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Disposto a criar uma escultura capaz de traduzir a grandeza de Balzac, Auguste Rodin se deparou com um problema prosaico – a protuberância abdominal do autor de Ilusões Perdidas. Demorou a encontrar uma solução, mas ela surgiu e era simples. Ele envolveu a estátua em uma capa e o resultado final é Monumento a Balzac (1898), exposta nos jardins do Museu Rodin em Paris.

Dono de uma bibliografia – ela também – monumental, Honoré de Balzac (1799 – 1850) acaba de ficar um pouco mais acessível para o leitor brasileiro. A L&PM decidiu lançar, como parte da sua coleção Pocket, a série A Comédia Humana – nome que o escritor francês deu ao conjunto de sua obra. Antes, a editora gaúcha havia publicado somente A Mulher de Trinta Anos e um livro curioso em que Balzac compila máximas e pensamentos do general Bonaparte (Napoleão – Como Fazer a Guerra). Agora, de uma sentada, cinco títulos chegam às livrarias, entre eles, Ferragus (confira quadro nesta página com todos os volumes). Até o final do ano e ao preço médio de R$ 12 – o valor varia de acordo com o número de páginas –, outros sete serão editados, incluindo os clássicos Pai Goriot e Eugênia Grandet.

"As pessoas têm dificuldade de ler Balzac, em parte pelas descrições, que consideram muito longas. Preferem ler textos mais curtos e com ação concentrada", diz Luiz Heitor Guimarães, professor da Aliança Francesa de Curitiba. No ano passado, ele ministrou uma disciplina que tratava somente de Balzac e exigia a leitura daquela que é considerada sua obra máxima. "Existe uma certa unanimidade em relação ao Pai Goriot", afirma o professor. Com freqüência, esse é o título considerado obrigatório por universidades francesas, como a de Nancy, para estudantes estrangeiros.

Na opinião de Guimarães, um dos maiores talentos do francês era o de fazer seus personagens transitarem por diversas histórias – processo em que figuras secundárias em um enredo viram protagonistas em outro e vice-versa.

Escritor que se posiciona no período de transição do romantismo para o realismo, Balzac influenciou Émile Zola (Germinal), Gustave Flaubert (Madame Bovary) e, provavelmente, todo e qualquer escritor francês depois deles. Se tiver de definir qual as razões que o fizeram entrar para a História, a que aparece primeiro é o talento para descrever a França do século 19. "Balzac retratou as mudanças vividas pela sociedade francesa depois da queda de Napoleão", diz Sandra Stroparo, professora de Letras da Universidade Federal do Paraná. "Com o romance de costumes, ele mergulhou no século 19 e pensou a ascensão da moral burguesa."

Para confirmar a sabedoria popular – segundo a qual dinheiro não é problema, mas a falta dele, sim –, Balzac amargou uma vida sempre limitada por problemas financeiros. Experimentou investir em empreendimentos, como gráficas e minas de prata, mas nunca teve sucesso. Pelo contrário, acabou falido e obrigado a escrever até 18 horas por dia para pagar contas. Sua rotina de trabalho foi a maior responsável pela extensão impressionante de sua bibliografia – 89 escritos, entre romances, novelas e contos – e também por sua morte prematura. Especula-se que tenha deixado projetos e esboços de outros 20 romances.

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