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Integrante da equipe que realiza o processo de digitalização do acervo de José Mindlin, com um scaner digital Kirtas Apt 2.400 RA, na biblioteca da casa do bibliófilo | Lucia Loeb/Divulgação
Integrante da equipe que realiza o processo de digitalização do acervo de José Mindlin, com um scaner digital Kirtas Apt 2.400 RA, na biblioteca da casa do bibliófilo| Foto: Lucia Loeb/Divulgação

Herança incomum

Saiba mais sobre a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin

O que é?

A Brasiliana reunida por José Mindlin foi doada em maio de 2006 para a USP, que criou a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM), ligada a Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária. O acervo possui cerca de 17 mil títulos, cerca de 40 mil volumes, uma vez que só a História da Inteligência Brasileira, de Wilson Martins, tem sete volumes. De maneira geral, a coleção inclui obras de literatura, relatos de viajantes, manuscritos históricos e literários, originais e provas tipográficas, periódicos, livros científicos etc. Guita, a esposa de José Mindlin, morreu dia 2 de agosto de 2006, três meses após o bibliófilo oficializar a doação do acervo à USP.

Estrutura física

Para abrigar a biblioteca, um prédio de 20 mil metros quadrados está em construção na Cidade Universitária, na zona oeste da capital paulistana. O projeto acadêmico da Brasiliana USP será a base da Brasiliana Digital, que é oferta digital do acervo Mindlin e de outros acervos: da USP, do Centro Guita Mindlin, do Centro de Conservação e Restauro do Livro e do Papel, do Centro de Estudos do Livro, que será dedicado à história e estudo da imprensa, do livro e das práticas da leitura.

  • José Mindlin: tesouro

Daqui a um ano, os 17 mil títulos de obras relativas ao Brasil, do acervo de José Mindlin, devem estar disponíveis ao público em um prédio de três andares da Universidade de São Paulo (USP). O anúncio foi feito pelo reitor da instituição, João Grandino Rodas, durante o velório de Mindlin, que morreu no último domingo, 28 de fevereiro.

Os outros 21 mil livros, que incluem obras raras, em diversos gêneros e idiomas, ficam com a família, que ainda não se pronunciou oficialmente a respeito do assunto.

Todos os 38 mil títulos de Mindlin estão em sua biblioteca particular, separada por um jardim de sua residência, situada no bairro do Brooklin, em São Paulo. São dois andares, um deles subterrâneo. Lá, três profissionais administram o acervo. Outras quatro pessoas trabalham no processo de digitalização da Biblioteca Brasiliana.

O professor de História da USP e diretor da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, Pedro Puntoni, conta que, por exemplo, toda a obra de Joaquim Nabuco, presente no acervo, já foi digitalizada. Daqui a cinco anos, todos os 17 mil títulos que compõem a Biblioteca Brasiliana estarão disponíveis em formato digital. Para isso, além de quatro profissionais, há um robô (um scaner digital) que consegue scanear 2,4 mil páginas por hora.

Puntoni conheceu Mindlin na década de 1990. Ele era mestrando em História e procurava exemplares da Revista do Instituto Arque­­o­lógico, Histórico e Geo­­gráfico Pernambucano. O então estudante não encontrou o periódico em qualquer biblioteca paulistana. Soube que José Mindlin tinha aquela raridade. Puntoni telefonou para o bibliofólio, e recebeu não apenas um alô, mas o convite para conhecer a famosa biblioteca.

Lá, ficou conhecendo o acervo e, principalmente, Mindlin.

O acervo do colecionador, doado oficialmente para a USP em 2006, tem muitos destaques, que Puntoni teve o privilégio de ver, como as primeiras edições de toda a obra de Machado de Assis. Mas há muitos outros destaques, por exemplo, os datiloscritos (originais datilografados) de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, e Vidas Secas, de Graciliano Ramos. "Pesquisadores poderão ver quais foram as correções e ajustes que esses autores fizeram em seus projetos literários. Será possível comparar o que foi escrito, o que foi suprimido e como ficou a versão final. Portanto, são documentos primorosos e fundamentais para estudos literários", diz.

Mas nem só de livros é feita a Brasiliana. Há documentos e mapas, como o esboço do Mapa das Cortes, de 1749, que conduziu à assinatura do Tratado de Madri, em 1750, e substituiu o Tratado de Tordesilhas e a divisão das colônias portuguesas e espanholas no Novo Mundo – material revelante para entender a geopolítica do século 18.

Especialista em História do Século 17, Puntoni também pesquisou na biblioteca de Mindlin a iconografia para a coleção História da Vida Privada, projeto da Companhia das Letras, no qual ele esteve envolvido. Entre uma e outra consulta, Puntoni se tornou amigo de Mindlin. Eles almoçavam juntos todos as quintas-feiras. "Mindlin fazia questão que eu conhece o maior número de obras possível, e não apenas o que dizia respeito a minha área de interesse direto", conta.

A historiadora Rosana Gon­­çal­­ves passa cinco horas por dia na biblioteca de Mindlin. Ela trabalha lá há 11 anos. Nos últimos tempos, ela e os outros dois outros profissionais liam, diariamente, jornais e livros para Mindlin. "Ele era interessado e interessante. Sempre generoso, gostava de adquirir obras, mas sempre queria dividir, compartilhar o conhecimento", diz Rosana.

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