• Carregando...
A atriz Heloisa Périssé e os atores Fernando Caruso e Roberto Guilherme, em cena na peça "Advocacia Segundo os Irmão Marx" | Divulgação
A atriz Heloisa Périssé e os atores Fernando Caruso e Roberto Guilherme, em cena na peça "Advocacia Segundo os Irmão Marx"| Foto: Divulgação

Três diferentes gerações de humoristas dividindo a cena em seis esquetes baseadas em textos dos Irmãos Marx, famosos comediantes do cinema americano do começo do século 20. Esta é a premissa básica do espetáculo Advocacia Segundo os Irmãos Marx, peça de teatro escrita e dirigida por Bernardo Jablonski que será apresentada nesta sexta (10) e domingo (12) no Teatro Positivo, em Curitiba (confira a programação no Guias e Roteiros), e no sábado (11) no Cine Teatro Opera, em Ponta Grossa. Entre os representantes de uma destas três gerações, está o veterano Roberto Guilherme, ator nacionalmente conhecido por sua história à frente de um dos personagens mais queridos do humor nacional: o Sargento Pincel, um militar sério, que sofria com a esperteza de seus comandados na época em que o famoso programa humorístico "Os Trapalhões" era um fenômeno de audiência no País.

Em uma entrevista concedida à Gazeta do Povo Online, o simpático ator de 70 anos fala sobre a peça, sua história no humor brasileiro, conta algumas curiosidades de sua carreira, e faz ponderações a respeito das novas práticas de humor que tem surgido nos últimos anos no Brasil, como o Stand Up Comedy.

"Não existe um humor do passado. O que existe são novas formas de se fazer humor. Cada um se adapta a sua época. Mas este estilo atual não faz muito a minha cabeça. Antigamente fazíamos humor com comediantes de verdade", disse.

"Gosto daquele humor em que você senta com sua família na sala, no teatro, no circo, ou em qualquer outro lugar, e não é agredido moralmente. Eu não acho engraçado partir para a baixaria para fazer humor", completou.

Confira a entrevista:

Como surgiu o convite para participar da peça "Advocacia Segundo os Irmãos Marx"?

O convite partiu do Bernardo Jablonski, que é o autor e diretor da peça. Foi feita uma pesquisa para escolher quem seriam os representantes de cada uma das três gerações que fariam parte do espetáculo, e eu tive o privilégio de ser o escolhido para representar a minha geração. Fui convidado para fazer a leitura de um texto. Lá, conheci o elenco e o próprio Bernardo, com quem ainda não tinha conversado pessoalmente. Quando li o texto, me apaixonei pela peça. Foi por isso que aceitei o convite, e é por isso que eu estou dividindo o palco com esta "garotada".

Como é trabalhar com esta nova geração de atores comediantes?

É muito divertido. Eles estão vivendo a fase deles, em que tudo é festa. Já passei por isso. Certamente, eles têm um futuro brilhante, não só nos palcos de teatro, mas também na televisão.

O senhor já conhecia o trabalho dos Irmãos Marx antes de ser convidado para fazer peça?

Claro. Eles são gênios, fizeram escola. Foram referências para muita gente na época em que surgiram. São até hoje. O Bernardo foi muito feliz ao escrever a peça, usando um tema que é a advocacia, brincando sob o ponto de vista deles.

Como o senhor, que é um dos representantes da velha geração do humor, vê estas novas tendências humorísticas como o Stand Up Comedy, que vem se popularizando no País? Você gosta?

Não existe um humor do passado. O que existe são novas formas de se fazer humor. Cada um se adapta a sua época. Mas este estilo atual não faz muito a minha cabeça. Antigamente fazíamos humor com comediantes de verdade. Hoje dia... Eu não sei. Tem espaço para todos e público para todos. Mas particularmente eu não aprecio. Gosto daquele humor em que você senta com sua família na sala, no teatro, no circo, ou em qualquer outro lugar, e não é agredido moralmente. É esta forma de humor que eu aprecio e pratico. Mas não tenho nada contra quem gosta destas práticas novas, não crítico ninguém.

Qual é o humorista da atual geração que o senhor mais admira?

Eu destacaria o Tom Cavalcante. Ele tem um futuro brilhante, mesmo diante do sucesso que já tem. Ele é muito bom.

O senhor tem saudade de trabalhar com humoristas como Tião Macalé (Augusto Temístocles Silva), Zacarias (Mauro Faccio Gonçalves) e Mussum (Antônio Carlos Bernardes Gomes)?

Eu não sou um cara muito chegado a sentir saudades. Acho que ela martiriza a gente. Mas sinto muitas saudades não só deles, mas de toda uma equipe que dificilmente será substituída. "Os Trapalhões" é um exemplo. Quando a gente surgiu na década de 60, na antiga TV Excelsior, cada um da equipe tinha uma missão dentro do espetáculo, e ninguém tentava superar o outro. Cada um dava o seu melhor para que o outro se saísse melhor ainda. E todos tinham um talento fora de série. Se eu for citar todos os grandes nomes do humor que já se foram, e que fazem muita falta, eu passaria o dia inteiro aqui. Hoje em dia têm muitas coisas que são feitas em nome do humor que eu não concordo.

Por exemplo?

