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Sob o auditório inaugurado na década de 1950 passa o Rio Belém, o que aumenta a umidade no local | Priscila Forone/Gazeta do Povo
Sob o auditório inaugurado na década de 1950 passa o Rio Belém, o que aumenta a umidade no local| Foto: Priscila Forone/Gazeta do Povo

Três realidades

Saiba mais sobre as condições dos auditórios do Complexo Teatro Guaíra

Guairinha

Walter Gonçalves, diretor administrativo, cita reparos feitos recentemente no auditório: parte dos camarins foi reformada, um terço dos assentos recuperados e o carpê do corredor, substituído (o das laterais, não).

Guairão

Elogios se ouvem de quem passou pelo Guairão durante o Festival de Curitiba. Luca Baldovino, superintendente de produção da São Paulo Companhia de Dança, diz que é um dos palcos mais espaçosos e bem construídos do país. Caetano Vilela, diretor de Travesties, não tem reclamações. O produtor executivo de Macbeth, Luciano Marcelo, também ficou satisfeito com o espaço – aponta somente o desgaste da madeira do palco como alvo passível de reparos.

Mini-Guaíra

A atriz Roberta Maia se diz contente por sua passagem pelo auditório menor com a peça O Jogo. Notou a limitação de recursos de iluminação, a falta de ar-condicionado e o vazamento de som, mas ressalta que a equipe do teatro prontamente a atendeu em busca das soluções que precisasse.

A disponibilidade do administrador direto do espaço também foi elogiada pelo ator Ítalo Laureano, que apresentou É Só Uma Formalidade. Seu grupo, o Quatroloscinco, não encontrou projetor (tiveram de trazer de Belo Horizonte), extensão elétrica (foi preciso comprar) ou fita isolante no teatro.

O desabafo exaltado com que Emílio de Mello interrompeu a calorosa salva de palmas recebida ao fim da apresentação de In on It, no dia 21, levantou uma polêmica: são aceitáveis as condições de manutenção do Guairinha? Ator com 23 anos de carreira, Mello falou do esforço que ele e o colega Fernando Eiras fizeram para atuar sob o calor das luzes num teatro sem ar-condicionado, com mofo e ácaros.

"Nossa estrutura foi a pior possível", reafirma Mello, em entrevista por telefone à Gazeta do Povo. As más condições do ar teriam deixado os dois intérpretes a ponto de cancelar sua participação no Festival de Curitiba. Reconsideraram minutos antes de entrarem em cena, em respeito ao público presente.

O medo era de que a situação afetasse a saúde de Eiras, que sofre de bronquite alérgica. Foi o que aconteceu. Na volta a São Paulo, Fernando conta que desembarcou direto rumo à Santa Casa, fez uma radiografia dos pulmões que indicou crise alérgica e tomou corticoide intravenal para se recuperar a tempo de cumprir seus papéis na apresentação que faria ainda naquela noite.

"Ator precisa de fôlego para realizar espetáculo. Não havia como respirar dentro do Guai­­ri­­nha", lamenta. "É um teatro que precisa de uma reforma. Não basta passar uma vassoura no palco." Em alguns minutos, a calma de Eiras se deixa substituir pela indignação: "Precisa vir um ator de fora para dizer isso?" .

Ele mesmo responde. "Os atores daí não entram na briga porque precisam do espaço para trabalhar. A classe artística curitibana toda sabe que o teatro está entregue às traças, que hipocrisia é essa? Desafio (o go­­verno paranaense) a levar profissionais da saúde para ver e avaliar o teatro."

Outras experiências

A reportagem ouviu a produção dos demais três espetáculos que ocuparam o auditório durante o Festival de Curitiba. Aniela Jordan, responsável pelo solo Versão Brasileira, não tinha reclamação a fazer, embora tenha estranhado a falta de ar-condicionado e o cheiro de mofo.

Produtora de Um Navio no Espaço, Maria Helena Alvarez constatou a "aparência de decadência" do auditório, "pelo pouco cuidado com a plateia". Além do mofo, identificou pequenas deteriorizações causadas pelo tempo – condições semelhantes às que havia encontrado no mesmo local três anos antes. Ela reconhece que outros teatros públicos brasileiros também estão em más condições de manutenção, mas pondera: "Isso não desculpa, só piora. Fica parecendo que esse é o normal, não é. É só o mais comum."

Admitindo ter uma relação afetiva com o Guairinha, Nena Inoue esteve no teatro com o espetáculo Cinema, e diz não ter se deparado com nenhuma condição que já não conhecesse. "Sabemos que passa um rio embaixo, o Belém, que é um esgoto. No primeiro camarim, às vezes o cheiro fica insuportável, quando chove ou faz muito calor. Mas não é um problema que possa ser resolvido", opina.

Ar ou escola

O Guairinha nunca teve ar-condicionado, informa Walter Gonçalves, diretor administrativo e financeiro do Complexo Teatro Guaíra. Segundo ele, o sistema de circulação de ar da plateia esteve parado por 25 anos, até que em 2008 foi reativado. A aparelhagem, contudo, não atende à área do palco. Também no Guairão, onde há ar-condicionado, este não surte efeito da boca-de-cena para dentro, por causa do pé direito alto, argumenta.

O diretor acredita que "o problema não era de temperatura", uma vez que "não houve reclamação do público." E em vez de mofo, diz que o cheiro é de umidade. "Sempre mantemos a limpeza máxima possível. Semanas antes houve dedetização."

As limitações do auditório – o primeiro dos três a ser inaugurado, em 1959 – viriam do projeto original. "É um prédio antigo, feito quando havia terrenos em volta e insolação pelas duas laterias. Hoje tem anexo o Guairão (inaugurado em 1974). Embaixo do palco passa um rio, portanto tem umidade natural. Não temos área para ampliar a coxia nem estrutura abaixo do solo para permitir um nível mais alto que o isole de contato com a umidade", justifica Gonçalves.

Para uma reforma, seria necessário fechar o teatro por um período mais longo, o que, no entendimento do diretor, iria contra a demanda da comunidade artística por espaço para apresentação. Além disso, instalar o sistema de ar-condicionado implicaria um investimento de R$ 250 mil. "Há prioridades. É mais importante gastar em escola nova ou na reforma de um auditório que não oferece nenhum risco?", compara.

Gonçalves argumenta ainda que periodicamente é feita a limpeza do sistema de ventilação e a avaliação da qualidade do ar do Guairinha. O último laudo data de outubro de 2009 e considera os ambientes do Centro Cultural Teatro Guaíra "seguros sob o ponto de vista da saúde ocupacional". Uma nova avaliação está prevista para outubro deste ano.

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