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O britânico Colin Firth recebeu a Copa Volpi de melhor ator pelo filme 
A Single Man, de Tom Ford | Foto: Filippo Monteforte/ AFP
O britânico Colin Firth recebeu a Copa Volpi de melhor ator pelo filme A Single Man, de Tom Ford| Foto: Foto: Filippo Monteforte/ AFP
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Veneza - O festival foi o mais polêmico dos últimos anos. Com a passagem apoteótica de Hugo Chávez pelo tapete vermelho, a diatribe anticapitalista de Michael Mo­­ore, a briga entre a direita que financia e a esquerda que faz os filmes (a propósito do italiano O Grande Sonho, de Michele Pla­­ci­­do), não houve espaço para tédio no Lido. Por ironia, a premiação foi tranquila – ou quase. Todos esperavam que o israelense Lebanon (Líbano), de Samuel Maoz, levasse o Leão de Ouro, como de fato aconteceu. Ninguém reclamou de injustiça quanto ao prêmio principal. Ninguém, à exceção de uma jornalista libanesa que, ao final da entrevista coletiva após a premiação, acusou o filme de "propaganda pró-Israel ao ver apenas um lado da questão". Foi seguida por uma egípcia que também colocou em dúvida a maneira como Maoz havia representado a guerra no Oriente Médio.

O diretor defendeu-se: "Pro­­curei mostrar o meu ponto de vista, o único que eu conhecia naquela circunstância." O filme, forte em sua economia narrativa, é encenado no interior de um tanque de guerra que leva quatro jovens israelenses ao território libanês. O que vemos "de fora" é através da câ­­mera que guia o tanque e dos ruídos que chegam ao interior do veículo. Em determinado momento, um prisioneiro palestino é introduzido no tanque. Há um diálogo devastador entre ele e um membro da milícia libanesa cristã, aliada dos israelenses. A polêmica remete ao massacre de Sabra e Shatila, responsabilidade dessas milícias cristãs, e tema do badalado e também contestado Valsa para Bashir.

Líbano é mais um filme destinado à controvérsia, pois mete a colher no campo minado das posições inconciliáveis, das guerras sem solução à vista. Mais ainda porque Maoz, que com ele estreia na direção, é um ex-soldado. Combateu na primeira guerra do Líbano e agora, no cinema, procura exorcizar lembranças traumáticas. "Quis fazer o espectador experimentar a sensação de pânico que se tem numa situação como essa; revelar o real bruto da guerra, limpo dos clichês com que costuma retratá-la quem não a conhece", disse.

Já Leão de Prata, para melhor direção, ficou com a iraniana Shirin Neshat, de Zanan Bedoone Mardan (Mulheres sem Homens). A história recua aos anos 50 para mostrar que a opressão à mulher iraniana vem dos tempos do Xá, avança pela revolução islâmica de Khomeini e não conhece progressos na era Ahmadinejad. Não deixa de ser curioso que os dois principais prêmios de Veneza 2009 tenham ido para diretores estreantes.

As Copas Volpi de interpretação foram para o britânico Colin Firth (A Single Man) e para a russa naturalizada italiana Ksenia Rappoport (La Doppia Ora).

Já o Prêmio Especial do Júri ficou para um profissional, o alemão de origem turca Fatih Akim, que trouxe ao Lido seu divertido Soul Kitchen, história de um rapaz de família grega que mantém um restaurante charmoso e precisa conservá-lo diante de muitas dificuldades. "As comédias são mais difíceis de fazer do que os dramas", disse Akin após a premiação. Difícil, mas saiu-se bem. Soul Kitchen faz rir e, ao mesmo tempo, lança olhar humanista sobre uma Alemanha multiétnica e multicultural.

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