Não cito nomes. Mas estão aí, para quem quiser ver. Eu prefiro o trabalho de arte. É por isso que estão por aí o Aragão (Renato Aragão), o Dedé (Manfried Sant'Anna), e eu mesmo. Estamos resistindo a tudo, e sendo líderes de ibope no domingo com o nosso tipo de humor, que ao contrário do que muita gente diz, não é para a criança, e sim para a família. Humor não tem idade. Eu, por exemplo, sou uma criança de 70 anos. A gente já fez coisas que dificilmente alguém vai conseguir superar hoje em dia. Fizemos shows na Broadway, fomos líderes de audiência em Portugal por cinco anos, nos apresentamos na África... É uma escola muito grande. Nunca fizemos nenhum tipo de baixaria para conquistar o público e nem estivemos envolvidos em escândalos. Hoje em dia, as pessoas têm que fazer escândalo para aparecer na mídia. A diferença é muito grande. Eu não acho engraçado partir para a baixaria para fazer humor.

Em sua opinião, qual foi o maior humorista com que já teve a oportunidade de trabalhar? Dá para dizer que foi melhor?

Não, pois eram estilos diferentes. Cada um é grande na sua linha de trabalho. É difícil você exaltar apenas um nome.

Como o senhor conheceu o Renato Aragão?

A gente se conheceu nos anos 60, na TV Excelsior. Eu e o Dedé já trabalhávamos juntos na TV Rio. Naquela época o Wilton Franco (famoso produtor da TV brasileira) juntou algumas pessoas como eu, o Dedé e o Renato, que fazia um programa na TV Tupi, e criou o programa "Adoráveis Trapalhões". Nós três fazíamos a parte Cômica do programa que tinha como grandes estrelas na época o Ted Boy Marino e o Wanderley Cardoso. Anos mais tarde a gente chamou o Mussum e o Zacarias e formamos "Os Trapalhões", que é este grupo que fez o sucesso imenso que todos conhecem. A gente fez 5860 shows em todo o país. Uma média de seis a oito apresentações por fim de semana. E lembrar disso, nos dá uma saudade enorme. Mas a gente está aí, continua firme, mesmo sendo praticamente os últimos desta geração.

O senhor se considera uma espécie em extinção no humor brasileiro?

Acho que não. Esta é uma geração que realmente está acabando, mas certamente existirão pessoas que vão pegar esta fórmula e darão continuidade. Não vai acabar na gente, de jeito nenhum. O que é bom fica.

Como é trabalhar no programa "A Turma do Didi"?

(Risos) É uma turminha de moleques. Não existe criança que faça mais molecagem do que a gente quando estamos juntos. Às vezes, você está gravando, e o Aragão vem com uma coisa que não tem nada a ver te fazendo rir. A gente trabalha com prazer e alegria, e tentamos transmitir isto para o público. Esse é o segredo do nosso sucesso. Juntamos o nosso modesto talento e fazemos a nossa parte. É uma festa muito grande.

Qual a importância do retorno recente do Dedé Santana para o programa?

O Dedé foi tirar umas férias. Muito embora tivessem surgido fofocas por aí especulando os motivos da saída dele, nunca teve nada de errado não. Ele quis lidar com outros projetos por um tempo e este é um direito profissional dele. Agora, ele finalmente voltou a integrar a nossa corrente. A gente começou juntos, e se Deus quiser, vamos terminar juntos, Aragão, eu e Dedé. A gente tem um trato que ainda vamos fazer shows em Marte, na Lua, e se Deus quiser, faremos também um churrasquinho no Sol.

O senhor é bastante conhecido por seu personagem Sargento Pincel, que interpretou nos "Trapalhões" e ainda interpreta na "Turma do Didi". Você esperava por tamanho sucesso quando criou o personagem?

É o meu filho. O Pincel é considerado o vilão mais querido do Brasil. Isso acontece porque apesar de ser vilão, ele é engraçado. As pessoas gostam de ver o fraco levar vantagem sobre o forte. Ele tenta ser sério, mas cai sempre no ridículo, e é isso que o público gosta de ver. Inclusive, minha cabeça foi raspada por causa do Pincel. Isto aconteceu em cena, durante uma gravação dos Trapalhões. Depois disso, eu nunca mais pude deixar o cabelo crescer. Ninguém imaginava que ia ser o sucesso que foi, nem eu. Mas fico muito feliz com tudo o que o personagem alcançou. Eu até perdi meu nome. Se você me chamar de Roberto Guilherme, ninguém vai reconhecer. Mas se você falar que é o Pincel, todo mundo sabe que é.

Quais são as semelhanças que o Roberto Guilherme tem com o Sargento Pincel?

Eu tenho a experiência do militarismo. Fui sargento pára-quedista do exército. Chego a dizer que o Brasil perdeu um militar relativamente bom. Cheguei até a representar o país em algumas competições. Eu acabei levando o conhecimento que eu tinha de quartel para a televisão, juntando ele com texto do personagem. Uma curiosidade é que quando eu estava no exército, eu jogava no time de futebol do Vasco, e cheguei a participar da seleção brasileira das forças armadas. Na época, a gente ia participar de um campeonato sul-americano de seleções de exércitos, e um dos jogadores do nosso time era o Pelé, que tinha recém voltado da Copa do Mundo. Eu tive que mudar de posição, ir jogar na ponta, pois a meia pertencia a um camisa 10 chamado Pelé (Risos). E quando me perguntam sobre isso eu digo que não fui eu que joguei com o Pelé. Foi ele que jogou comigo (Risos).

O senhor já participou de muitos filmes ao longo de sua carreira. Como é fazer cinema?

É muito parado. É tudo take por take. Chega a ser cansativo. Cada cena que você grava tem que posicionar a câmera de um jeito, regravar, fazer de novo. É muito frio.

Quais são os seus futuros projetos na área artística?

O meu projeto atual - que é o mesmo que eu sempre tive e que vou dar continuidade assim que a peça acabar - é viajar o País fazendo circo. Adoro fazer isso, quem mais se diverte nos espetáculos sou eu. Também penso em escrever uma peça e viajar pelo país.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]