Três realidades
Saiba mais sobre as condições dos auditórios do Complexo Teatro Guaíra
Guairinha
Walter Gonçalves, diretor administrativo, cita reparos feitos recentemente no auditório: parte dos camarins foi reformada, um terço dos assentos recuperados e o carpê do corredor, substituído (o das laterais, não).
Guairão
Elogios se ouvem de quem passou pelo Guairão durante o Festival de Curitiba. Luca Baldovino, superintendente de produção da São Paulo Companhia de Dança, diz que é um dos palcos mais espaçosos e bem construídos do país. Caetano Vilela, diretor de Travesties, não tem reclamações. O produtor executivo de Macbeth, Luciano Marcelo, também ficou satisfeito com o espaço aponta somente o desgaste da madeira do palco como alvo passível de reparos.
Mini-Guaíra
A atriz Roberta Maia se diz contente por sua passagem pelo auditório menor com a peça O Jogo. Notou a limitação de recursos de iluminação, a falta de ar-condicionado e o vazamento de som, mas ressalta que a equipe do teatro prontamente a atendeu em busca das soluções que precisasse.
A disponibilidade do administrador direto do espaço também foi elogiada pelo ator Ítalo Laureano, que apresentou É Só Uma Formalidade. Seu grupo, o Quatroloscinco, não encontrou projetor (tiveram de trazer de Belo Horizonte), extensão elétrica (foi preciso comprar) ou fita isolante no teatro.
O desabafo exaltado com que Emílio de Mello interrompeu a calorosa salva de palmas recebida ao fim da apresentação de In on It, no dia 21, levantou uma polêmica: são aceitáveis as condições de manutenção do Guairinha? Ator com 23 anos de carreira, Mello falou do esforço que ele e o colega Fernando Eiras fizeram para atuar sob o calor das luzes num teatro sem ar-condicionado, com mofo e ácaros.
"Nossa estrutura foi a pior possível", reafirma Mello, em entrevista por telefone à Gazeta do Povo. As más condições do ar teriam deixado os dois intérpretes a ponto de cancelar sua participação no Festival de Curitiba. Reconsideraram minutos antes de entrarem em cena, em respeito ao público presente.
O medo era de que a situação afetasse a saúde de Eiras, que sofre de bronquite alérgica. Foi o que aconteceu. Na volta a São Paulo, Fernando conta que desembarcou direto rumo à Santa Casa, fez uma radiografia dos pulmões que indicou crise alérgica e tomou corticoide intravenal para se recuperar a tempo de cumprir seus papéis na apresentação que faria ainda naquela noite.
"Ator precisa de fôlego para realizar espetáculo. Não havia como respirar dentro do Guairinha", lamenta. "É um teatro que precisa de uma reforma. Não basta passar uma vassoura no palco." Em alguns minutos, a calma de Eiras se deixa substituir pela indignação: "Precisa vir um ator de fora para dizer isso?" .
Ele mesmo responde. "Os atores daí não entram na briga porque precisam do espaço para trabalhar. A classe artística curitibana toda sabe que o teatro está entregue às traças, que hipocrisia é essa? Desafio (o governo paranaense) a levar profissionais da saúde para ver e avaliar o teatro."
Outras experiências
A reportagem ouviu a produção dos demais três espetáculos que ocuparam o auditório durante o Festival de Curitiba. Aniela Jordan, responsável pelo solo Versão Brasileira, não tinha reclamação a fazer, embora tenha estranhado a falta de ar-condicionado e o cheiro de mofo.
Produtora de Um Navio no Espaço, Maria Helena Alvarez constatou a "aparência de decadência" do auditório, "pelo pouco cuidado com a plateia". Além do mofo, identificou pequenas deteriorizações causadas pelo tempo condições semelhantes às que havia encontrado no mesmo local três anos antes. Ela reconhece que outros teatros públicos brasileiros também estão em más condições de manutenção, mas pondera: "Isso não desculpa, só piora. Fica parecendo que esse é o normal, não é. É só o mais comum."
Admitindo ter uma relação afetiva com o Guairinha, Nena Inoue esteve no teatro com o espetáculo Cinema, e diz não ter se deparado com nenhuma condição que já não conhecesse. "Sabemos que passa um rio embaixo, o Belém, que é um esgoto. No primeiro camarim, às vezes o cheiro fica insuportável, quando chove ou faz muito calor. Mas não é um problema que possa ser resolvido", opina.
Ar ou escola
O Guairinha nunca teve ar-condicionado, informa Walter Gonçalves, diretor administrativo e financeiro do Complexo Teatro Guaíra. Segundo ele, o sistema de circulação de ar da plateia esteve parado por 25 anos, até que em 2008 foi reativado. A aparelhagem, contudo, não atende à área do palco. Também no Guairão, onde há ar-condicionado, este não surte efeito da boca-de-cena para dentro, por causa do pé direito alto, argumenta.
O diretor acredita que "o problema não era de temperatura", uma vez que "não houve reclamação do público." E em vez de mofo, diz que o cheiro é de umidade. "Sempre mantemos a limpeza máxima possível. Semanas antes houve dedetização."
As limitações do auditório o primeiro dos três a ser inaugurado, em 1959 viriam do projeto original. "É um prédio antigo, feito quando havia terrenos em volta e insolação pelas duas laterias. Hoje tem anexo o Guairão (inaugurado em 1974). Embaixo do palco passa um rio, portanto tem umidade natural. Não temos área para ampliar a coxia nem estrutura abaixo do solo para permitir um nível mais alto que o isole de contato com a umidade", justifica Gonçalves.
Para uma reforma, seria necessário fechar o teatro por um período mais longo, o que, no entendimento do diretor, iria contra a demanda da comunidade artística por espaço para apresentação. Além disso, instalar o sistema de ar-condicionado implicaria um investimento de R$ 250 mil. "Há prioridades. É mais importante gastar em escola nova ou na reforma de um auditório que não oferece nenhum risco?", compara.
Gonçalves argumenta ainda que periodicamente é feita a limpeza do sistema de ventilação e a avaliação da qualidade do ar do Guairinha. O último laudo data de outubro de 2009 e considera os ambientes do Centro Cultural Teatro Guaíra "seguros sob o ponto de vista da saúde ocupacional". Uma nova avaliação está prevista para outubro deste ano.
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