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Trabalhos do artista usam madeira, cupins e jornal como matéria-prima | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Trabalhos do artista usam madeira, cupins e jornal como matéria-prima| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Exposições

Confira informações desta e de outras mostras no Guia da Gazeta do Povo.

  • Os parafusos e pregos, considerados plasticamente bonitos por Arney, integram alguns quadros

O artista visual Antonio Arney se irrita com sua falha de memória ao relatar o seu trajeto – 88 anos de vida e mais de 50 de arte. Precursor de um método de vanguarda no Paraná, suas telas, ao contrário das de outros artistas paranaenses, usam a madeira. Seu pincel é a chave de fenda, o martelo e o serrote. E os relevos nas obras não são fruto só das mãos de Arney, mas também uma "ajuda" que os cupins, que corroem partes do material, lhe dão. Uma mostra individual com 59 obras de diversas fases de sua carreira estará exposta a partir de hoje, às 19h30, no Museu Guido Viaro (veja o serviço completo no Guia Gazeta do Povo).

"Os cupins fizeram a melhor parte do meu trabalho", brinca Arney. "Mas tem que olhar de perto o meu trabalho, para conseguir ver direito!", ordena. Nos quadros, é possível observar todos os detalhes da madeira corroída, que, somada a outros elementos, formam trabalhos únicos. "Ele se jogou numa proposta nova, não convencional", diz Constantino Viaro, criador do museu e idealizador da mostra.

Natural de Piraquara, Antonio Arney conta que "sempre teve vocação" para pintar. O problema é que não tinha acesso aos materiais básicos como tinta, tela, pincéis e cavalete. Filho de marceneiro e caçula de dez irmãos, aprendeu com o pai, Joaquim, a lidar com a madeira desde menino – aos 12 anos, já ajudava o pai nas encomendas. Com pouco mais de 20, resolveu unir o prático ao artístico.

Aos poucos, a carreira deslanchou, mesmo que Arney diga que a maioria das pessoas enxerga sua arte como "nada de bonito, apenas madeira podre. Mas, olha, não é lindo?", questiona. Decidiu se mudar para Curitiba e conheceu várias pessoas do meio artístico, como os artistas Jair Mendes e Fernando Calderari. "E aí eu fiz diversas exposições, em vários lugares", conta Arney. A primeira foi em 1959, no Salão Paranaense de Belas Artes, mas a originalidade de seu trabalho chamou atenção da crítica do Rio de Janeiro e São Paulo. Esteve na mostra inaugural do Paço das Artes de São Paulo, em 1969, e, no mesmo ano, participou do 1º Panorama da Arte Brasileira, no Museu de Arte Moderna (MAM), também na capital paulista.

Dois anos depois, Arney ganhou uma sala individual na 11.ª Bienal de São Paulo, época que foi o auge de sua carreira. Seus trabalhos também foram mostrados em países como Estados Unidos, Suíça e Japão. Em Curitiba, participou de duas mostras em comemoração aos 20 e aos 30 anos da lendária Galeria Cocaco. A última vez que expôs foi há dois anos, na Lapa.

Mesmo nos bons tempos, ele nunca conseguiu viver somente do ofício artístico, e precisou conciliar a carreira com o trabalho administrativo. Aposentado, hoje ele pode se dedicar somente às suas madeiras e objetos em seu ateliê na Vila Izabel. "Eu sempre pintei, mas hoje, pela idade, não é sempre que consigo. Mas, ultimamente, ando bem disposto para criar", revela Arney.

Fases

Há dois períodos que marcam a carpintaria artística de Antonio Arney, e que se tornaram marcas de sua obra: o dos metais e o uso do jornal. A partir da década de 1960, ele passa a usar de forma recorrente objetos de metal nas telas, principalmente parafusos e pregos. "O parafuso tem a função de firmar, segurar. Mas, decidi aplicá-lo na minha pintura, porque acho plasticamente bonito", explica. Os pedaços de jornais e as palavras aparecem em outros trabalhos, que reaproveitam materiais diversos – as suas esculturas mais recentes que estão na exposição, por exemplo, são feitas com partes de madeira de desmanche, geralmente descartadas. "Fico encantado de ver isso na madeira, o que o tempo faz. É uma beleza!"

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