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De mochila nas costas e máquina fotográfica nas mãos, Pierre Verger deixou Paris aos 32 anos. Havia perdido a mãe, as irmãs e o pai. Sem mais laços com a França, partiu para as Ilhas do Pacífico, a fim de novas experiências e do esquecimento. A fotografia se tornou a sua companheira durante os anos de errância pelo mundo. Ao Taiti, chegou em 1933, e de lá seguiu viagem para os Estados Unidos, Ásia, Itália, Espanha, África, América Central e América do Sul. Em 1946, foi na Bahia brasileira que Pierre Verger aportou, encantou-se pelo local e iniciou o trabalho que o consagraria como o principal retratista da cultura afro-brasileira.

Nas décadas seguintes, o fotógrafo continuou suas viagens, principalmente à África, mas não deixou de retornar ao Brasil, onde criou a Fundação Pierre Verger (FPV). As fotografias tiradas no Nordeste, cenário mais freqüente, e em outras regiões brasileiras foram agrupadas pela FPV na exposição O Brasil de Pierre Verger, que será aberta hoje, às 19 horas, na Casa Andrade Muricy. Inaugurada em fevereiro do ano passado no Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo, a exposição, que já esteve no Rio de Janeiro, Salvador e Porto Alegre, celebra os 60 anos da chegada do fotógrafo ao país.

A maioria das imagens em exibição data do final da década de 1940. Há ainda fotografias tiradas nos anos 70, que retratam o candomblé. A curadoria, dirigida pelo francês Alex Baradel, que há sete anos vive no Brasil e é o responsável pelo departamento fotográfico da Fundação Pierre Verger, optou por 280 fotografias emolduradas e outras 700 projetadas que representam os temas mais comuns na obra de Verger, sem limitar-se, no entanto, aos mais conhecidos. "Houve uma briga interessante entre os que queriam destacar os aspectos estéticos e os que preferiam a relevância histórico-cultural", conta Baradel. Ao fim da disputa, ambos aparecem entre as imagens selecionadas.

São, ao todo, 18 temáticas. O Cavalo-marinho, um auto originado em Pernambuco e conhecido em outras regiões como Bumba-meu-boi; o carnaval dos travestidos; a arte circense; a festa dos navegantes; o frevo; a guerra de Canudos e a arquitetura de São Paulo estão entre elas. Artistas e pesquisadores foram convidados para deixar o trabalho sobre cada tema mais preciso, escreveram textos e ajudaram a garimpar as fotos. Além disso, alguns computadores permitem a interatividade dos visitantes com a exposição, fornecendo mais informações sobre as manifestações culturais registradas nas imagens.

Pierre Verger é mais conhecido no Brasil do que na França, onde, nos últimos doze anos, foram realizadas apenas duas exposições com obras do fotógrafo, em 1995 e 2005. A sua importância para a cultura brasileira é, de fato, maior. Ele registrou as diversidades culturais e étnicas nordestinas, interessou-se pelo culto aos orixás e as conseqüências econômicas e culturais do tráfico de escravos. As relações com a cultura afro tornaram-se mais profundas e pessoais quando Verger foi aceito e iniciado no candomblé e tornou-se babalaô (iniciado nas artes advinhatórias da etnia ioruba).

Para o curador Alex Baradel, Verger foi um dos precursores das fotografias naturais (feitas fora de estúdio) no Brasil. "Ele era completamente autodidata. Enquanto muitos artistas estavam ligados a movimentos, ele fotografava com total liberdade. Verger era um viajante que fazia fotos por gosto, não para expôr ou obter reconhecimento. Era um amante da fotografia e da viagem", diz.

Cinco décadas depois de desembarcar no Brasil, Pierre Verger morreu na cidade que o conquistara, Salvador.

Serviço: O Brasil de Pierre Verger – Casa Andrade Muricy (Al. Dr. Muricy, 915), (41) 3321-4786. Terça a domingo, das 10h às 19h. Abertura hoje, às 19h. Agendamento de visitas guiadas: (41) 3321-4816. Até 8 de julho.

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