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Por Que Ler os Clássicos? Italo Calvino, um dos maiores escritores do século 20, publicou um livro com esse título só para explicar os motivos que todo leitor tem, ainda hoje, para gastar seu tempo com Homero ou Balzac. Listou dezenas de razões. Ninguém até hoje escreveu um livro chamado Por Que Ler os Best Sellers. Nem haveria por quê. Na verdade, não há qualquer razão para ler esse tipo de livro. Exceto uma única: pode ser muito divertido.

Ponto de Impacto (Sextante, 448 págs., R$39,90), de Dan Brown, é prova disso. A obra, escrita pelo norte-americano exatamente antes de seu sucesso mais atordoante, o Código da Vinci, está chegando neste mês às livrarias do Brasil. Não ensina nada – a não ser por alguma cultura de almanaque e por mostrar novidades científicas que dificilmente terão uso prático em nossas vidas. Não explica muita coisa sobre o mundo. Não traz novidades para a História da Literatura. Mas é de se duvidar que haja muita gente capaz de parar de ler depois que começou.

A trama é altamente inverossímil? Sim, e isso parece ser um pré-requisito para o gênero. A história, basicamente, é a de uma descoberta da NASA. Um meteorito é encontrado enterrado em uma plataforma de gelo, próximo ao Pólo Norte. Fósseis de insetos são nele descobertos . E, com isso, a rocha seria a prova mais incrível de vida extraterrestre já vista. Por uma grande coincidência, o achado se dá justamente quando o presidente dos Estados Unidos, candidatando-se à reeleição, tem de explicar ao povo os gastos extraordinários do governo com pesquisa espacial.

Quatro cientistas civis são chamados para avaliar a descoberta. Um deles é Michael Tolland, o mocinho da história. A heroína é Rachel Sexton, filha do adversário do presidente e que se põe acima da disputa política para resolver o problema. Assim como no Código da Vinci, os personagens principais são seres quase sem defeitos. Rachel é estonteanteamente bonita, incorruptível e inteligente. Michael é um galã com cérebro igualmente privilegiado. Quem adivinhar que eles vão se apaixonar ganha um doce.

E os vilões – esses são realmente cruéis. Assim que o casal 20 começa a descobrir que há uma conspiração por trás da descoberta, gente com armas nunca antes vistas aparece em helicópteros de guerra, esquis futurísticos e aviões capazes de andar a seis vezes a velocidade do som. Tudo para assassiná-los antes que eles possam contar ao mundo a verdade sobre o meteorito. Eles vão conseguir sobreviver? Ora, você já sabe a resposta.

Ponto de Impacto, traduzido em Portugal como A Conspiração, era o último de Dan Brown ainda inédito no Brasil. Desde o Código, a Sextante já publicou os dois outros romances do autor, Fortaleza Digital e Anjos e Demônios. Segue a mesma fórmula dos demais. Capítulos muito curtos, um crime logo no prólogo, uma dupla capaz de qualquer coisa pelo bem do mundo. Os temas também são semelhantes. Há alta tecnologia para dar e vender – afinal, o livro é sobre a NASA. E há uma grande verdade que o distinto público gostaria de saber, mas que é barrada por autoridades.

Apesar de ser previsível – desde o começo todo mundo sabe quem é que deve se dar bem no fim da história – o livro é difícil de resistir. A cada página, há uma novidade. As viradas na trama não acabam nunca. E as cenas de ação – mesmo as mais improváveis – mantêm o leitor no mínimo atento. Em alguns casos, a trama esbarra no absurdo. Como quando Rachel consegue atrair um submarino para salvá-la de morte certa em um iceberg. Como ela faz isso? Batendo S.O.S. no gelo ao seu redor, com uma picareta. O submarino recebe a mensagem, emerge e salva a mocinha. Para quem gosta, é o famoso prato cheio.

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