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"O humor é a linguagem dos deuses." A frase é repetida, quase como um mantra, pelo ator Hélio Barbosa. Aos 44 anos de idade e 25 de profissão, ele decidiu dar rumo novo a sua vida. E o caminho escolhido foi o da platéia sorridente. Em duas décadas e meia de trabalho, passou por diversos estilos. Dos admirados dramas de Ademar Guerra aos espetáculos infantis que lhe renderam por quatro vezes o Troféu Gralha Azul, o mais desejado pelos atores do estado. Mas optou mesmo pela boa e velha comédia.

Para comemorar os 25 anos de sua primeira cena, Barbosa escreveu a peça Flash Bang. A estréia do espetáculo, no Festival de Teatro de Curitiba, marcou a volta do ator a um palco tradicional depois de mais de um ano de afastamento. "Em 2005, não participei de nenhuma peça convencional", comenta ele. Ao invés disso, preferiu os holofotes do Era Só o que Faltava, onde atua como um dos integrantes da trupe de comediantes stand-up comandada por Diogo Portugal.

O gosto pela comédia americana, em que só um ator fica por vez no palco e tem de entreter o público com um humor aguçado, vem de longa data. Aliás, Barbosa é um fã do humor norte-americano, de Woody Allen a Mel Brooks, de Jerry Lewis a Jerry Seinfeld. E agora está podendo usar seu talento no palco do Era Só... . Com uma vantagem. "Dá para ganhar em um dia de apresentação o piso que o ator recebe para fazer uma peça por um mês", comenta.

Isso não quer dizer que Barbosa vá deixar de lado a carreira teatral. Pelo contrário: a nova peça que está em cartaz no Odelair Rodrigues é uma tentativa de unir as duas pontas de seu trabalho. "O bacana é que agora achei uma fórmula de ser alvo de preconceito dos dois lados", brinca ele. "Para o pessoal do show, sou um ator. Para os atores, sou o cara que passou para o lado do show", comenta. Na peça, Barbosa faz alguns personagens inventados por ele. Mas, na maior parte do tempo, interpreta a si mesmo, num tom que tem muito de autobiografia e mais ainda de humor.

Biografia

Hélio Barbosa é praticamente um autodidata. Aprendeu fazendo teatro na prática, atuando em estilo circense, percorrendo o interior, fazendo peças da maneira que podia. "Só fui participar de uma oficina quando já tinha uns 15 anos de carreira", conta. A grande mudança na carreira veio quando ele teve a chance de trabalhar com Ademar Guerra, o mítico diretor que causou uma pequena revolução no teatro paranaense com suas montagens nos anos 80 e 90.

A primeira parceria veio em 1989 com Noite na Taverna, que lhe rendeu o primeiro Gralha Azul, como ator revelação. Depois, em 1990, a montagem que abriria a série de espetáculos baseados na obra de Dalton Trevisan, Mistérios de Curitiba. "O Ademar não tinha o menor problema de passar um mês estudando o texto com os atores. Ele não ditava uma inflexão. Ficava esperando que nós mesmos descobríssemos como aquilo poderia ser dito", lembra, afirmando que o método de direção de atores funciona como nenhum outro. "O Ademar me dirigiu para a vida toda", completa.

No teatro infantil, vieram outros quatro prêmios. O último, em 2003, por Circo com Ciência, que Barbosa classifica como "o segredo mais bem guardado do teatro paranaense". Depois de oito meses de ensaio no antigo Parque da Ciência, a mudança de governo do estado fez com que a temporada fosse cancelada depois de apenas 16 sessões.

Barbosa conta que, curiosamente, outro grande marco de sua carreira veio em 1998, com um quase-calote aplicado nele e em outros atores. O projeto de uma peça foi aprovado e o elenco trabalhou todo o tempo necessário. Até descobrir que ninguém tinha reservado verba para pagar o seu trabalho. "Eles pegaram dinheiro da Lei de Incentivo e esqueceram de prever o salário dos atores", diz. Segundo ele, um amigo define bem a situação ao dizer que há gente para quem o único problema da Lei de Incentivo é exigir que o espetáculo seja montado.

Barbosa recebeu o dinheiro dois anos depois, mas conta que a cobrança que fez lhe causou problemas e interrompeu sua participação em qualquer projeto do diretor, de quem ele não cita o nome. A lição saiu cara, mas foi aprendida. Hoje, o ator não tem qualquer problema em falar de dinheiro ao mesmo tempo em que fala de sua arte. "Não há motivo para vergonha", comenta ele. Assim como não há motivo para se envergonhar em fazer comédia ou teatro de entretenimento. Afinal, como ele repete sempre, o humor é a linguagem dos deuses.

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