinha, fez toda uma tendência do gênero musical no período.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]