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Linhas

O Universalismo Construtivo é a linguagem estética desenvolvida pelo artista uruguaio Torres García a partir da síntese do expressionismo com o surrealismo e o abstracionismo. O conceito básico do modelo era o cruzamento de duas linhas, uma vertical e uma horizontal, que representariam, respectivamente, as dicotomias entre espírito e natureza, homem e criador, concreto e abstrato. Linhas e planos subdivididos, tridimensionalidade e a instabilidade das estruturas marcaram as obras do pintor.

A inspiração é, para grande parte dos artistas, um acontecimento inesperado. Para Luiz Carlos de Andrade Lima (1933-1998), no entanto, o lampejo vinha em hora marcada. Diariamente, a partir do meio-dia, o artista plástico curitibano impunha-se o trabalho no ateliê, quando os esboços feitos em um caderno e a memória do que vira pela cidade ganhavam a forma de desenhos e pinturas. "Ele tinha uma grande produção mental e uma memória visual extraordinária.", ressalta Nilza Procopiak, curadora da exposição Luiz Carlos de Andrade Lima – O Artista Curitibano, em cartaz na sala Helena Wong do Museu Oscar Niemeyer. Outra exposição que ocupa desde a semana passada o museu é Joaquín Torres García – Aladdin e Universalismo Constructivo, com brinquedos e pinturas do artista plástico uruguaio.

Andrade Lima pintou a vida "mundana" e religiosa da cidade, motivo pelo qual ficou conhecido como o "cronista de Curitiba". "A importância principal do artista é o registro apaixonado dos tipos da nossa cidade: o sofredor e o alegre, o bonito e o feio, o bravo e o manso. Mostra uma época em que ele viveu e registrou para a História", afirma Nilza. A curadora indica que uma das influências do pintor foi o francês Toulouse-Lautrec e compara: "Não podemos imaginar Paris sem Toulouse-Lautrec desenhando as moças nos cabarés e os freqüentadores. O Luiz Carlos também fez um registro muito grande desse ambiente."

A dicotomia de temas, por um lado as prostitutas da cidade, o cotidiano e a paisagem paranaense, por outro a arte sacra dos santos e freiras, fornece uma amostra da riqueza da obra de Andrade Lima, em que o expressionismo e o figurativo mantiveram-se presentes, apesar das tendências abstracionistas que surgiam na época.

A exposição apresenta uma parcela abrangente da obra de Andrade Lima, retirada da coleção pessoal do artista, que é mantida pela viúva Mária Lúcia Andrade Lima. "Muitos do que já compareceram à exposição se mostraram surpreendidos por encontrarem obras desconhecidas", conta a curadora.

A mostra reúne cerca de 70 pinturas e desenhos criados entre as décadas de 1950 e 1990, em que aparecem aspectos menos conhecidos da produção de Andrade Lima, como aquarelas, nanquim aquarelado, um auto-retrato em pastel e um desenho a giz de cera deliberadamente posicionado no início da exposição. "É para intrigar quem está chegando", avisa a curadora.

Universalismo latino

Na sala Guido Viaro, cerca de 130 obras, entre desenhos, pinturas construtivistas de grande porte e conjuntos de brinquedos criados por Joaquin Torres García (1874- 1949), são exibidas no país pela primeira vez na exposição Joaquín Torres García – Aladdin e Universalismo Constructivo.

Artista envolvido com as vanguardas européias do início do século 20, Torres García formou o Movimento Círculo e Quadrado, em que reagia ao surrealismo com tendências abstratas e construtivistas, e, em 1944, definiu os preceitos de uma nova abordagem estética no livro Universalismo Constructivo (leia quadro acima). Outras de suas obras características foram os brinquedos desmontáveis em madeira, que começou a produzir durante a Primeira Guerra Mundial e foram exportados para diversos países europeus, admirados pela originalidade e linguagem estética, e produzidos pela Aladdin Brinquedos.

Com o fim da empresa, a fabricação dos brinquedos voltou a ser artesanal e a representar uma fonte de renda importante, enquanto a pintura construtiva reapareceu como prioridade entre as obras criadas pelo artista uruguaio.

Serviço: Luiz Carlos de Andrade Lima – O Artista Curitibano. Até 17 de junho. Joaquín Torres García - Aladdin e Universalismo Constructivo. Até 8 de julho.

Museu Oscar Niemeyer (R. Marechal Hermes, 999), (41) 3350-4400. Terça-feira a domingo, das 10h às 18h. R$ 4 e R$ 2 (meia). Gratuito para menores de 12 anos, maiores de 60 anos e grupos agendados de estudantes de escolas públicas.

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