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Espaço dedicado ao artista, fechado em 2010 no Jardim Botânico, está vazio e com problemas estruturais visíveis, como buracos no teto | Aniele Nasciment/Gazeta do Povo
Espaço dedicado ao artista, fechado em 2010 no Jardim Botânico, está vazio e com problemas estruturais visíveis, como buracos no teto| Foto: Aniele Nasciment/Gazeta do Povo

Em Socorro Nobre, curta-metragem de Walter Salles, um dos artistas brasileiros de maior reconhecimento internacional, o polonês naturalizado brasileiro Frans Krajcberg se define como um homem revoltado. É fato: por meio de suas obras, retratou a destruição das matas no Paraná e no Brasil. Sobrevivente do Holocausto – toda a sua família morreu em um campo de concentração – veio ao Brasil sem acreditar na vida, mas aqui abraçou causas, principalmente ambientais.

Aos 92 anos, a tranquilidade ainda não chegou para o senhor franzino que desde a década de 1970, depois de viver um período no estado, se refugiou no Sítio Natura, em Nova Viçosa, sul da Bahia. O espaço dedicado ao artista em Curitiba (criado em 2003), no Jardim Botânico, ponto turístico mais visitado da capital, encontra-se fechado desde 2010. Quatro anos antes, Krajcberg já reclamava da má conservação das obras que doou, em 2005, para a Fundação Cultural de Curitiba (FCC) – um conjunto de 110 esculturas feitas com restos de madeira de florestas brasileiras incendiadas.

O imbróglio jurídico entre o artista e a FCC persiste e piorou em 2010, quando o grupo O Boticário assumiu a administração da área onde ainda hoje está o espaço, e as obras foram retiradas. O artista acionou a Justiça, levou as esculturas – segundo ele, várias delas quebradas – para Nova Viçosa e tenta anular a doação de que Curitiba não abre mão. Segundo a diretora de Patrimônio Cultural Marili Azim, a decisão judicial diz que a doação é "inquestionável" e que as obras são do município. No entanto, o advogado do artista, Roberto Ferraz, ressalta que ele tem direito de invalidar a doação. "A juíza que sentenciou diz que a Fundação Cultural e prefeitura são entidades diferentes, e que o fato de a prefeitura não ter reformado o local não é motivo para anular a doação. Argumento que certamente conseguiremos derrubar."

O espaço Frans Krajcberg já tinha problemas de estrutura e hoje está abandonado, vazio e com grandes buracos no teto. Por conta do estado das obras há necessidade de restauro das esculturas. Em 2007, um diagnóstico do acervo foi feito pelo Centro de Conservação e Restauração da Universidade Federal de Minas Gerais (Cecor), que ficaria responsável pelo trabalho, condição negada por Krajcberg, já que, como autor, ele pode fazer a alteração ou escolher quem faça. Na época, a FCC arcaria com o valor para o Cecor. Hoje, a decisão judicial mais recente diz que o artista deve reparar as obras sem ser pago por isso, e que elas deveriam retornar ainda este ano. Entretanto, Krajcberg notificou a prefeitura a destinar R$ 20 milhões para o conserto – o acervo é avaliado em aproximadamente R$ 30 milhões, e grande parte das esculturas terão de praticamente ser refeitas. "Veio tudo quebrado, uma delas, de pedra. Onde vou achar a mesma pedra de novo? É uma humilhação o que fizeram comigo", disse o artista em entrevista por telefone à Gazeta do Povo. Na época, ele fez a doação convicto. "Disseram que iam fazer tudo para chamar Curitiba de ecológica. Tudo mentira. Não posso acreditar no que aconteceu com meus trabalhos. Assim que a doação for anulada vou começar a arrumar e vão ficar comigo. Daqui não sai para Curitiba nem poeira."

O acervo valioso estava na cidade desde 1995, ano em que foi realizada a exposição A Revolta. Organizador da mostra na época, o fotógrafo Orlando Azevedo relembra que, em um ano, mais de 1 milhão de pessoas passaram pelo espaço. "Foi uma grande celebração a um artista maior, aplaudido internacionalmente. E aqui [Curitiba] foi isso o que aconteceu. Esculturas estavam suspensas com fio de nylon. Um descalabro."

Tentativas

Segundo Marili Azim, conversas com o artista foram realizadas para prezar pelas obras, mas ou não terminavam ou não eram autorizadas. "Qualquer atividade deve ser de conhecimento do artista, mas ele negou algumas propostas." O advogado de Krajcberg explica que, de fato, qualquer alteração na obra ou projeto expográfico é de autorização do autor, mas que o espaço físico poderia, sim, ser arrumado. De acordo com Marili, a fundação aguarda uma "sinalização de retorno das obras" para que readequações, já planejadas, sejam realizadas, o que deve ocorrer "de forma relativamente rápida." Mesmo que a Justiça decida pelo retorno, Krajcberg notificou que fica proibida a exposição pública em caráter permanente, informou o advogado Roberto Ferraz. "Mesmo que voltem, as esculturas ficarão em um barracão fechado, e Curitiba vai ganhar o título de destruidora da obra de Frans Krajcberg."

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